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Vavá usou nome de Lula para obter dinheiro, diz PF
Gravações mostram que irmão do presidente ofereceu lobby a empresário de bingo
Em diálogos gravados pela PF, Vavá tenta se mostrar influente; não há indício de que ele tenha conseguido executar o lobby prometido
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
Gravações telefônicas feitas
pela Polícia Federal indicam
que o aposentado Genival Inácio da Silva, o Vavá, usou o nome do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, seu irmão, para
obter recursos do empresário
de bingos Nilton Cezar Servo,
preso pela Operação Xeque-Mate, desencadeada pela PF de
Mato Grosso do Sul no início
desta semana.
No conjunto de 617 interceptações que integram o inquérito que corre na 5ª Vara Federal
de Campo Grande, às quais a
Folha teve acesso, a voz de Vavá consta de 16 diálogos. Indiciado por supostos tráfico de
influência e exploração de
prestígio, ele aparece pedindo
dinheiro a Servo e oferecendo
lobby a um grupo agropecuário
de Assis (SP) interessado em
reverter uma decisão desfavorável no STJ (Superior Tribunal de Justiça). O telefone fixo
da casa de Vavá, em São Bernardo do Campo, foi monitorado com autorização judicial.
Numa interceptação às
19h45 de 25 de março passado,
um domingo, Vavá diz ao empresário que Lula esteve naquele dia em sua casa, em São
Bernardo, por cerca de uma hora e meia. Lula passou aquele final de semana em sua residência, em São Bernardo, sem
agenda oficial. "Eu falei pra ele
sobre o negócio das máquinas
lá. Ele [Lula] disse que só precisa andar mais rápido, né, bicho", relatou Vavá, que repete:
"E eu falei com ele sobre o negócio das máquinas, né. Falou
para mim pegar o rela... [inaudível] levar pra ele lá. Tá bom?".
Servo insinua ser próximo do
presidente: "O Lula é meu irmão". Vavá demonstra entusiasmo com oportunidades que
poderiam ocorrer dali para
frente. "Precisa andar mais rápido com esse negócio das máquinas, viu. (...) Tem muito serviço agora", diz Vavá.
O relatório da PF sobre o teor
dessa conversa é taxativo: "A
análise da conversa indica que
Vavá está usando o nome de
seu irmão, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para conseguir dinheiro
junto a Nilton Cezar Servo,
contraventor que tem como
principal fonte de renda a exploração do jogo de azar através
de máquinas caça-níqueis em
diversos Estados da Federação,
tais como Mato Grosso do Sul,
Paraná, São Paulo e Rondônia".
Não aparece indício no relatório de que o lobby prometido
por Vavá tenha sido de fato realizado. Na parte do inquérito à
qual Folha teve acesso existe
uma gravação, feita dois meses
após esse diálogo, em que Vavá
conversa com um advogado.
Nesse diálogo, o interlocutor
de Vavá indica que o presidente saberia das movimentações
do irmão em Brasília.
Ainda segundo esse diálogo,
Lula estaria contrariado com
as atitudes do irmão e teria
orientado um emissário da região do ABC a chamar Vavá para uma reunião com o presidente, em Brasília, para um puxão de orelhas.
A conversa ocorreu num período em que Vavá aparece nos
telefonemas gravados fazendo
inúmeros pedidos de dinheiro
a Servo. "Ô, arruma dois pau
pra eu?", disse Vavá ao empresário no dia 22 de março, três
dias antes da suposta visita do
presidente a sua casa.
Servo alegou que estava sem
dinheiro naquele momento,
mas pediu para Vavá telefonar
dali a quatro dias. "Mas tem
muita coisa pra ser feita, viu?",
prometeu Vavá.
Dias antes, em 11 de março,
novamente Vavá pediu dinheiro a Servo, R$ 5 mil, segundo a
PF. "Põe uns cinco, tá bom?",
pede o aposentado. Dois dias
depois do pedido, Servo informa a Vavá sobre o pagamento:
"Meu cunhado tá em São Paulo, eu pedi pra ele, meu cunhado, Serra, pra entregar pessoalmente aquele negócio. Falo
com você amanhã, então. (...)
Amanhã ele vai te entregar pessoalmente aquilo que eu fiquei
de colocar [no banco]".
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