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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Testemunha contradiz ministro e diz a CPI dos Bingos que ele freqüentou imóvel alugado pela "República de Ribeirão" em Brasília
Motorista envolve Palocci na "casa do lobby"
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O motorista Francisco Chagas
da Costa contradisse ontem, na
CPI dos Bingos, o depoimento
prestado aos senadores pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O motorista afirmou ter visto o
ministro "três vezes, mais ou menos" na casa alugada pelo economista Vladimir Poleto no Lago
Sul, em Brasília. A casa foi descrita
pelo advogado Rogério Buratti
como uma "central de lobby" para encontros de lobistas e empresários com negócios de interesse
no governo Lula.
"[O ministro] foi lá, ia lá. Mas
não em festa. Durante o dia, mas
sem festa. Não sei o que ia fazer.
Foi poucas vezes. (...) Umas três
vezes, mais ou menos. Eu o vi entrando na casa", disse Costa.
As visitas do ministro não constituem irregularidade, mas os senadores da oposição ficaram surpresos ao detectar mais uma contradição na versão apresentada
por Palocci no depoimento de janeiro. A Folha já revelou que era
falsa a explicação apresentada por
Palocci sobre o uso de avião de
um empresário no qual voou para
Ribeirão Preto, já no cargo de ministro. Na ocasião, o ministro havia dito que o PT "alugou" o
avião. Depois, em nota, admitiu
que cometeu uma "imprecisão
terminológica" em seu depoimento.
Em janeiro último, Palocci foi
indagado sobre a casa pelo relator
da comissão, Garibaldi Alves
(PMDB-RN): "Vossa Excelência
não esteve nenhuma vez na casa
que ele [Vladimir Poleto] alugou
no Lago Sul [em Brasília]?" Palocci foi definitivo: "Não, nenhuma
vez. Não estive nenhuma vez".
O motorista contou que Palocci,
nas vezes em que foi à casa, foi
transportado não em carro oficial
do Ministério da Fazenda, mas
num Peugeot prata pertencente a
Ralf Barquete, ex-assessor da presidência da Caixa Econômica Federal. Morto em 2004, Barquete
foi acusado no ano passado por
Buratti, ex-assessor de Palocci, de
receber da empreiteira Leão Leão
R$ 50 mil mensais para um caixa
dois do Diretório Nacional do PT.
Bingueiros
Em outro ponto considerado
pelos senadores como de interesse para a investigação, Costa revelou ter acompanhado dois empresários de jogos de Angola para um
encontro no Ministério da Fazenda com pessoa não identificada
junto com o empresário Roberto
Kurzweil, dono do carro em que
teriam sido transportados supostos dólares de Cuba para o PT.
Os empresários são José Paulo
Teixeira Figueiredo e Artur José
Valente Oliveira Caio. Segundo as
investigações da Polícia Federal,
que partem de informações dadas
por Buratti, os dois angolanos supostamente doaram R$ 1 milhão
para a campanha presidencial de
Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Buratti afirmou ao Ministério Público, no ano passado, que o dinheiro entrou no caixa dois da
campanha petista.
O motorista trabalhou entre
março de 2003 e fevereiro de 2004
no transporte, em Brasília, de Poleto, Buratti, Barquete e Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor
especial do ministro Palocci. Todos freqüentavam a casa alugada
por Poleto. O grupo comprou celulares em nome de Costa. Deixou-o ficar com um, do qual também pagavam a conta. Usavam o
aparelho eventualmente, para falar entre si e com terceiros.
Costa contou que, no período,
ouviu na casa diversas conversas
em que se atribuía o apelido de
"Chefão" a Antonio Palocci. "Eles
falavam "nós temos uma reunião
com o chefão, temos que falar
com o chefão tal hora'", afirmou.
Na casa também ocorriam festas com garotas contratadas pela
promotora de eventos Jeany Mary
Corner. Indagado se a conhecia,
Costa confirmou. "Essa era a mulher que arrumava as meninas para a casa. Fazia festas e levava para
a casa. Cheguei a vê-la duas vezes", contou o motorista, que negou a participação do ministro
Palocci nas festas.
Após o depoimento, o motorista foi abordado pelos senadores
Tião Viana (PT-AC) e Eduardo
Suplicy (PT-SP). Segundo disseram à imprensa, teriam perguntado se ele "realmente tinha certeza" de que o homem que vira entrando na casa era Palocci e prometeram ajudar Costa caso ele
precisasse de algo.
Desempregado, Costa contou a
assessores da CPI que decidiu "falar tudo" depois que percebeu
"que estava na pior", sem emprego e perdendo clientes por conta
da exposição na mídia.
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