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Lula repassa verba do PAC a inadimplentes
Das 10 cidades com mais obras, só Olinda está regular; mudança também liberou gasto em fase eleitoral
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula dispensou
consulta ao cadastro de inadimplentes para liberar dinheiro a cerca de 1.800 obras selecionadas do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Ontem, 9 dos 10 municípios
mais beneficiados com obras
de saneamento, habitação e urbanização de favelas, registravam problemas no cadastro
que atesta a regularidade fiscal.
Só Olinda (PE) estava regular.
O objetivo de dispensar a
consulta ao cadastro foi eliminar obstáculos a obras consideradas importantes, informou o
ministro Márcio Fortes (Cidades) à Folha. A pasta detém
obras selecionadas em 158 das
cidades mais populosas do país.
A mudança nas regras de repasses de verbas federais se
deu por medida provisória e
dois decretos editados por Luiz
Inácio Lula da Silva e entrou
em vigor na virada do ano.
O governo escolheu obras
consideradas as mais importantes do PAC e determinou
que elas seriam objeto de
transferências "obrigatórias"
de recursos públicos e, portanto, não ficariam sujeitas a exigências feitas às transferências
"voluntárias" de verbas.
"A medida serve para resolver uma situação momentânea
[de irregularidade fiscal] dos
municípios, e as obras do PAC
atendem a demandas de muitos desses municípios", afirmou Fortes. O ministério não
dispõe de estimativa do percentual de cidades que poderiam sofrer bloqueio de repasses da União para obras do PAC
por conta de pendências registradas no cadastro.
"A seleção de obras é suprapartidária", disse ele. Dos 10
municípios mais beneficiados
com obras das Cidades, 7 são
governados por partidos aliados ao Planalto. Juntos, recebem 53% do total dos repasses,
contra 47% das cidades governadas pela oposição.
Pelo mesmo mecanismo legal em que torna sem efeito o
cadastro de regularidade fiscal,
o governo também garantiu
que obras selecionadas do PAC
não sofreriam restrições impostas pela lei eleitoral. Obras
novas podem ser iniciadas depois de 5 de julho, no período
de três meses que antecedem
as eleições para prefeitos, conforme a Folha em 23 de março.
No site do Tesouro Nacional
(www.tesouro.fazenda.gov.br) é possível acompanhar a situação fiscal dos municípios e
dos Estados por meio do Cauc
(Cadastro Único de Exigências
para Transferências Voluntárias). As certidões valem por
apenas três dias. Um município
pode estar regular em um dia e
irregular na semana seguinte e
vice-versa.
O registro de pendência em
apenas um dos 13 itens que
atestam a regularidade fiscal
determina o bloqueio da assinatura de convênio e de repasses de verbas da União. Antes
da regra especial editada para
obras selecionadas do PAC, exceções eram previstas apenas
para ações nas áreas de educação, saúde e assistência social.
Segundo pesquisa feita pela
Folha, 9 dos 10 municípios que
mais receberão verbas do PAC
por meio de transferências
obrigatórias apresentavam entre uma e cinco pendências ontem. O desempenho era melhor
em Rio de Janeiro, Nova Iguaçu
(RJ), e São Paulo, com apenas
um dos 13 itens de regularidade
fiscal "a comprovar". A pior situação era de São Gonçalo (RJ),
com cinco pendências.
Segundo o Tesouro, a transferência obrigatória de verbas
federais a obras do PAC selecionadas pelo Planalto dispensa
consulta ao Cauc, mas está condicionada a um termo de compromisso aprovado pela União,
com metas e cronogramas de
desembolso do dinheiro.
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