São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IDEOLOGIA
Para Touraine, prioridades devem ser saúde e educação
Ex-professor de FHC defende guinada do governo à esquerda

CRISTIANE RAMALHO
da Sucursal do Rio

O sociólogo e cientista político francês Alain Touraine, 73, amigo e ex-professor do presidente Fernando Henrique Cardoso, acredita que, depois de superar a crise econômica, FHC terá que dar um perfil de centro-esquerda ao seu governo para poder investir no que considera os dois principais problemas do país: saúde e educação.
Leia abaixo trechos de entrevista concedida à Folha:
Folha - O sr. já falou uma vez na importância de presidente ter apoio da opinião pública. Como acha que FHC pode reverter a queda de sua popularidade?
Alain Touraine -
Fernando Henrique acaba de ganhar a primeira eleição. Sucedeu um presidente que se chamava real. A popularidade do Fernando Henrique era a popularidade do real. Ele foi eleito numa situação em que o real estava morto, numa situação de catástrofe quase mundial. E o problema do Fernando Henrique era salvar o país. O Brasil está saindo da catástrofe. Hoje, Fernando Henrique, pela primeira vez, depois do caso do real, entra numa verdadeira transformação, corajosa. É preciso realmente diminuir o déficit fiscal. Acho que o que vai acontecer, necessariamente, é que a saída da crise se fará com uma evolução do Brasil à européia. Qualquer coisa entre Blair (Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido) e Aznar (José María Aznar, da Espanha). Não há solução política possível no Brasil sem sair da crise, sem dar a prioridade que nunca foi dada aos problemas sociais. É importante que se reforme rapidamente o espaço político de centro-esquerda.
Folha - O sr. já disse que os países como o Brasil devem ter um governo de centro-esquerda. Isto seria possível com FHC?
Touraine -
Não se pode fazer nada sem o presidente, mas o presidente não pode fazer tudo o que quer. A aliança com o PFL hoje não interessa muito à direita e não tem mais interesse para o presidente.
Agora, o que faz o governo é salvar o país acima de tudo, por uma reforma de Estado. Uma vez que isso seja feito, penso que será uma conquista, e uma conquista muito mais difícil do que o real.
Creio que a necessidade da existência e do crescimento do Brasil vão levar a dar prioridade aos grandes problemas sociais.
Folha - O sr. quer dizer depois do governo Fernando Henrique?
Touraine -
Durante. Agora, ele não pode ser reeleito. O problema é que hoje ele não tem mais maioria. O PFL diz "Vou trabalhar por mim". Uma vez vencida a crise, a partir do próximo ano, vamos assistir à procura de uma recomposição de centro-esquerda.
Uma vez que a economia se reequilibre, quais são os dois grandes problemas do Brasil? Educação e saúde. Você acha possível fazer uma política educacional popular e de saúde pública sem uma maioria de centro-esquerda?
Folha - Como avalia a atuação de FHC em relação à CPI dos Bancos?
Touraine -
Não posso, não devo e não quero fazer julgamentos políticos. Mas isso é ruim para a imagem do presidente, com certeza.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.