São Paulo, domingo, 09 de julho de 2000


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ELEIÇÕES/RJ
Candidato do PTB à Prefeitura do Rio se compara ao atacante Romário, do Vasco, "que faz gol e ganha jogo"
Após derrota, Cesar Maia arquiva imagem de "maluco"

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA SUCURSAL DO RIO

O "maluco" acalmou. Após amargar sua primeira derrota eleitoral na campanha para governador, em 98, Cesar Maia (PTB) resolveu adotar uma imagem que ele próprio define como "clean" para tentar chegar pela segunda vez à Prefeitura do Rio.
"O maluco era uma figura simpática, realizadora, ousada", afirma Maia, admitindo ter "quase" perdido o controle do personagem. Ele ganhou esse selo por atos como varrer o Sambódromo no Carnaval de 1993, pedir sorvete em um açougue, ou usar sempre um casaco azul -mesmo suando em bicas.
Há dois anos, o personagem, involuntário, era outro: o do arrogante. "Foi o efeito de uma eleição que não deu certo", minimiza ele, que agora conta com o apoio do presidenciável Ciro Gomes (PPS) -"minha referência nacional".
Com 32% de intenção de votos na última pesquisa Datafolha (realizada dia 29), Maia largou na frente da corrida pela prefeitura e quer vender a imagem de realizador, "aquele que faz". Para se diferenciar dos concorrentes, que "tocam a bola para o lado, são cheios de firulas e não gostam de dividida", Maia se compara a Romário - "que faz gol e ganha jogo". Mas um Romário que gosta de treinar antes do jogo. Está em campanha desde o final de agosto de 99.
Gosta de dizer que ninguém faz tanta "rua" quanto ele e que isso será um diferencial. "Estou em campanha permanente", afirma, dizendo-se um "trotkista na comunicação" -alusão ao conceito de revolução permanente.
O dia padrão de Maia principia às 5h30, quando ele acorda e lê os jornais; às 8h, ele começa a agenda de rua; passa a tarde no escritório, tendo encontros políticos e respondendo aos quase 150 e-mails que recebe por dia; à noite, ele faz reuniões domiciliares. Para aguentar o ritmo, dorme cinco horas e meia e toma "umas vitaminas" que a mulher dá.
Até agora ele concentrou seus esforços na periferia, onde, segundo suas pesquisas, sua popularidade é menor. Com a oficialização da campanha pela Justiça Eleitoral, a estratégia muda. Maia dividiu a cidade em zonas e tentará dar atenção a todas de acordo com o peso eleitoral para vencer.
Com a derrota de 98, o ex-prefeito viveu momentos de depressão, tratados com doses cavalares de "Tannhäuser", de Wagner, e com uma temporada de ópera em Nova York. Maia reconhece que ópera é o seu Prozac. "Ela me dá muita energia, muita euforia."
Talvez por causa do vento a favor, não seja ópera e sim Agnaldo Timóteo que ele prefira escutar no carro, na última quarta-feira, ao deixar a favela Fernão Cardim, em Del Castilho (zona norte).
Aos 55 anos, Maia diz ter aprendido com a derrota e fez uma autocrítica. "Desde os bancos de escola, de representante de turma a orador, eu fui ganhando tudo e não me preparei para perder."
Em sua nova tática, "clean", optou por se manter longe da mídia, evitar críticas diretas e o tom agressivo que o caracterizou nas últimas eleições. Maia conta que os assessores se esforçaram para que ele "suavizasse" a própria imagem. Nessa nova fase, condena os factóides -expressão para definir "fatos carregados de imagem", mas que, admite, ganhou um cunho pejorativo. "Em 1992 (quando se candidatou a prefeito), isso era importante. Agora não", afirma. Será?
Na quarta à noite, em uma palestra, ele prometeu criar um "corredor climatizado" em Bangu e transformar o bairro -o mais quente e um dos mais pobres do Rio- na "Amsterdã carioca".



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