São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONVENÇÃO PSB

Político fluminense enfrenta pressões desde que anunciou, em 1999, sua intenção de disputar a Presidência

Garotinho vence desconfiança do PSB e confirma candidatura

Beto Novaes - 29.mar.2002/"Estado de Minas"
Anthony Garotinho participa do ato evangélico "Sermão da Montanha", em Belo Horizonte (MG), que reuniu 150 mil pessoas


MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O PSB oficializa amanhã, em convenção nacional, no Riocentro (zona oeste do Rio), a candidatura do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, 42, à Presidência. Com o ato, Garotinho põe fim à especulação que o persegue desde que seu nome foi aprovado pelo diretório do partido há um ano - a de que sua candidatura ao Planalto não era para valer.
"Essas especulações nunca passaram de especulações. Havia divergências pontuais com alguns candidatos preocupados em resolver suas questões locais, mas isso nunca interferiu na decisão do partido de manter Garotinho como candidato", diz o secretário nacional de finanças do PSB, deputado Alexandre Cardoso (RJ).
O presidenciável enfrentou forte pressão contra sua candidatura. Com a verticalização, que amarrou a aliança nacional a coligações regionais, deputados começaram a temer por sua reeleição. Publicamente, defendiam uma ampla aliança da oposição, já no primeiro turno, a deputada federal Luiza Erundina (SP) e o ex-governador do Amapá João Capiberibe.
Pré-candidato ao Senado, Capiberibe declarou que o PSB deveria apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. Os petistas fizeram várias tentativas para aliciar os socialistas, mas a direção nacional do PSB manteve o compromisso com Garotinho. Pelo menos duas vezes neste ano, soltou nota oficial desmentindo que o ex-governador abriria mão de sua candidatura em troca de uma disputa pela reeleição no Rio.
Além das pressões internas do PSB, acreditava-se que o lançamento da mulher do presidenciável, Rosângela Matheus, como pré-candidata ao governo do Rio, seria uma forma de garantir a vaga na chapa para o próprio Garotinho, caso sua pré-candidatura presidencial naufragasse. As pesquisas de intenção de voto, porém, fortaleceram Garotinho. Segundo o Datafolha, em julho de 2001, ele figurava em quarto lugar, com 11% das intenções de voto. Hoje, tem 16% e está em terceiro.

Aliança
Garotinho faz cálculos otimistas. Diz acreditar que, com candidatura própria, o PSB poderá eleger sete governadores (Rio, Espírito Santo, Alagoas, Rio Grande do Norte, Pará, Amapá e Rondônia) e 47 deputados federais. Já o PT, segundo ele, só deverá fazer os governadores do Acre e do Rio Grande do Sul e eleger 60 deputados, um a mais do que em 1998.
"O PT defendia a aliança com o PSB já no primeiro turno porque, com nosso partido na chapa, eles conseguiriam eleger até 90 deputados e nós ficaríamos reduzidos a uma bancada de no máximo 20", diz Garotinho: "Com a candidatura própria, o PSB consegue fugir ainda das restrições provocadas pela cláusula de barreira". A cláusula de barreira obriga os partidos a terem, a partir de 2003, 5% dos votos para deputado federal no país; caso contrário, o partido não terá direito ao horário gratuito no rádio e na televisão.
Desde que assumiu o governo do Rio, Garotinho nunca escondeu o desejo de concorrer à Presidência. Em 26 de outubro de 1999, com dez meses de mandato, revelou à Folha o desejo de se candidatar à Presidência. A declaração colaborou para a deterioração da aliança com o PT, que deixou seu governo em 2000, e levou a um confronto com Leonel Brizola.
Garotinho e Brizola trocaram insultos por quase um ano. Nesse período, o então governador adotou duas estratégias. Primeiro, anunciou, por duas vezes, que não seria candidato à Presidência, numa tentativa de criar um clima de trégua entre ele e Brizola, para ampliar sua influência no PDT.

Pregação
Paralelamente, montou um rede de apoio de igrejas evangélicas, financiada pela Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno) e pelo ex-deputado federal Francisco Silva (PST-RJ), dono de um grupo de emissoras de rádio. Passou a viajar pelo Brasil, pregando em cultos evangélicos. As viagens, pagas pela Adhonep e por Silva, serviam oficialmente para que ele contasse a história de sua conversão, em 1994. Politicamente, foram importantes para tornar o nome de Garotinho conhecido no país.
O conflito com Brizola não arrefeceu. Sem espaço no PDT, Garotinho deixou o partido em novembro de 2000 e, dois meses depois, filiou-se ao PSB. Em março de 2001, anunciou sua pré-candidatura ao Planalto. Em junho, o PSB aprovou os nomes de Garotinho e de João Capiberibe como pré-candidatos ao Planalto. Capiberibe abriu mão da disputa e, em dezembro, no congresso nacional do partido, Garotinho foi lançado pré-candidato à Presidência.



Texto Anterior: Livros: O marketing eleitoral ou os expertos e os ingênuos
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.