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SAÚDE
Desvio é de 3,4% do repasse, mas dado não abrange todas as fraudes
PAS gastou R$ 43,96 mi
ilegalmente, diz prefeitura
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
As cooperativas
do PAS (Plano de
Atendimento à
Saúde) gastaram irregularmente pelo
menos R$ 43,96 milhões do dinheiro público que receberam nos dois primeiros anos
de funcionamento do plano. O
montante equivale a 3,4% do total
repassado ao sistema no período
-R$ 1,3 bilhão, em valores atualizados pela Ufir (Unidade Fiscal
de Referência).
São pagamentos feitos por serviços não previstos em contratos
ou que ultrapassam os limites
contratuais. Desembolsos realizados sem fatura ou comprovante
de entrega do produto. Serviços
pagos duas vezes ou com juros
inexplicáveis (leia abaixo).
O dado consta de auditorias feitas pela própria Secretaria Municipal da Saúde (veja quadro). Eles
foram fechados na última semana
e encaminhados para a publicação no "Diário Oficial".
Essa é a primeira vez que a secretaria divulga cifras sobre irregularidades no PAS -plano que
foi criado pelo ex-prefeito Paulo
Maluf (PPB) e passou de bandeira
de campanha ao posto de principal alvo de denúncias na gestão de
seu afilhado Celso Pitta (PTN).
Os R$ 43,96 milhões são o que a
administração pública batiza de
glosas -dinheiro gasto em operações que a prefeitura conclui ter
desrespeitado os procedimentos
formais fixados para as compras e
que terão de ser devolvidos. Nesse
caso, porém, como a prefeitura
deve às cooperativas, o valor deve
ser deduzido da dívida.
Pela lei que criou o PAS, porém,
a prestação de contas das cooperativas deveria ser analisada no
mês seguinte aos gastos. Assim, as
glosas já deveriam ser descontadas do próximo repasse, ou seja,
dois meses depois da compra. Isso, no entanto, nunca ocorreu.
Hoje -com mais de três anos
de atraso- sabe-se que o dinheiro engolido pelas irregularidades
que deveriam ter sido identificadas imediatamente seria suficiente para a construção de 2.450
apartamentos do projeto Cingapura -25% do que já foi feito.
Também bastaria para a manutenção durante um ano inteiro do
antigo módulo 3 (Ipiranga/Sapopemba) do próprio PAS-o terceiro maior da rede, responsável
por 518 mil moradores da cidade.
O mais grave, no entanto, é que
o montante, apesar de elevado, é
apenas uma fração do que foi gasto irregularmente pelo plano.
A própria secretaria admite que
a natureza da auditoria feita nas
contas -uma checagem contábil-financeira que visa reaver gastos indevidos- impede que ela
chegue a alguns dos desvios.
Por um lado, já que checa unicamente se os procedimentos contábeis de compra -pedido, nota
fiscal, recebimento etc.- estão
dentro dos padrões previsto pela
administração, a auditoria não
flagra, por exemplo, superfaturamentos e compras fantasmas que
estejam amparados em documentos fiscais bem feitos.
Por outro, já que visa descontar
das cooperativas o que considera
irregular, a análise não inclui os
gastos que já são alvo de processo
judicial nem as transações feitas
durante os processos de intervenção sofridos por oito cooperativas
no período em questão.
A exclusão ocorre porque, de
acordo com a secretaria, nesses
casos o ressarcimento será cobrado dos responsáveis por vias judicias, não podendo também ser
descontado administrativamente
das cooperativas do plano.
A Folha apurou que, considerando as duas últimas situações
-processos e fraudes apuradas
pelos interventores-, os gastos
irregulares devem ultrapassar a
casa dos R$ 200 milhões. O número, porém, ainda não é oficial.
Parte desses gastos está sendo
apurada por 40 procedimentos
do Ministério Público. A outra
-apontada como irregular pelos
interventores dos módulos- está
com o secretário dos Negócios Jurídicos, a quem cabe levá-las ao
Ministério Público ou à Justiça.
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