|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DA IMPUNIDADE
Petista Professor Luizinho e pefelista
Roberto Brant tiveram cassação negada
Com eles, são quatro os deputados
envolvidos no escândalo inocentados
|
Câmara contraria conselho e absolve mais dois "mensaleiros"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num único dia, a Câmara arquivou dois processos de cassação de deputados envolvidos no
"mensalão": um expoente da tropa de choque do governo, Professor Luizinho (PT-SP), e um destacado integrante da oposição, Roberto Brant (PFL-MG).
Com isso, dobrou o número de
parlamentares absolvidos, evidenciando um acerto tácito entre
governo e oposição que poderá
comprometer futuros processos.
As duas votações de ontem contrariam a recomendação do Conselho de Ética, que tinha pareceres
pela cassação. O mesmo havia
acontecido na absolvição de Romeu Queiroz (PTB-MG). Além
deles, escapou o líder do PL, Sandro Mabel (GO), esse seguindo recomendação do conselho.
Quatro parlamentares renunciaram para fugir da cassação
-Valdemar Costa Neto (PL-SP),
Carlos Rodrigues (PL-RJ), Paulo
Rocha (PT-PA) e José Borba
(PMDB-PR)- e apenas os dois
maiores protagonistas do escândalo, Roberto Jefferson (PTB-RJ)
e José Dirceu (PT-SP), perderam
o mandato até agora. Ainda há oito deputados na fila.
Embora rechaçassem a existência de "acordão", deputados governistas e de oposição admitiram confluência de interesses. "O
processo de Brant, assim como o
de Luizinho, é emblemático por
não haver envolvimento direto
com o esquema de Marcos Valério. Por isso não merece a cassação", disse Marco Maia (PT-RS).
Foram apenas 156 deputados favoráveis à cassação do pefelista, a
primeira a ir a voto. Faltaram 101
votos para atingir o número mínimo de 257 votos. Contra a cassação votaram 283 deputados.
Em troca, petistas diziam que ao
menos 25 deputados pefelistas
apoiariam Luizinho, ex-líder do
governo na Câmara. "Não chega a
ser um acordo, mas espera-se
uma reciprocidade", disse Devanir Ribeiro (PT-SP).
Brant confessou ter recebido R$
102 mil de caixa dois para sua
campanha à Prefeitura de Belo
Horizonte em 2004. O pefelista
avaliou que seu caso era um delito
menor. "Não se pode confundir
decoro parlamentar com infração
eleitoral", afirmou.
O argumento teve ampla ressonância entre partidos governistas
e da oposição. "Caixa dois é crime
eleitoral, punível com multa pela
Justiça, não com perda de mandato", disse o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).
O processo de Brant foi visto como "especial", por não seguir à
risca o padrão típico do "valerioduto": não houve saque na conta
do publicitário Marcos Valério de
Souza na agência do Banco Rural
de Brasília. No caso de Brant, a
SMPB, agência de Valério, teria sido intermediária de uma contribuição da siderúrgica Usiminas.
Integrantes da bancada calculavam que ao menos 50 dos 83 petistas votariam favoravelmente ao
pefelista -esperando apoio para
o caso de Luizinho.
Absolvido Brant, criou-se um
clima mais favorável para repetir
a dose com o petista. Muitos parlamentares disseram que seria
uma atitude esquizofrênica absolver um parlamentar e cassar o outro no mesmo dia.
PFL defende PT
A defesa do petista foi feita, entre outros, pelo pefelista Mussa
Demes (PI), que subiu à tribuna
para defender a inocência de Luizinho. "O deputado Luizinho é
totalmente inocente. Nunca votei
no PT, mas faço isso por dever de
consciência", afirmou.
Pelo PT, diversos membros da
bancada receberam a tarefa de
conversar com a oposição. Entre
eles, Fernando Ferro (PE), que
admitiu ter vivido uma situação
"curiosa". "Nunca escondi minhas diferenças com o PFL, nem
nunca neguei combater neste plenário. Mas pelo que conheço da
história do deputado Roberto
Brant, entendo que é injusto liquidá-lo publicamente por conta de
um único acontecimento."
Luizinho e o próprio Brant defenderam em suas bancadas uma
atitude recíproca. "Votei a favor
do Brant e estou repetindo para
mim", disse o petista. O pefelista
retribuiu a gentileza. "Estou rezando por ele [Luizinho]."
O ex-líder do governo foi envolvido no esquema por causa de
R$ 20 mil. Um assessor seu sacou
a quantia do "valerioduto" supostamente para pagar campanhas
de vereadores na Grande São Paulo. Em seu discurso, Luizinho recusou-se a reconhecer erros.
"Nunca, em momento algum,
menti ou faltei com a verdade".
Luizinho recebeu 253 votos favoráveis. Pela cassação manifestaram-se 183 deputados.
Os próximos processos a serem
julgados, na semana que vem, são
os dos pepistas Pedro Henry
(MT) e Pedro Corrêa (PE). "Não é
uma pizza apenas que está se
montando nesta Casa, mas um
verdadeiro rodízio: é uma pizza
atrás da outra", afirmou o deputado Babá (PSOL-PA).
(FÁBIO ZANINI, LUCIANA CONSTANTINO, CYNTHIA
GARDA E ADRIANO CEOLIN)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Pefelista festeja votação ao lado de irmão compositor Índice
|