São Paulo, terça, 9 de junho de 1998

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VIAGEM AOS EUA
Presidente afirma que se deve olhar para a natureza dos gastos
FHC diz a empresários dos EUA que controla déficit

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Nova York

O presidente Fernando Henrique Cardoso tentou convencer cerca de 600 executivos brasileiros e norte-americanos de que o déficit fiscal no país não vai estourar.
Mas ele foi sincero, ao responder à primeira e principal questão que recebeu da platéia reunida pela Sociedade das Américas na Sala Imperial do Sheraton Hotel para ouvi-lo, que tratou desse tema: "Não é razoável pedir que se tente aprovar a reforma fiscal em ano eleitoral. Isso seria um pouco perigoso".
A audiência, nitidamente simpática a FHC, respondeu com bem humorados risos à resposta. Mas, ao menos à mesa em que o correspondente da Folha se sentou, sem se identificar, com ceticismo.
Um dos executivos norte-americanos à mesa 59 disse que um banco europeu está projetando o déficit fiscal brasileiro em 1998 para 7,5% do PIB; outro disse que já ouviu falar em 8% e um terceiro afirmou que, com a eleição presidencial apertada, como mostram as pesquisas, o governo não resistirá à tentação de gastar mais para mostrar serviço ao eleitorado e ampliar mais o déficit fiscal.
Descontado o evidente preconceito anti-América Latina que os executivos dessa mesa demonstravam (talvez por terem pago $ 350 por uma salada de alface, uma carne torrada e sem gosto, com duas batatas, e um creme brulée de chocolate intragável, mais vinhos da Califórnia e café aguado), há alguma ansiedade em relação ao futuro imediato do Brasil entre pessoas que ajudam empresas a tomar decisões sobre investimentos no país.

Campanha eleitoral
Nas suas respostas, em inglês, à audiência, FHC disse que não vai aumentar as despesas do governo por causa da campanha eleitoral "de jeito nenhum" e procurou ganhar a compreensão dos ouvintes para as características do déficit fiscal existente hoje no Brasil.
"É preciso olhar para a natureza do déficit, não apenas para os números", disse o presidente, argumentando que o aumento dos juros imposto pela crise asiática em outubro, a sanitarização das estatais indispensáveis antes de sua privatização, os problemas de 5.507 municípios e 27 Estados sobre os quais o governo federal não tem controle e a questão crônica da Previdência são fatores vitais.
"Por favor, olhem com maior profundidade para o déficit antes de dizer que ele está fora de controle", pediu o presidente. De um modo geral, a platéia foi muito simpática a FHC; os organizadores do evento, ainda mais.
O secretário do Comércio dos EUA no governo Bush, Robert Mosbacher, saudou o presidente com os maiores elogios possíveis.
No seu discurso, em português, ao contrário do que costuma fazer quando nos EUA, FHC disse que a inflação sob controle deve ser vista como "conquista irreversível".

Estabilidade
Mas, afirmou o presidente, a estabilidade é apenas um meio para se atingir o fim maior, "crescimento econômico sustentável, com a correção de sérias injustiças sociais herdadas do passado".
Apesar de ter colocado, como tem feito, na condicional sua condição de candidato à reeleição, FHC terminou seu discurso com referência indireta à campanha: "O apoio que eu recebo em meu país está relacionado com a confiança que os brasileiros me têm oferecido para continuar nesta trilha (estabilidade e crescimento econômico). Não há dúvida de que eu devo fazer exatamente isso".
Caso seja reeleito, assegurou FHC aos executivos, a reforma fiscal e a reforma política serão as prioridades de seu novo governo.
Entre as pessoas que ouviram FHC no almoço estavam representantes das mais importantes empresas do EUA com interesses no Brasil. Entre eles, os banqueiros David Rockfeller, do Chase, e William Rhodes, do Citibank.



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