São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

O ruído

O dia estava num ritmo de felicidade geral da nação. Manchete no UOL:
- Vendas surpreendem e crescem na indústria.
E na Globo On Line:
- Indústria pisa fundo.
Até no emprego havia boas novas. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, "o nível subiu especialmente no interior do Centro-Oeste".
E tome comemoração. Na Globo, Míriam Leitão:
- O Brasil está crescendo, a inflação está abaixo de 5,5%, os juros já caíram muito desde o início do governo. Em outras palavras, a política econômica está dando certo.
Mais comemoração. O UOL News destacou que "a onda de pessimismo passou". E falou o ministro Antonio Palocci:
- O crescimento neste ano está praticamente assegurado.
Partiu daí para defender uma "agenda microeconômica" de projetos como Lei de Falências e Parcerias Público-Privadas para dar "musculatura".
Palocci pedia uma coisa: não exijam mais do Banco Central nesta "retomada da atividade". Como ele, falou a comentarista da Globo na seqüência:
- Há muito a fazer para o país seguir crescendo. E, como disse o ministro Palocci, não é apenas reduzir juros.
E o que fez então o ministro José Dirceu? Surgiu depois de todos, na Globo News, e exigiu corte nos juros:
- O Brasil precisa crescer ou a estabilidade não se mantém.
Não foi só ruído de discurso. Soou como ameaça.
E foi acrescida de um "elogio" do presidente da Câmara ao mesmo Dirceu. Daí a manchete do Jornal da Record:
- João Paulo expõe crise no Palácio do Planalto.
 
Não para o Jornal Nacional, que manteve a felicidade em suas manchetes:
- Indústria volta a respirar: vendas crescem 13% em um ano. Empresas cobram rapidez em projetos importantes. Lula pede pressa ao Congresso na aprovação das medidas.

A INDÚSTRIA DA MODA

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Enquanto Orestes Quércia partia para o ataque contra a prefeita e destituía todo o PMDB paulistano, que negocia um acordo com o PT, Marta Suplicy tinha outra agenda. Segundo o site do partido, ela foi a um encontro tratar da "expansão da indústria da moda na cidade". Um projeto municipal de incentivo fala em aumentar as exportações do setor e sonha levar a indústria da moda para a zona leste.

O "BUZZ" DA NIKE

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O "New York Times" informou que a Nike decidiu ir atrás de "um novo meio para sua publicidade, o blog". Não é para vender mais. É somente para "gerar buzz", ruído, conversa. Mas até a propaganda da Nike tem os seus limites. A rádio Bandeirantes noticiou que a bola de futebol gigante colocada pela empresa nas águas do rio Pinheiros, em São Paulo, não tinha autorização e será retirada. Mas o "buzz" que se buscava já foi alcançado.

Rio e Minas
Do Bom Dia Brasil à CBN, o Rio das Globos reclama que a administração federal "não está assumindo o papel" que teria na segurança do Rio. A resposta, em "O Globo", foi do ministro da Defesa, José Viegas:
- A atenção dispensada (ao Rio e a Minas) foi a mesma. Se diferença houve, foi nos termos da solicitação.
Ao contrário de Minas, o Rio, segundo "uma autoridade", "não reconheceu a insuficiência de seus meios policiais".

Às armas
A Igreja Católica vai à luta. O site Zenit.org noticiou ontem que a organização Ajuda à Igreja Necessitada (sic), católica e de âmbito mundial, definiu como uma de suas prioridades "o apoio a meios de comunicação católicos no Brasil".
Emissoras como a Catedral, no Rio, seriam um exemplo da "arma mais eficaz contra seitas em geral e a Igreja Universal do Reino de Deus em particular".

Menção
O plano anglo-americano para o Iraque, aprovado pela ONU, teve mais que o voto do Brasil. "New York Times", "El País" e a agência Dow Jones disseram que o respeito aos direitos humanos pelas forças de ocupação, parte do texto final, foi sugestão do Brasil, Chile e Espanha.

Reagan e a mídia
Em sua autocrítica sem fim, a mídia americana agora está se questionando pela cobertura simpática a Ronald Reagan. De Howard Kurtz, do "Washington Post", aos âncoras da CBS e da ABC, quase todos deploram as próprias palavras.
Mas houve exceções. A Slate destacou em manchete o perfil feito por Christopher Hitchens, "A estupidez de Reagan".
 
Uma curiosidade: as revistas "Time" e "Newsweek" deram exatamente a mesma foto de Reagan em suas capas. Na cena, ele lembra um cowboy.


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