São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Vavá usou nome de Lula para obter dinheiro, diz PF

Gravações mostram que irmão do presidente ofereceu lobby a empresário de bingo

Em diálogos gravados pela PF, Vavá tenta se mostrar influente; não há indício de que ele tenha conseguido executar o lobby prometido


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal indicam que o aposentado Genival Inácio da Silva, o Vavá, usou o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu irmão, para obter recursos do empresário de bingos Nilton Cezar Servo, preso pela Operação Xeque-Mate, desencadeada pela PF de Mato Grosso do Sul no início desta semana.
No conjunto de 617 interceptações que integram o inquérito que corre na 5ª Vara Federal de Campo Grande, às quais a Folha teve acesso, a voz de Vavá consta de 16 diálogos. Indiciado por supostos tráfico de influência e exploração de prestígio, ele aparece pedindo dinheiro a Servo e oferecendo lobby a um grupo agropecuário de Assis (SP) interessado em reverter uma decisão desfavorável no STJ (Superior Tribunal de Justiça). O telefone fixo da casa de Vavá, em São Bernardo do Campo, foi monitorado com autorização judicial.
Numa interceptação às 19h45 de 25 de março passado, um domingo, Vavá diz ao empresário que Lula esteve naquele dia em sua casa, em São Bernardo, por cerca de uma hora e meia. Lula passou aquele final de semana em sua residência, em São Bernardo, sem agenda oficial. "Eu falei pra ele sobre o negócio das máquinas lá. Ele [Lula] disse que só precisa andar mais rápido, né, bicho", relatou Vavá, que repete: "E eu falei com ele sobre o negócio das máquinas, né. Falou para mim pegar o rela... [inaudível] levar pra ele lá. Tá bom?".
Servo insinua ser próximo do presidente: "O Lula é meu irmão". Vavá demonstra entusiasmo com oportunidades que poderiam ocorrer dali para frente. "Precisa andar mais rápido com esse negócio das máquinas, viu. (...) Tem muito serviço agora", diz Vavá.
O relatório da PF sobre o teor dessa conversa é taxativo: "A análise da conversa indica que Vavá está usando o nome de seu irmão, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para conseguir dinheiro junto a Nilton Cezar Servo, contraventor que tem como principal fonte de renda a exploração do jogo de azar através de máquinas caça-níqueis em diversos Estados da Federação, tais como Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia".
Não aparece indício no relatório de que o lobby prometido por Vavá tenha sido de fato realizado. Na parte do inquérito à qual Folha teve acesso existe uma gravação, feita dois meses após esse diálogo, em que Vavá conversa com um advogado. Nesse diálogo, o interlocutor de Vavá indica que o presidente saberia das movimentações do irmão em Brasília.
Ainda segundo esse diálogo, Lula estaria contrariado com as atitudes do irmão e teria orientado um emissário da região do ABC a chamar Vavá para uma reunião com o presidente, em Brasília, para um puxão de orelhas.
A conversa ocorreu num período em que Vavá aparece nos telefonemas gravados fazendo inúmeros pedidos de dinheiro a Servo. "Ô, arruma dois pau pra eu?", disse Vavá ao empresário no dia 22 de março, três dias antes da suposta visita do presidente a sua casa.
Servo alegou que estava sem dinheiro naquele momento, mas pediu para Vavá telefonar dali a quatro dias. "Mas tem muita coisa pra ser feita, viu?", prometeu Vavá.
Dias antes, em 11 de março, novamente Vavá pediu dinheiro a Servo, R$ 5 mil, segundo a PF. "Põe uns cinco, tá bom?", pede o aposentado. Dois dias depois do pedido, Servo informa a Vavá sobre o pagamento: "Meu cunhado tá em São Paulo, eu pedi pra ele, meu cunhado, Serra, pra entregar pessoalmente aquele negócio. Falo com você amanhã, então. (...) Amanhã ele vai te entregar pessoalmente aquilo que eu fiquei de colocar [no banco]".


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