|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ROMBO TRANSAMAZÔNICO
Último superintendente presidiu empresa que deve receber R$ 198 milhões
Verba liga Sudene a ex-dirigente
ERILENE ARAÚJO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Repousa na mesa do último superintendente da Sudene, Wagner Bittencourt, uma liberação de
R$ 198 milhões para a CFN (Companhia Ferroviária Nacional) participar da construção da ferrovia
Transnordestina. Bittencourt presidiu a CFN antes de assumir a autarquia em 26 de maio de 2000
-hoje ele é o responsável pela
transformação da Sudene em
agência e por seus projetos.
A liberação da verba do Finor
(Fundo de Desenvolvimento do
Nordeste) foi aprovada pelo Conselho da Sudene em dezembro de
1999, quando Bittencourt presidia
a CFN, e só depende de a empresa
entrar com sua parte no negócio
para ser efetivada. A obra não está
na lista das suspeitas da Sudene.
O cargo de Bittencourt no Ministério da Integração Regional
após o fim da Sudene é o de secretário especial. Ele é o mais cotado
para assumir a Adene (Agência de
Desenvolvimento do Nordeste).
Mas, segundo a medida provisória que extinguiu a Sudene e
criou a Adene, ele não pode comandar o novo órgão.
O artigo 34 da MP diz que fica
impedido de exercer cargo de direção quem, nos 12 meses anteriores à sua indicação, tiver mantido vínculo com empresa beneficiada por recursos da Sudene ou
que tenha pedido de financiamento tramitando na autarquia.
A primeira etapa da obra está
orçada em R$ 471 milhões. A execução deve começar em junho.
Em reunião no gabinete do vice-presidente Marco Maciel (PFL),
em março, ficou definido que a
CFN, concessionária da Malha
Nordeste pertencente à Vale do
Rio Doce, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e Taquari Participações, investirá R$ 100 milhões
nessa etapa. Então, o dinheiro do
Finor começa a ser liberado.
A CFN foi privatizada há quatro
anos. No contrato o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), ela se compromete a emprestar R$ 100 milhões para modernizar o trecho
Salgueiro-Recife, com 595 km.
O governo de Pernambuco
aportará R$ 120 milhões, para
criar o ramal entre Parnamirim
(PE) e Araripina (PE), com 100
km de extensão.
O BNDES vai indicar 18% do
Imposto de Renda de 2000 e 2001
para o Finor, que aplicará a verba
na Transnordestina. A expectativa é que cheguem aos cofres do
Finor R$ 118 milhões vindos do
banco. A decisão é de março.
Apesar de a malha ter sido privatizada, o Tesouro Nacional entrará com R$ 194 milhões nas
duas etapas da execução do projeto -que deverá acabar em 2004.
Na segunda etapa, a CFN deverá
investir mais R$ 96 milhões na
construção do trecho Salgueiro
(PE) - Missão Velha (CE).
Wagner Bittencourt foi indicado para a Sudene pelo deputado
federal licenciado Sérgio Guerra
(PSDB-PE). O tucano é ligado aos
governadores de Pernambuco,
Jarbas Vasconcelos (PMDB), e do
Ceará, Tasso Jereissati (PSDB).
Guerra é amigo de Benjamim
Steinbruch, um dos acionistas da
CFN. Ele se licenciou para assumir a Secretaria de Projetos Especiais do governo de Pernambuco,
que tem como principal tarefa obter recursos para a ferrovia.
A CFN arrendou a malha ferroviária nordestina em 1997, por R$
15 milhões, prometendo concluir
a Transnordestina em até três
anos. Até agora, os projetos não
saíram do papel por indefinições
sobre o financiamento.
Em abril do ano passado, o governador Jarbas Vasconcelos disse que o Conselho de Administração da Vale do Rio Doce, acionista
da CFN, teria aprovado o projeto
e iniciaria as obras. Poucos dias
depois, a informação foi negada.
Ação contra MP
O PSB e o PC do B ingressaram
ontem no STF (Supremo Tribunal Federal) com ação direta de
inconstitucionalidade contra a
MP que extingue a Sudene e a Sudam e cria agências de desenvolvimento para as regiões.
Para o líder do PSB na Câmara,
Eduardo Campos (PE), a MP infringiu exigências constitucionais: só uma lei específica poderia
criar uma autarquia. A lei, disse,
poderia estar sob forma de MP,
mas uma única medida não poderia criar duas autarquias.
Segundo ele, o governo precisa
de autorização do Congresso para
criar os fundos. Depois, seria necessária lei complementar -que
também deve passar pelo Legislativo. Ele afirmou que seu partido
apóia, apesar do questionamento,
a reformulação da Sudene.
Texto Anterior: Parecer de relator deve ser lido dia 16 Próximo Texto: Outro lado: Secretário especial não comenta liberação de verbas Índice
|