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Diárias permitem que juiz de SP ganhe mais do que no STF
Pela lei, juízes e promotores recebem diária de R$ 401 ao trabalhar em outra cidade
Há casos de promotores que recebem a ajuda de custo por deslocamento mesmo quando atuam na cidade
em que têm residência
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pagamento de diárias a juízes e promotores do Estado de
São Paulo permite que eles praticamente dobrem o rendimento no final do mês e ganhem
mais do que um ministro do Supremo Tribunal Federal, a corte máxima do país.
Pela legislação estadual, todo
promotor ou juiz que for convocado a trabalhar em outra cidade, independentemente da
distância, tem direito a receber
diária de R$ 400,68 como ajuda
de custo por despesas decorrentes do deslocamento.
Isso faz com que um juiz estadual substituto, que tem o salário mensal (definido em lei)
de R$ 12 mil líquidos (R$ 18 mil
brutos), acumule outros R$ 12
mil em dinheiro quando convocado a trabalhar em outra cidade por 30 dias.
Um ministro do Supremo ganha R$ 16,3 mil líquidos -sem
contar benefícios pessoais.
Para o procurador-geral de
Justiça do Estado de São Paulo,
Rodrigo Pinho, trata-se de uma
distorção prevista em lei (leia
texto abaixo).
O pagamento de diárias é diferente para os dois órgãos. Enquanto um magistrado recebe
por todos os dias que passar fora de sua sede, inclusive sábados, domingos e feriados, o promotor titular tem um limite de
15 diárias por mês -pressupõe-se que ele dividirá o tempo entre as duas promotorias de cidades distintas.
Já o promotor substituto,
que é quem mais viaja no Ministério Público, recebe pelos
dias úteis trabalhados em outra
cidade, em média 22 dias.
Somente em janeiro, dos
quase 140 promotores substitutos, pelo menos 106 foram
designados para outras cidades. Todos receberam diárias.
Com um salário fixo de R$ 12
mil líquidos, o promotor substituto que trabalhar durante 30
dias fora da sede receberá um
acréscimo de R$ 8,8 mil, totalizando R$ 20,8 mil em dinheiro
no final do mês. É comum um
substituto ganhar mais do que
o promotor titular que ele irá
auxiliar, o que causa descontentamentos internos.
Sobre o valor da diária não
incide Imposto de Renda nem
desconto de previdência. Também não é preciso apresentar
notas fiscais para justificar os
valores gastos.
A reportagem apurou que o
pagamento da diária ocorre
mesmo quando o destino é a cidade vizinha, a menos de sete
quilômetros de distância. Há
ainda casos de promotores que
recebem a ajuda de custo por
deslocamento estando na cidade em que residem.
Casos
É o que acontece com Rodrigo Otávio Frank de Araújo e
Melissa Kovac, ambos promotores substitutos há seis e quatro anos, respectivamente. A
sede de trabalho dele é Batatais, cidade a 352 quilômetros
da capital. A dela é São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Os dois receberam diárias
mesmo quando foram designados a trabalhar o mês todo na
cidade de São Paulo.
A Folha telefonou para a casa de Araújo na cidade de São
Paulo. Uma mulher confirmou
ser a residência dele. Quanto a
Kovac, a reportagem apurou
que a promotora mora no bairro do Morumbi.
As designações para promotores substitutos ou titulares
trabalharem em outras cidades
não são restritas a um ou dois
meses. Ao contrário, muitas vezes acontecem há anos.
Segundo registros do "Diário
Oficial", os promotores José
Luiz Saikali e Marcelo Santos
Nunes, ambos titulares de Santo André (ABC paulista), são
designados praticamente todo
mês a acumular uma Promotoria nas cidades vizinhas.
Atualmente eles estão em
Diadema. Apesar de as duas cidades estarem a menos de 12
quilômetros de distância, segundo o DER (Departamento
de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo), ambos solicitam o pagamento de diárias.
Com um salário bruto de cerca de R$ 21 mil cada um, eles
ganham, no final do mês, mais
R$ 6 mil em dinheiro para ajuda de custo pelo deslocamento.
Num dos casos levantados
pela Folha, o deslocamento
que resultou no pagamento de
R$ 8,8 mil a uma promotora da
Justiça substituta de Itapecerica da Serra não passou de oito
quilômetros ou sete minutos
de carro, segundo o DER.
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