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Filho de Sarney enviou verba desviada, vê PF
Polícia levantou indícios de que dinheiro supostamente mandado ilegalmente para o exterior seria de obra da ferrovia Norte-Sul
Empresário foi indiciado anteontem sob a acusação de evasão de divisas e lavagem de dinheiro; ele nega todas as acusações
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal levantou
indícios de que o empresário
Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), enviou ilegalmente para fora do país dinheiro
desviado de obras públicas. Por
isso ele foi indiciado anteontem por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Conforme a Folha antecipou
em março, autoridades da China confirmaram ao Ministério
da Justiça brasileiro, no final
do ano passado, que Fernando
remeteu US$ 1 milhão para a
província chinesa de Qingdao a
partir de uma conta nas Bahamas, paraíso fiscal do Caribe.
A PF comprovou na Receita
Federal que esse dinheiro não
foi declarado no Brasil pelo filho do presidente do Senado.
Segundo o inquérito policial,
uma das fontes do dinheiro
mandado para fora do país seria a obra da ferrovia Norte-Sul, um dos projetos prioritários do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O projeto da Norte-Sul é gerido pela Valec, estatal federal
há décadas sob o domínio do
presidente do Senado.
Fernando Sarney ajudou a
montar um "consórcio paralelo" de empreiteiras acusado de
desviar cerca de R$ 60 milhões
de um dos trechos da Norte-Sul, conforme a Folha revelou.
Uma das construtoras que
integram esse grupo é a Lupama, apontada pela PF na Operação Faktor (antiga Boi Barrica) como uma empresa de fachada, que não tem capital social "nem sequer para construir uma ponte".
Seus sócios são Flávio Lima e
Gianfranco Perasso, ambos
amigos de Fernando Sarney.
Perasso é apontado pela polícia
como o operador de contas da
família Sarney no exterior.
O segmento da ferrovia sob a
responsabilidade da Lupama
liga os municípios goianos de
Santa Isabel e Uruaçu. Auditoria do Tribunal de Contas da
União nesse trecho constatou
sobrepreço de R$ 63,3 milhões.
Segundo perícia da PF, a fraude
chegou a R$ 59 milhões.
De acordo com a PF, parte do
dinheiro obtido pelo "consórcio paralelo" nessa obra ficou
com Fernando Sarney.
Segundo a Folha apurou, os
policiais constataram que as
datas em que Fernando e seus
amigos da Lupama receberam
os recursos das empreiteiras
coincidiram com a movimentação financeira realizada no
exterior. Daí a associação feita
pela PF entre o dinheiro supostamente desviado da Valec e as
transações fora do país.
Em telefonema grampeado
em maio daquele ano, Flávio
Lima cobra de um funcionário
da EIT (uma das empresas do
"consórcio paralelo") parte do
pagamento referente ao trecho
Santa Isabel-Uruaçu. A expressão usada é "pagar a diferença",
interpretada pela polícia como
sinônimo de propina.
Os diálogos mostram que,
sem o pagamento, a EIT não
seria incluída em novo contrato negociado com a Valec.
Segundo a PF, após essas
ameaças, a EIT aceitou pagar
R$ 160 mil aos sócios da Lupama. Com o dinheiro do depósito, Fernando deu ordens a Flávio para fazer pagamentos em
seu nome, segundo a PF.
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