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NO PLANALTO
Ex-PT vai ao divã com Tereza Grossi
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Está cada vez mais claro:
o neo-PT é a consciência
ética que, chegando à meia-idade, concluiu que capitalismo selvagem é sinônimo de socialismo
hipócrita. Decidiu cair na vida.
Foi viver com o Sarney em Brasília.
O ex-PT atravessa um dilema
existencial. Seu ego à Antonio
Palocci, fino respeitador das
convenções, é cutucado pelo id à
Heloísa Helena, rude contestador das contradições.
Qual um Freud pós-moderno,
José Dirceu desbrava regiões
ocultas da mente petista em busca de uma utopia: o equilíbrio
psicanalítico capaz de impedir
que o lodo da incoerência continue escorrendo do inconsciente
partidário para a superfície política.
Mesmo o velho Sigmund suaria para explicar certas perversões. A sobrevivência de Tereza
Grossi na diretoria de Fiscalização do BC, por exemplo. Ela é
personagem do escândalo Marka, que custou à viúva R$ 1,574
bilhão. Na oposição, o PT cobrava o escalpo de Grossi. No governo, a mantém no cargo.
Lula deveria requisitar cópia
de dossiê da PF sobre o caso. Como o tempo do presidente é curto e o inquérito é longo -mais
de 10 mil páginas-, vai aqui
um "kit Grossi", modesto subsídio à formação do psiquismo petista.
1) o BC disse à PF que socorreu
Salvatore Cacciola, dono do
Marka, porque a BM&F (Bolsa
de Mercadorias & de Futuros)
enviou carta a Brasília alertando para o risco de "crise sistêmica", eufemismo para quebradeira de bancos. Lorota.
2) ouvida, a BM&F disse ter
redigido a carta em 15 de janeiro
de 99, um dia depois do socorro.
Encomendou-a a senhora Grossi. Era falso o apelo ao "risco sistêmico". A BM&F confessou-se
apta a liquidar os contratos que
o Marka deixaria de honrar;
3) o BC disse também à PF que
seu departamento jurídico referendara o refresco a Cacciola.
Conversa fiada. Intimados, advogados do BC acomodaram os
pingos nos is. Chamam-se Francisco José de Siqueira e Manoel
Lucívio de Loiola;
4) foram chamados em casa,
por volta das 21h do dia 14 de janeiro de 99. Chegando ao BC,
entraram numa sala em que estavam, entre outros, Cacciola e
Grossi. Recomendaram não o
socorro, mas a liquidação extrajudicial do Marka e o bloqueio
dos bens de seus controladores;
5) a PF apurou que o Banco do
Brasil recebera, às 20h50 daquele fatídico 14 de janeiro, antes da
convocação dos advogados, ordem escrita do BC para que bancasse os compromissos do Marka na BM&F;
6) no ocaso do populismo cambial de FHC, Aloizio Mercadante mostrava-se convencido de
que vazamentos de dados do
Banco Central haviam patrocinado uma farra de grandes bancos. Entre eles o BankBoston de
Henrique Meireles;
7) em abruptas trocas de posição no mercado futuro de dólar,
a alta banca teria amealhado
lucros de R$ 10 bilhões, impondo
prejuízo de R$ 7 bilhões ao erário. O súbito silêncio de Mercadante é hoje mais ensurdecedor
que o barulho de Heloísa Helena.
8) sob aplausos do antigo PT, o
Ministério Público mandou à
Justiça ação em que Tereza
Grossi figura como ré. O veredicto deve sair nos próximos meses.
Diligente, José "Freud" Dirceu
decerto já prepara a defesa de
Tereza Grossi, para o caso de
eventual condenação. Soará inconvincente, mas propiciará ótima matéria-prima para psicanalistas.
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