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SISTEMA FINANCEIRO
Instituições que tiveram formuladores do plano como sócios ou fundadores multiplicam o patrimônio
Bancos de economistas crescem no Real
MARTA SALOMON
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
Três bancos que tiveram como
sócios ou fundadores pais do Plano Real -Matrix, BBA e Opportunity- mais do que duplicaram seu
patrimônio nos quatro anos do
primeiro mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Nesse período, não foi raro ver
bancos multiplicarem seu patrimônio, embalados pelo plano econômico formulado por Pérsio Arida, André Lara Resende e Edmar
Bacha.
Esses personagens tiveram em
comum, além das respectivas ligações com o Opportunity, BBA e
Matrix, passagens pelo comando
do Banco Central (com exceção de
Bacha) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Dos três, apenas Edmar Bacha
permanece atualmente vinculado
a uma instituição financeira.
Como o BBA de Bacha, algumas
instituições até triplicaram o patrimônio, segundo levantamento feito pela Folha no Sisbacen, o sistema eletrônico de informações do
Banco Central.
É o caso do FonteCindam, socorrido pelo BC depois da desvalorização do real em operação investigada pela CPI dos Bancos.
Pouco mais da metade das instituições privadas pesquisadas conseguiram duplicar o seu patrimônio, de acordo com pesquisa feita
em amostragem que reuniu os 50
maiores bancos do país.
Ouvido pela Folha, Lara Resende
classificou o desempenho dos bancos de "nada excepcional".
Edmar Bacha reconhece que
houve transferência de renda para
os bancos e atribuiu o fato à dificuldade do governo em controlar
seus gastos.
"Isso fez com que a manutenção
da estabilidade de preços dependesse da manutenção de uma política cambial rígida, acompanhada
de uma política cambial apertada",
disse à Folha.
"Taxas de juros elevadas implicam transferência de renda de
quem se endivida por gastar em
excesso para seus credores", completou Bacha.
Negócios ligados aos juros, câmbio e privatização de estatais, pilares do plano formulado pelos economistas-banqueiros, sustentaram o desempenho dos bancos.
Só com o pagamento de juros, o
setor público desembolsou quase
R$ 220 bilhões no primeiro mandato de FHC. A dívida pública saltou de R$ 155 bilhões, em dezembro de 94, para R$ 389 bilhões,
quatro anos depois.
²
Grupo
O currículo de André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida
registra também vínculos com o
departamento de economia da
PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro -um detalhe que esses pais do Real têm em
comum com o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
No grupo dos economistas-banqueiros também pode ser incluído
Luiz Carlos Mendonça de Barros,
um crítico da política de juros altos
e câmbio que ganhou destaque durante a campanha de reeleição de
FHC como formulador da segunda
fase do Plano Real.
Ele se afastou do governo no ano
passado, depois do vazamento de
escuta telefônica no BNDES.
Seu currículo inclui passagem
pelo Banco Central, como Lara Resende e Arida. Mendonça de Barros já havia sido diretor do BC
quando fundou o Banco Matrix,
em parceria com André Lara Resende, em 1993.
O banco exibiu, nos primeiros
anos, um dos melhores índices de
crescimento e rentabilidade do
mercado.
Lara Resende negou que o desempenho do banco se devesse às
relações com o comando da política econômica.
"Era só olhar para os planos anteriores para prever que o juro iria
ser muito alto e ler jornais para saber que o câmbio ficaria mais ou
menos estável", disse em entrevista disponível no site do banco na
Internet.
O Matrix continuou crescendo,
embora num ritmo mais lento. Entre dezembro de 1994 e dezembro
de 1998, os balanços do banco registraram crescimento de 124%.
Antes de formularem o Real, Lara Resende e Arida se juntaram a
Luiz Carlos Mendonça de Barros,
durante o governo José Sarney, em
diretorias do Banco Central, sob o
comando de Fernão Bracher, então presidente da instituição.
A relação de Arida e Bracher se
estreitou na fundação do banco
BBA, em 1988, a ponto de inviabilizar, mais tarde, a permanência de
Pérsio Arida na presidência do
Banco Central.
A passagem de Arida pelo BC durou apenas cinco meses e foi abalada pelas notícias do Carnaval que
passou na fazenda de Bracher.
O país atravessava uma turbulência do mercado financeiro, e o
Banco Central interveio no mercado de câmbio, área em que o BBA
obteve lucros.
Durante o primeiro mandato de
FHC, o BBA manteve forte atuação
na área de privatização e quase que
triplicou seu patrimônio, revela o
levantamento feito pela Folha
-cresceu 180%.
O desempenho foi ainda melhor
que o outro banco a que Pérsio
Arida se associaria: o Opportunity,
que cresceu 144% nos quatro últimos anos.
Fundado em 1994 e controlado
por outro economista da PUC do
Rio de Janeiro, Daniel Dantas, o
Opportunity apostou na política
de juros altos e estocou títulos públicos antes do lançamento do Plano Real.
Depois, o banco investiu pesado
nos negócios da privatização do
governo FHC.
Comprou participações da Companhia Vale do Rio Doce e de empresas do Sistema Telebrás.
Durante o processo de privatização das empresas de telefonia,
manteve contatos com Lara Resende e Mendonça de Barros, que
comandavam a operação nos cargos de presidente do BNDES e ministro das Comunicações, respectivamente.
O episódio mudou o destino dos
três. Arida rompeu a sociedade
com o Opportunity. Lara Resende
e Mendonça de Barros pediram
demissão.
²
Multiplicação
Numa amostragem de 50 maiores bancos privados do país, excluídos aqueles que passaram por
recente processo de reestruturação
ou fusão, 52% conseguiram duplicar o patrimônio durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Nesse grupo, além do Matrix e do
Opportunity, estão bancos como
Safra, Bozano,Simonsen e Icatu.
A lista inclui o Banco Marka,
também socorrido pelo BC depois
da desvalorização do real e investigado pela CPI dos Bancos.
Há um grupo menor, com aproximadamente cerca de 20% da
amostragem, de bancos que conseguiram triplicar seu patrimônio
entre dezembro de 1994 e 1998.
Aí estão BankBoston, Votorantim, Citibank, BNL, Sofisa e Fininvest, além do FonteCindam.
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