São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Lula chega a uma Holanda que discute ataque ao Islã

Vídeo de deputado atinge livro sagrado do islamismo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA

Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a uma Holanda que perdeu a inocência e a aura de grande paraíso da tolerância.
Aura dada, no varejo, pelo fato de cafés de Amsterdã venderem livremente drogas leves ou, mais recentemente, pela liberação do sexo em parques públicos. Mas, mais do que esses detalhes, a Holanda era (ou é ainda, depende do ponto de vista) um exemplo de tolerância racial, política, religiosa.
O país a que chega o presidente brasileiro ainda está traumatizado pelo vídeo "Fitna" ("Caos"), que o deputado Geert Wilders (Partido pela Liberdade, extrema-direita) colocou na internet, atacando duramente o Corão, o livro sagrado do islamismo.
Além do vídeo, Wilders, 44, diz que é "preciso expulsar todos os muçulmanos da Holanda e fechar suas mesquitas e escolas". O governo e todos os demais partidos representados no Parlamento condenaram o vídeo e as posições de Wilders.
As relações com o Islã ganham crescente importância na Europa, continente em que vivem 16 milhões de muçulmanos ou 3% dos 495 milhões de habitantes dos 27 países da União Européia.
É nesse caldeirão que desembarca hoje o presidente Lula. Mas é muito pouco provável que o tema aflore nos dois dias que Lula passará na Holanda. O eixo do programa, cerimonial à parte, são negócios.
A nota oficial do Itamaraty diz que a visita "reflete o interesse dos dois países em intensificar o relacionamento bilateral em diferentes áreas e o diálogo entre o Brasil e os Países Baixos sobre temas globais de interesse comum".
Cabe aí tratar de migrações, em especial a proveniente dos países de maioria muçulmana, até porque o governo Lula tem dado forte impulso às relações com o mundo árabe. No segundo semestre, está prevista uma cúpula entre países árabes e os do Mercosul.
Mas o predomínio será mesmo dos negócios. A Holanda se tornou, em 2007, o primeiro investidor estrangeiro no Brasil, com US$ 8,1 bilhões, quase um quarto do montante total.
Na outra ponta, é grande compradora. No ano passado, o Brasil vendeu aos holandeses cerca de US$ 8,8 bilhões e comprou apenas US$ 1,1 bilhão.
O número, em todo o caso, embute o "efeito Roterdã", como diz a embaixadora Maria Edileusa Fontenele, responsável por Europa no Itamaraty, em uma alusão ao fato de que parte importante dos US$ 8,8 bilhões nem fica na Holanda. Entra pelo principal porto europeu para ser redistribuída.


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