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VIAGEM AOS EUA
Presidente afirma que se deve olhar para a natureza dos gastos
FHC diz a empresários dos
EUA que controla déficit
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Nova York
O presidente Fernando Henrique Cardoso tentou convencer
cerca de 600 executivos brasileiros
e norte-americanos de que o déficit fiscal no país não vai estourar.
Mas ele foi sincero, ao responder
à primeira e principal questão que
recebeu da platéia reunida pela
Sociedade das Américas na Sala
Imperial do Sheraton Hotel para
ouvi-lo, que tratou desse tema:
"Não é razoável pedir que se
tente aprovar a reforma fiscal em
ano eleitoral. Isso seria um pouco
perigoso".
A audiência, nitidamente simpática a FHC, respondeu com bem
humorados risos à resposta. Mas,
ao menos à mesa em que o correspondente da Folha se sentou, sem
se identificar, com ceticismo.
Um dos executivos norte-americanos à mesa 59 disse que um banco europeu está projetando o déficit fiscal brasileiro em 1998 para
7,5% do PIB; outro disse que já
ouviu falar em 8% e um terceiro
afirmou que, com a eleição presidencial apertada, como mostram
as pesquisas, o governo não resistirá à tentação de gastar mais para
mostrar serviço ao eleitorado e
ampliar mais o déficit fiscal.
Descontado o evidente preconceito anti-América Latina que os
executivos dessa mesa demonstravam (talvez por terem pago $ 350
por uma salada de alface, uma carne torrada e sem gosto, com duas
batatas, e um creme brulée de chocolate intragável, mais vinhos da
Califórnia e café aguado), há alguma ansiedade em relação ao futuro imediato do Brasil entre pessoas que ajudam empresas a tomar decisões sobre investimentos
no país.
Campanha eleitoral
Nas suas respostas, em inglês, à
audiência, FHC disse que não vai
aumentar as despesas do governo
por causa da campanha eleitoral
"de jeito nenhum" e procurou
ganhar a compreensão dos ouvintes para as características do déficit fiscal existente hoje no Brasil.
"É preciso olhar para a natureza do déficit, não apenas para os
números", disse o presidente, argumentando que o aumento dos
juros imposto pela crise asiática
em outubro, a sanitarização das
estatais indispensáveis antes de
sua privatização, os problemas de
5.507 municípios e 27 Estados sobre os quais o governo federal não
tem controle e a questão crônica
da Previdência são fatores vitais.
"Por favor, olhem com maior
profundidade para o déficit antes
de dizer que ele está fora de controle", pediu o presidente. De um
modo geral, a platéia foi muito
simpática a FHC; os organizadores
do evento, ainda mais.
O secretário do Comércio dos
EUA no governo Bush, Robert
Mosbacher, saudou o presidente
com os maiores elogios possíveis.
No seu discurso, em português,
ao contrário do que costuma fazer
quando nos EUA, FHC disse que a
inflação sob controle deve ser vista
como "conquista irreversível".
Estabilidade
Mas, afirmou o presidente, a estabilidade é apenas um meio para
se atingir o fim maior, "crescimento econômico sustentável,
com a correção de sérias injustiças
sociais herdadas do passado".
Apesar de ter colocado, como
tem feito, na condicional sua condição de candidato à reeleição,
FHC terminou seu discurso com
referência indireta à campanha:
"O apoio que eu recebo em meu
país está relacionado com a confiança que os brasileiros me têm
oferecido para continuar nesta trilha (estabilidade e crescimento
econômico). Não há dúvida de
que eu devo fazer exatamente isso".
Caso seja reeleito, assegurou
FHC aos executivos, a reforma fiscal e a reforma política serão as
prioridades de seu novo governo.
Entre as pessoas que ouviram
FHC no almoço estavam representantes das mais importantes
empresas do EUA com interesses
no Brasil. Entre eles, os banqueiros David Rockfeller, do Chase, e
William Rhodes, do Citibank.
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