São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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Renda financeira do rico sobe 66%; a do trabalhador, 19%

Beneficiados por altas taxas de juros, rentistas têm ganhos reais superiores aos dos assalariados e atingidos por programas sociais

Setor público gasta com juros o dobro do que coloca em programas sociais como Bolsa-Família e benefícios subsidiados da Previdência

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao declarar na semana passada ter R$ 474,6 mil em aplicações financeiras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquadra-se no seleto grupo de brasileiros "rentistas".
Os 10% mais ricos do país e que, como Lula, têm dinheiro aplicado a juros obtiveram um rendimento médio financeiro real (acima da inflação) de 65,8% entre 2001 e 2004.
Já os 20% mais pobres que vivem da renda do trabalho tiveram um aumento nos ganhos de 19,2% no mesmo período.
Ou seja, a renda do trabalho dos 20% mais pobres cresceu menos de 30% do aumento real da renda financeira dos 10% mais ricos do país.
A evolução do ganho financeiro dos mais ricos é ainda quase três vezes superior ao crescimento batizado como "chinês" da renda dos 10% mais pobres entre 2001 e 2004.
No período, a renda desses 10% mais pobres subiu 23,3%, puxada pelos benefícios previdenciários vinculados ao salário mínimo e por programas sociais como o Bolsa-Família, segundo cálculos do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas.
Os dados sobre a enorme diferença do crescimento da renda do trabalho entre os mais pobres e os ganhos financeiros dos mais ricos foram elaborados pelo economista Marcio Pochmann, da Unicamp.
Os resultados mostram também que nos últimos dez anos os ganhos obtidos pelos mais ricos com outras formas de renda (juros, lucros, aluguéis) cresceram a um ritmo 4,9 vezes acima do da renda do trabalho.
"Os números revelam não ser exatamente verdade que o governo Lula faz uma opção só pelos pobres", diz Pochmann.
Hoje, os R$ 80 bilhões que o governo gasta com 30 milhões de benefícios subsidiados totalmente (como o Bolsa-Família) ou parcialmente (alguns itens da Previdência) equivalem apenas à metade do que todo o setor público compromete para pagar em juros de sua dívida.
Por causa dos altos juros, os R$ 474,6 mil de Lula no banco, por exemplo, chegam a render mais de dez salários mínimos por mês se estiverem aplicados a uma provável taxa de juros mensal ao redor de 1%.
Os juros pagos aos "rentistas" já se aproximam de tudo o que se arrecada em impostos. Em 2005, a carga tributária atingiu 36,5% do PIB (Produto Interno Bruto). A carga financeira apropriada pelos "rentistas", 32%. (FERNANDO CANZIAN)


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