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Ex-assessor de José Dirceu vazou o dossiê da Casa Civil
Investigação da PF e sindicância revelam e-mail que partiu de funcionário do ministério
Militante histórico do PT,
José Aparecido Nunes Pires,
secretário de Controle
Interno, afirma que "nunca
faria um negócio desses"
Alan Marques/Folha Imagem
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Lula e Dilma durante o lançamento do Plano Amazônia Sustentável; governadores da região amazônica estiveram no evento, em Brasília
LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal e a sindicância interna da Casa Civil
identificaram o secretário de
Controle Interno do órgão, José Aparecido Nunes Pires, como o vazador do dossiê elaborado no Palácio do Planalto
com gastos do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
As investigações detectaram
troca de e-mails entre José
Aparecido e um assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Aparecido foi o único dos cinco
secretários e diretores da Casa
Civil a ter o computador
apreendido pela sindicância
aberta por Dilma Rousseff.
Aparecido é militante histórico do PT. Foi levado para a
Casa Civil por José Dirceu, o
antecessor da ministra Dilma.
Funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União, assessorou vários deputados petistas em CPIs, incluindo Dirceu, cassado em 2005 no escândalo do mensalão. Aparecido
chegou a disputar em 1994 uma
vaga de deputado federal pelo
PT de Goiás, mas não foi eleito.
Os e-mails entre Aparecido e
André Fernandes -consultor
concursado do Senado, lotado
na segunda vice-presidência
(cujo titular é Álvaro Dias)-
trazem conversas de natureza
pessoal. Não fazem menção ao
dossiê e ao levantamento das
contas do governo tucano.
Mas, segundo a Folha apurou, a PF e a sindicância interna têm provas de que foi anexada a uma dessas mensagens,
datada de 20 de fevereiro, a
planilha em Excel de 27 páginas com gastos de FHC, Ruth
Cardoso e ex-ministros. A planilha registrava uma semana
do trabalho de levantamento
de dados do governo tucano,
iniciado em 11 de fevereiro.
A Folha obteve cópias da
correspondência eletrônica.
Mas o formato dessas cópias,
em HTML, não permite a leitura de arquivos anexados.
Aparecido nega ter vazado o
dossiê. "Nunca faria um negócio desses", falou à Folha.
Fernandes, por sua vez, confirmou ter recebido o e-mail
contendo o documento e disse
ter informado o senador. "Não
é sigilo meu, nunca pedi, nunca
solicitei, não passei para órgão
de imprensa nenhum. Resolvi
comunicar o fato ao senador e
dei um fim a essa história."
Eles disse ter apagado as mensagens de Aparecido há "uns
dois meses". Ambos são amigos
e trabalharam juntos no TCU.
"O dossiê saiu do Palácio do
Planalto e chegou ao computador do servidor [Fernandes].
No estrito cumprimento de seu
dever, ele comunicou o fato. Se
não o fizesse, teria cometido
uma infração administrativa",
disse Álvaro Dias. "O nome
mais importante, no entanto,
não é do Aparecido, mas sim de
quem mandou fazer o dossiê,
quem fez e por quê", ressaltou.
A Casa Civil disse que não se
manifestaria até a conclusão da
sindicância, prevista para o fim
do mês. Dirceu não falou.
A Folha apurou que Dilma
busca um desfecho o menos
desgastante possível. A idéia é
evitar tratar o episódio como
crime -com isso, poderia aplicar apenas uma punição administrativa e afastar Aparecido.
Se não for obrigado a responder na Justiça, avalia o Planalto, o servidor não teria motivos
para detalhar a ordem dada pela secretária-executiva da Casa
Civil, Erenice Guerra, para a
elaboração do dossiê.
A estratégia do governo está
amparada em recente parecer
confeccionado pelo general
Jorge Félix, chefe do Gabinete
de Segurança Institucional.
Em documento encaminhado à
PF e cujo conteúdo foi tornado
público anteontem pela ministra Dilma no Senado, o GSI
avalia que os gastos do governo
FHC não são mais sigilosos. O
prazo para documentos reservados teria expirado em 2007.
Essa nova estratégia do governo não exime a Casa Civil de
explicar o viés político na organização dos gastos de FHC.
O material em poder da sindicância confirma a informação, publicada pela Folha em 4
de abril, de que o dossiê saiu
pronto da Casa Civil. E contraria versão de Dilma, de que o
documento publicado poderia
ser uma montagem, a partir de
informações da Casa Civil. A
investigação também afasta a
possibilidade de um espião ter
invadido os computadores da
pasta, como cogitou Dilma.
Aparecido não teve participação direta na confecção do
dossiê. Em reunião convocada
por Erenice em 8 de fevereiro,
foi solicitado a ele, ao secretário Norberto Temóteo Queiroz
(Administração), à chefe-de-gabinete de Erenice, Maria de
La Soledad Castrillo, e a Gilton
Saback Maltez, da Diretoria de
Orçamento e Finanças, que cedessem dois funcionários para
participar da força-tarefa incumbida de preparar o dossiê.
O papel de Aparecido foi só escalar seus funcionários.
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