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CONVÊNIO
Tratado, assinado em abril, permite que norte-americanos lancem satélites da base de Alcântara, no Maranhão
Acordo espacial Brasil-EUA é contestado
THOMAS TRAUMANN
SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL
Políticos de oposição, cientistas
e militares preparam um ataque
contra o acordo em que o Brasil
aluga parte da base espacial de Alcântara (MA) para os Estados
Unidos. Afirmam que o contrato
fere a soberania nacional e que favorece apenas os EUA.
O acordo permite que os EUA
lancem os seus satélites do Brasil.
Foi assinado em abril, mas precisa
da aprovação dos Congressos dos
dois países para entrar em vigor.
Pelo uso da base, os EUA pagarão US$ 5 milhões a cada operação de lançamento. Estão previstos seis lançamentos anuais.
O contrato proíbe que o dinheiro seja investido no desenvolvimento tecnológico do programa
espacial brasileiro. "Essa imposição é uma excrescência. O acordo
é um atestado final de submissão
aos EUA", atacou o coronel da reserva Geraldo Cavagnari, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Nunca li um contrato tão benéfico a um país quanto este. O Brasil não tem nada a ganhar tecnologicamente", disse o físico Rogério
Cerqueira Cezar Leite, professor
emérito da Unicamp. O governo
afirma que o contrato é vantajoso
para o país e que está negociando
acordos em bases semelhantes
com a Ucrânia e a Itália.
"Esse é um acordo comercial,
não de cooperação científica. Por
isso, cria barreiras para impedir a
transferência de tecnologia. É assim em qualquer país do mundo",
declarou o presidente da Agência
Espacial Brasileira, Luiz Gylvan
Meira Filho.
"Eu não assinaria isso", afirmou
o major-brigadeiro da reserva
Hugo de Oliveira Piva, que trabalhou por 18 anos no programa espacial brasileiro e foi um dos idealizadores da base de Alcântara.
Há setores militares, no entanto,
a favor do entendimento Brasil-EUA. O ex-ministro da Aeronáutica Sócrates Monteiro disse que o
país não tem dinheiro para investir na base de Alcântara.
"Não foram os vendilhões da
pátria que assinaram o acordo.
Ele é duro como qualquer acordo
americano. Estamos alugando
uma área porque precisamos de
recursos e é natural que eles queiram proteger a sua tecnologia de
ponta."
Quando o acordo entrar em
prática, os EUA terão direito ainda a uma área exclusiva na base de
Alcântara, na qual apenas poderão entrar brasileiros com crachá
entregue pelos EUA. O Brasil
também não terá direito a abrir os
contêineres com os satélites estrangeiros. "Quando lançamos
um satélite brasileiro da Flórida,
também não deixamos que eles
inspecionem nossos contêineres.
É uma prática comum", disse
Meira Filho.
Há resistências ao projeto também no Congresso. O deputado
federal José Genoino (PT-SP) pretende convocar em agosto os ministros da Defesa, Geraldo Quintão, da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, e o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Baptista, para explicar os termos do acordo.
"É uma cessão de soberania. Os
Estados Unidos precisam saber
que isso não vai passar fácil no
Congresso", afirmou Genoino.
O contrato terá que ser analisado pelas comissões mistas de Defesa, Ciência e Tecnologia e Constituição e Justiça e votado no plenário. Os congressistas não podem mudar os termos do acordo.
Apenas aprová-lo ou rejeitá-lo.
"Querem transformar Alcântara numa base militar americana,
como foi o Canal do Panamá",
acusou o vice-prefeito de São
Luís, Domingos Dutra (PT), autor
da ação. Assinado depois de quatro anos de negociação, o acordo
de Alcântara faz parte da aproximação militar entre Brasil e EUA.
Detalhe: foi o Brasil que se empenhou pela formalização do
acordo. Desde 1983, o Brasil já investiu cerca de US$ 100 milhões
nas instalações da base de Alcântara. Para concluí-la, são necessários ainda outros US$ 50 milhões.
No Orçamento deste ano, estão
previstos R$ 8 milhões.
A cidade de Alcântara (a 22 km
de São Luís) vive do contraste entre pesquisa de ponta e miséria.
Tem o único centro de lançamento espacial do país.
Simultaneamente, tem apenas
uma ambulância para 22 mil habitantes. Cerca de 60% dos moradores de Alcântara são analfabetos, moram na zona rural e não
têm acesso a energia elétrica.
Há na cidade um único hospital
e uma escola de segundo grau.
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