São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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PF tem mais provas com referência a "PA"

Iniciais atribuídas pela polícia a Paulinho são grafadas, em tabela apreendida com consultor, ao lado de pagamento de R$ 82 mil

Segundo a PF, integrantes da suposta quadrilha que agia no BNDES teriam recebido R$ 2 milhões após liberações de financiamentos do banco


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

As iniciais "PA" -que surgiram em interceptações telefônicas e foram entendidas pela Polícia Federal como referência ao deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho- também aparecem numa tabela apreendida no escritório do consultor Marcos Vieira Mantovani em São Paulo. A inscrição "PA/GA" foi grafada ao lado de um pagamento de R$ 82.162,93, segundo a PF.
A tabela, de acordo com um "relatório circunstanciado de análise de provas obtidas" da Operação Santa Tereza, desencadeada há duas semanas pela PF, contém "uma suposta divisão de liberação [de recursos], com os seguintes escritos: "VL Liberação", "PR 50% 164.325,86", "RT 25% 82.162,93" e "PA/GA 25% 82.162,93'".
A sigla "PR" pode se referir à empresa de Mantovani, denominada Progus Investimentos, Consultoria e Assessoria Ltda. Em telefonemas interceptados pela PF com ordem judicial, entre os supostos beneficiários de outra partilha de dinheiro é referido o nome de "Gaspar", que poderia explicar a inicial "GA".
O relatório da PF também menciona "outra folha impressa com divisão de dinheiro, com as iniciais "rt", "PA" e "ga'", mas não detalha esse papel. O documento policial confirma que foram apreendidas quatro cópias de cheques emitidos pela "WE Original, ou seja, a casa de prostituição" na rua Peixoto Gomide, em São Paulo. Embora não nominais, em cada um havia um papel grampeado, com as inscrições "R.T.", "P.A.", "Progus" e "Impostos". Foram assinados pelo gerente da boate, Celso Murad.
Segundo o relatório da PF, também foi apreendido um e-mail enviado por Mantovani em 2004 ao advogado Ricardo Tosto, que é contratado do consultor para defendê-lo em ações judiciais e assumiu uma vaga de conselheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anos após o e-mail, em agosto de 2007. O assunto era "resumo reunião de ontem e proposta padrão BNDES". Em anexo, diz a PF, havia arquivo intitulado "proposta padrão BNDES".
A tabela com os valores e o e-mail foram apreendidos no último dia 24, quando a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em 18 endereços em São Paulo e Praia Grande (SP).
Na denúncia oferecida à Justiça Federal, acolhida no último dia 2, a procuradora da República Adriana Scordamaglia disse que "correspondências antigas entre Marcos Mantovani, João Pedro [Moura] e algumas empresas (...) demonstram que há muito tempo eles praticavam essas fraudes, com o mesmo "modus operandi'".
De acordo com o inquérito da PF, os integrantes da suposta quadrilha teriam recebido R$ 2 milhões após liberações que integram três financiamentos recentes do BNDES -dois para as Lojas Marisa e um para a Prefeitura de Praia Grande.
Segundo a PF, Mantovani recebeu, em sua conta particular, R$ 700 mil referentes ao pagamento da primeira parcela do financiamento do BNDES para as Lojas Marisa e outros R$ 800 mil para a segunda liberação do mesmo empréstimo.

Prefeituras
Na sua denúncia, à qual a Folha teve acesso, a procuradora pediu a abertura de investigação em nove municípios, todos em São Paulo: São João da Boa Vista, Caieiras, Itapira, Conchal, São Sebastião da Grama, Nova Odessa, Praia Grande, Itu e Guarujá. Segundo ela, a apuração deve ser tocada pelo Ministério Público "para que seja investigada a fraude envolvendo licitações realizadas nessas cidades, bem como desvio de verbas do BNDES, conforme aventado nos áudios" da Operação Santa Tereza.
A Justiça ordenou o envio ao STF dos áudios e documentos que citariam Paulinho, que tem foro privilegiado. Ele também deverá ser investigado pelo Conselho de Ética da Câmara.


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