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Governo aprova metade de seus projetos no Congresso
"Eficiência" é muito superior à dos deputados, que fazem vingar 1,7% de suas propostas
De volta à agenda, debate sobre a reforma política também será comandado pelo Planalto, afirma líder do governo na Câmara
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A análise das leis produzidas
no Brasil desde 1995 mostra
que, para cada dois projetos
apresentados ao Congresso Nacional pelo governo federal, um
é aprovado de forma conclusiva
e se transforma em norma jurídica. A "eficiência de 50%" é
muito superior à verificada nas
propostas cujos autores são os
deputados federais -em média, apenas um vira lei para cada grupo de 59 projetos.
Levantamento da Folha
mostra que, de 1995 a 2006, o
governo federal apresentou
690 projetos de lei, projetos de
lei complementar e Propostas
de Emenda à Constituição. No
mesmo período, 348 projetos
de sua autoria viraram lei, ou
seja, "eficiência" média de
50%. Já para os projetos dos
deputados federais, a "eficiência" é de 1,7% -355 aprovados
para 20.918 apresentados.
O controle do Planalto sobre
a agenda do Congresso se mostra mais robusto ainda quando
entram na conta as 342 medidas provisórias editadas pelo
Executivo desde setembro de
2001, quando passou a vigorar
a regra que dá a elas prioridade
na tramitação legislativa.
Com poder de entrar em vigor a partir de sua edição, ou
seja, antes mesmo da análise
do Congresso sobre elas, as
MPs têm sido fartamente usadas pelo governo federal.
"A base do governo tende a
priorizar as iniciativas do Executivo. Normalmente a pauta
de votações fica sob a égide de
iniciativas governamentais",
diz o presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP).
A influência do Executivo sobre o Congresso é admitida por
políticos do governo e da oposição, em obras acadêmicas sobre a relação entre os Poderes,
mas fica melhor compreendido
em exemplo recente. Após o
Tribunal Superior Eleitoral se
pronunciar de forma a ameaçar
o mandato dos deputados que
trocaram de partido, voltou à
ordem do dia o discurso de que
o Congresso precisa discutir a
reforma política.
O formato dessa reforma e o
ritmo da discussão serão ditados pelo Planalto, diz o líder do
governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE). "Ele
vai dizer, ele vai dar a partitura,
daí nós tocamos." Múcio afirma que a maior eficiência dos
projetos do Executivo se dá
porque eles têm mais "premência". "Se dá prioridade pela
premência, pela própria necessidade. Eles são de caráter mais
urgente, de curto prazo."
Desde 1995, o ano em que os
projetos do Executivo alcançaram maior diferença em relação aos projetos de deputados
se deu em 1998, último ano da
primeira gestão de Fernando
Henrique Cardoso -32 projetos do Executivo viraram lei
contra 18 de deputados. A
maior relação inversa se deu
em 2001, penúltimo ano da segunda gestão FHC: 43 projetos
de deputados viraram lei contra 29 de autoria do Executivo.
O líder da oposição na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS),
afirma que falta "coragem" a
grande parte dos integrantes
do Congresso em sua relação
com o Executivo, e isso vem de
vários governos, segundo ele.
"Talvez voltemos a esse assunto daqui a dez anos e ele
continuará inalterado. Falta
coragem a grande parcela dos
membros do Congresso. Há
uma complacência cívica do
Parlamento na submissão ao
Executivo. Parece que só se vive bem submisso ao governo."
Vale lembrar que, embora o
Planalto influencie a pauta do
Congresso, é também verdade
que deputados e senadores
também exercem influência na
tramitação dessas propostas e
não raro conseguem alterá-las,
de modo que um projeto de lei
dificilmente é aprovado como
apresentado pelo Executivo.
Em relação às medidas provisórias, isso também ocorre,
embora em menor grau.
Para a professora do Departamento de Ciência Política da
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais) Magna Inácio, "o controle de agenda é indiscutível" e "afeta a qualidade
legislativa" na medida em que
acelera a tramitação de propostas que exigiram maior tempo
de debate. "O tempo de análise
dos projetos é um recurso fundamental dos parlamentares",
diz a professora, que tratou da
relação entre Executivo e Legislativo em tese de doutorado.
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