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CHOQUE ENTRE PODERES
Presidente da Câmara defende instituição que relator da reforma do Judiciário propõe extinguir
Temer quer manter Justiça do Trabalho
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
A reação contrária à proposta
de extinção da
Justiça do Trabalho levou o
presidente da
Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), a intervir no projeto do relator
da reforma do Judiciário, Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP). Uma
nova proposta está em discussão,
mantendo a estrutura de tribunais
que o relator quer abolir.
Pela proposta de Temer, a Justiça
do Trabalho sofrerá apenas algumas alterações em sua estrutura.
Mesmo os juízes classistas podem
ser preservados, com novo nome.
"Houve muita confusão com relação ao relatório de Aloysio. Mantivemos a denominação de Justiça
do Trabalho como Justiça especializada. Ficaria difícil quebrar esse
símbolo", afirmou Temer, depois
da reunião com Nunes Ferreira e
os sub-relatores da reforma.
O relator negou que tenha feito
acordo para mudar o seu texto.
"Estou convencido de que a minha
proposta é a melhor. Vou analisar
a proposta de Temer com carinho", afirmou. Hoje haverá nova
rodada de negociação.
Prioridade
A votação em primeiro turno da
reforma do Judiciário ainda neste
semestre é a prioridade de Temer.
"Resolvi entrar nesse assunto para
tentar manter o cronograma", disse o presidente da Câmara.
Um dos itens da nova proposta
poderá significar a manutenção
dos juízes classistas, caso os juízes
de conciliação -a serem criados- sejam pagos pela União.
A junta de conciliação, formada
por representantes de entidades
patronais e de empregados, seria a
primeira instância para tentar solucionar a disputa trabalhista, de
acordo com o projeto.
Temer, Nunes Ferreira e o líder
do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), defenderam na reunião
que os juízes de conciliação sejam
pagos pelos sindicatos. "Caso contrário, seria manter os juízes classistas", afirmou Inocêncio.
Pela nova proposta, as juntas de
conciliação, já previstas pelo relator, deverão fazer parte da Justiça
do Trabalho. Serão criados juizados especiais, como prevê Nunes
Ferreira, e o TST (Tribunal Superior do Trabalho) será transformado em uma câmara do trabalho
que funcionará no STJ (Superior
Tribunal de Justiça).
Ainda segundo a proposta em
discussão, ficam mantidos os
TRTs (Tribunais Regionais do
Trabalho), em menor número, no
entanto. Atualmente há TRTs funcionando em 24 Estados.
"Reduzir o número é teoricamente razoável, mas não vejo como isso pode acontecer politicamente", disse Nunes Ferreira. Segundo ele, os deputados e os senadores não votarão uma lei que acabe com tribunais em seus Estados.
"Deputado não consente que se
feche nem posto fiscal no Estado.
Vão aprovar isso? Essa é a realidade", argumentou o relator. Pela
proposta de Nunes Ferreira, os
TRTs serão extintos e serão formadas varas especiais que funcionarão na Justiça Federal.
Apesar de defender sua proposta
original, o relator afirmou que vai
procurar o melhor caminho para
aprovar a reforma.
"Não há beco sem saída para político. Se não conseguir aprovar o
ideal, vou procurar um caminho
viável", disse Nunes Ferreira.
Justiça do Trabalho
O ministro da Justiça, Renan Calheiros, condenou ontem a proposta de extinção da Justiça trabalhista, particularmente do TST.
"A Justiça do Trabalho é a Justiça
dos mais pobres, dos mais necessitados, das pessoas que efetivamente precisam da prestação jurisdicional. Ela não pode acabar", disse
Calheiros, ainda sem saber das
mudanças na proposta de Ferreira
em discussão no Congresso.
Para ele, "não há como transferir
a competência do TST para o Superior Tribunal de Justiça", conforme propõe Nunes Ferreira.
Calheiros é o segundo ministro
de Estado a sair em defesa da Justiça do Trabalho. Francisco Dornelles (Trabalho) afirmou recentemente que a sua extinção representaria um retrocesso.
Calheiros condenou, "em caráter
pessoal", o fim da Justiça trabalhista após receber o presidente do
TST, ministro Wagner Pimenta.
Colaborou Silvana de Freitas, da Sucursal de
Brasília
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