São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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Investigações começaram na Cehab do Rio

da Sucursal do Rio

O primeiro sinal da crise que se generalizou no primeiro escalão do governo Garotinho começou na Cehab/RJ, presidida por Eduardo Cunha.
Além das duas sindicâncias abertas para investigar a presença de Jorge La Salvia, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) iniciou investigação para apurar irregularidades em quatro licitações feitas pela empresa.
Eduardo Cunha foi indicado para a Cehab pelo deputado Francisco Silva, que começou o governo Garotinho como secretário de Habitação.
Em agosto do ano passado, Silva nomeou Cunha seu subsecretário. No mês seguinte, Cunha assumiu a presidência da Cehab.
No dia 1º de outubro, a Secretaria de Habitação foi extinta por Garotinho e Silva reassumiu seu mandato parlamentar. Cunha continuou na Cehab.
Os dois estão juntos há muitos anos. Desde 1995, Cunha presta serviços à Rádio Melodia, de propriedade do deputado, segundo informou à Folha.
Os dois foram sócios na empresa de turismo Montour, adquirida em fevereiro de 96. Cunha deixou a empresa meses depois, passando a sua parte para Silva, que vendeu a empresa em fevereiro de 97 por R$ 202.300.
A Folha teve acesso legalmente, através do TRE, às declarações de renda de Cunha e de Silva de 1998, referentes ao ano de 97, entregues quando se candidataram, respectivamente, a deputado estadual e federal pelo PPB. Cunha declarou, então, rendimento anual de R$ 59.590,00, provenientes de pessoa física não identificada, o que lhe deu uma renda média mensal de R$ 4.965,00.
Ele informou para Folha que recebeu pagamentos por serviços prestados à Rádio Melodia, de Francisco Silva, embora tenha declarado esses rendimentos como provenientes de pessoa física e não jurídica.
Na relação de bens de 97, Cunha declarou um automóvel Mazda (93), a metade de um imóvel na Barra, adquirido da ex-mulher Cristina Dytz, avaliado por ele em R$ 100 mil, e quatro linhas telefônicas.
Seu patrimônio declarado em 97 somava R$ 135 mil. Cunha informou que seu patrimônio se mantém praticamente inalterado desde 1996. A única mudança foi de carro. Trocou o Mazda por um Ford Taurus 97.
Segundo Cunha, 97 foi um ano "muito difícil" para ele, que teve de aumentar o seu endividamento para bancar despesas pessoais. As dívidas cresceram de R$ 111.929 em 96 para R$ 188.492,59 em 97.
A maior dívida, no dois anos, foi com o Banco Boreal (R$ 109.029 em 96 e R$ 183.705,76 em 97). O mesmo banco aparece na vida de Cunha em 98, não como credor, mas como principal doador da sua campanha para deputado estadual pelo PPB.
Na sua prestação de contas ao TRE, ele declara ter recebido R$ 216.418,68 de duas empresas. O Banco Boreal contribuiu com R$ 151.909,27.
Segundo Cunha, o presidente do Banco Boreal, Gonçalo Torre Alba, é seu amigo pessoal e vem lhe ajudando com empréstimos bancários e com a doação para a campanha de 98.
A outra empresa mencionada é a Vise-Vigilância e Segurança Ltda, com R$ 64.509,41.
A Vise e Cunha foram processados pela Telerj a partir de outubro de 94 por suspeita de irregularidades no contrato entre a empresa de segurança e a companhia telefônica durante o período em que Cunha foi presidente, no governo Collor.
Segundo Cunha, o TCU não constatou qualquer problema no contrato com a Vise.
O diretor da Vise, Luiz Carlos Rigo Rocha, confirmou que deu a contribuição para a campanha de Eduardo Cunha. Segundo ele, o pedido para a contribuição foi feito pelo deputado Francisco Silva. Foi a única campanha que a empresa ajudou.
No Imposto de Renda de 98/ 97, o deputado Francisco Silva declarou um patrimônio de R$ 2,06 milhões.
Nesta semana, segundo o jornal "O Globo", o deputado afirmou que tem um patrimônio de R$ 12 milhões. Isso representaria um crescimento de cerca de 500% nos últimos dois anos.
"Eu sempre na minha vida me preocupei com a Receita Federal, nunca com jornalista. Agora vou ter que me preocupar também com jornalista, quando eu comprar ou vender", afirmou o deputado para a Folha, quando questionado sobre a origem do dinheiro usado na compra da casa onde mora Cunha, por cerca de R$ 250 mil.
Silva diz que é um homem de negócios, que começou como ambulante nos anos 50, chegou a dono do laboratório fabricante do Atalaia Jurubeba, produto para o fígado, e que já comprou um terreno de 200 mil metros quadrados da apresentadora Xuxa. A declaração de IR de 97 confirma a compra do terreno, em Campo Grande, por R$ 135 mil. No local, funciona hoje uma creche que atende cerca de 70 crianças de famílias carentes.
A instituição se chama Cidade Melodia das Crianças. Melodia também é o nome da rádio FM que Silva comprou em 1986 e que, com programação evangélica, hoje está no terceiro lugar em audiência no Rio.


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