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IDEOLOGIA
Para Touraine, prioridades devem ser saúde e educação
Ex-professor de FHC defende
guinada do governo à esquerda
CRISTIANE RAMALHO
da Sucursal do Rio
O sociólogo e cientista político
francês Alain Touraine, 73, amigo
e ex-professor do presidente Fernando Henrique Cardoso, acredita
que, depois de superar a crise econômica, FHC terá que dar um perfil de centro-esquerda ao seu governo para poder investir no que
considera os dois principais problemas do país: saúde e educação.
Leia abaixo trechos de entrevista
concedida à Folha:
Folha - O sr. já falou uma vez na
importância de presidente ter
apoio da opinião pública. Como
acha que FHC pode reverter a queda de sua popularidade?
Alain Touraine - Fernando Henrique acaba de ganhar a primeira
eleição. Sucedeu um presidente
que se chamava real. A popularidade do Fernando Henrique era a
popularidade do real. Ele foi eleito
numa situação em que o real estava morto, numa situação de catástrofe quase mundial. E o problema
do Fernando Henrique era salvar o
país. O Brasil está saindo da catástrofe. Hoje, Fernando Henrique,
pela primeira vez, depois do caso
do real, entra numa verdadeira
transformação, corajosa. É preciso
realmente diminuir o déficit fiscal.
Acho que o que vai acontecer, necessariamente, é que a saída da crise se fará com uma evolução do
Brasil à européia. Qualquer coisa
entre Blair (Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido) e Aznar
(José María Aznar, da Espanha).
Não há solução política possível no
Brasil sem sair da crise, sem dar a
prioridade que nunca foi dada aos
problemas sociais. É importante
que se reforme rapidamente o espaço político de centro-esquerda.
Folha - O sr. já disse que os países
como o Brasil devem ter um governo de centro-esquerda. Isto seria
possível com FHC?
Touraine - Não se pode fazer nada sem o presidente, mas o presidente não pode fazer tudo o que
quer. A aliança com o PFL hoje não
interessa muito à direita e não tem
mais interesse para o presidente.
Agora, o que faz o governo é salvar o país acima de tudo, por uma
reforma de Estado. Uma vez que
isso seja feito, penso que será uma
conquista, e uma conquista muito
mais difícil do que o real.
Creio que a necessidade da existência e do crescimento do Brasil
vão levar a dar prioridade aos
grandes problemas sociais.
Folha - O sr. quer dizer depois do
governo Fernando Henrique?
Touraine - Durante. Agora, ele
não pode ser reeleito. O problema
é que hoje ele não tem mais maioria. O PFL diz "Vou trabalhar por
mim". Uma vez vencida a crise, a
partir do próximo ano, vamos assistir à procura de uma recomposição de centro-esquerda.
Uma vez que a economia se reequilibre, quais são os dois grandes
problemas do Brasil? Educação e
saúde. Você acha possível fazer
uma política educacional popular
e de saúde pública sem uma maioria de centro-esquerda?
Folha - Como avalia a atuação de
FHC em relação à CPI dos Bancos?
Touraine - Não posso, não devo e
não quero fazer julgamentos políticos. Mas isso é ruim para a imagem do presidente, com certeza.
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