|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
No ano que vem Nosso Guia vira milionário
Por que Paulo Okamotto quitou dívida de R$ 29.436 de Lula, se ele tinha R$ 150 mil no banco, rendendo juros?
|
A APOTEOSE PATRIMONIAL de Lula,
cujo ervanário passou de R$ 423
mil em 2002 para R$ 839 mil
(um crescimento de 98%), é um monumento ao privilégio, à gulodice e à soberba. Reeleito, Lula se transformará
num declarado milionário lá pelo segundo semestre do ano que vem. Nosso
Guia enriqueceu em 2003, quando decidiu acumular a pensão de R$ 3.862 do
Bolsa-Ditadura que recebe desde 1996,
com o salário de presidente da República (R$ 6.830 líquidos).
Lula tinha 51 anos quando aliviou seu
orçamento com o Bolsa-Ditadura, por
conta da perda de um mandato sindical
e de 51 dias de cadeia, sofridos em maio
de 1980. Para colocar a ditadura no seu
devido lugar, vale lembrar que nessa
época o AI-5 já fora ao lixo e o presidente João Figueiredo sancionara a Lei da
Anistia. Leonel Brizola e Luiz Carlos
Prestes (PCB) já haviam voltado ao
Brasil. Lula fundara o PT em fevereiro.
Nosso Guia achou que tinha direito a
um conforto e a lei lhe deu razão.
No dia 1º de janeiro de 2003 o bolsista
tornou-se presidente da República,
com salário, casa, comida roupa lavada,
carro na porta e avião na pista. Tinha
um patrimônio formado por três apartamentos, um terreno, um carro e R$
117 mil rendendo juros. Cabia-lhe decidir se acompanhava a tradição, tomando à bolsa da Viúva tudo a que tinha direito. (Os generais acumulavam proventos resultantes de pelo menos 30
anos de serviço. Num cálculo grosseiro,
recebiam cerca de R$ 20 mil mensais.
FFHH, somava uma Bolsa-USP, perfazendo uns R$ 12 mil.)
Neste mês, como parte dos festejos
do veto que seus ministros ameaçam
impor ao acesso das empregadas domésticas ao FGTS (benefício que sempre recebeu), Nosso Guia ganhou um
aumento de 5% na pensão. Sua aposentadoria especial passou para R$ 4.508
mensais.
Estimando-se que a vida lhe custe
apenas R$ 3.000 por mês, e que poupe
R$ 8.000, Lula conseguirá seu primeiro
milhão de reais no segundo semestre
do ano que vem. (Essa conta inclui o dízimo petista, despesas de condomínio,
limpeza, luz e telefone em São Bernardo. Fica à vontade do freguês uma estimativa com as despesas de vestuário.)
O sindicalista que até 2002 aplicou
seu dinheiro em tijolos, como fazem
quase todos os trabalhadores brasileiros, mudou de turma. A parte de seu patrimônio diretamente relacionada com
a produção e o emprego (três apartamentos e um carro) equivalia a 62% do
ervanário.
Suas aplicações na taxa de juros somavam R$ 117,5 mil (28%). Passados
quatro anos, inverteu sua relação com a
economia nacional. Assim como os barões do café do final do século 19 e os
marqueses da estagnação do 21, aninhou-se em negócios baseados nos juros da dívida pública. É lá que estão R$
474,6 mil, 56% do patrimônio-companheiro. Com uma diferença: agora
quem faz a dívida é seu governo. A cada
mês ganha mais como bolsista-rentista
do que como presidente. Não se diga
que Lula é incapaz de investir na produção de uma empresa, pois pingou R$
1.800 em ações da Petrobrás.
A apoteose patrimonial de Lula sugere uma pergunta: Por que aceitou que
Paulo Okamotto, tesoureiro de suas
campanhas em 1994 e 1998, pagasse
com dinheiro próprio uma dívida de R$
29.436 cobrada pelo PT, no cumprimento da Lei Eleitoral? O doador universal não estava tão abonado assim.
Dividiu a fatura em quatro prestações,
entre dezembro de 2003 e março de
2004. Nessa época Lula tinha uns R$
150 mil na banca.
Recordar é viver. Em 1960 a Força
Aérea criou a patente de marechal-do-ar. O brigadeiro Eduardo Gomes, duas
vezes candidato à Presidência (1945 e
1949), opunha-se à medida. Achava-a
errada, e não queria deixar de ser "o brigadeiro".
Suportou o marechalato sem dizer
uma palavra. Em 85 anos de vida,
Eduardo Gomes falou menos que Lula
numa semana. Depois de sua morte,
em 1981, soube-se que a cada mês, ao
receber o salário de marechal, calculava
quanto ganharia se continuasse a ser
brigadeiro. Fazia um cheque com a diferença e remetia-o a alguma instituição religiosa. No Rio, ajudava um orfanato.
Bomba V-2
Tem gente muito boa em
Brasília suspeitando de que no
meio da campanha eleitoral
surgirá alguma novidade terrível relacionada com o caso do
assassínio do prefeito Celso
Daniel, ocorrido em 2002.
Furo na caixa
De um conselheiro de Lula:
"A candidatura tem dois buracos: Não fala para a classe
média e não tem um discurso
para a questão ética".
PPP amazônica
O resultado da licitação de
duas hidrelétricas no rio Madeira, em Rondônia, pode acabar em mau olhado de parte dos conhecedores do mercado
barrageiro. É coisa de dezenas
de bilhões de dólares e teme-se
que o preço da energia a ser gerada saia muito, mas muito
mais caro do que se paga pelo
mundo afora.
O negócio poderá resultar na
primeira grande PPP (Parceria
Público Privada, podem me
chamar de Pleito dos Privatas
Paleolíticos). Como sempre, a
conta só fecha se o velho e bom
BNDES entrar com seu dinheiro. Obra desse tamanho, quando contratada em campanha
eleitoral, acaba em encrenca.
Vassoura de ladrão
Geraldo Alckmin diz que pretende "varrer a corrupção de
Brasília".
Podia ter economizado a
mistificação demagógica. O último político que se valeu da
vassoura como símbolo de
campanha foi Jânio Quadros.
Foi também o único presidente
a ter fortuna secreta na Suíça
disputada na Justiça. Sua filha,
que revelou o número da conta,
foi ao STJ buscar o direito de
procurar o dinheiro que Jânio
escondera em outro banco.
Çabedoria
O ministro do Trabalho, Luiz
Marinho, nunca trabalhou sem
a proteção do FGTS, mas argumenta que os empregados domésticos não podem receber
esse benefício porque os patrões reagirão demitindo os
trabalhadores que têm carteira
assinada. Portanto, a providência piorará a vida do andar de
baixo. Marinho talvez não saiba, mas sua parolagem é velha.
Em 1865, no debate da lei que
libertaria os escravos com mais
de 60 anos, o deputado Dias
Carneiro disse o seguinte:
"Que gênero de felicidade
proporciona-se a um sexagenário que passou a vida no cativeiro, onde formou hábitos, adquiriu necessidades, atou relações,
oferecendo-lhe a liberdade
quando mais precisa da proteção de seus senhores?"
Para que não se pense que o
Brasil foi governado por néscios, fala Nabuco de Araújo, um
dos maiores homens do seu século: "O pouco serve hoje, o
muito amanhã não basta".
(Marinete e Maria, irmãs de
Lula, foram empregadas domésticas. Marisa, sua mulher,
foi babá dos 9 aos 14 anos.)
Voto aberto
De uma trabalhadora, com
30 anos de batalha nas costas:
"Vou votar naquela maluca".
Paulistério
Houve um tempo em que os
articuladores da candidatura
de Geraldo Alckmin à Presidência da República sustentavam que ele era a pessoa certa
para dissolver o paulistério do
PSDB.
Alckmin montou a equipe
que escreverá seu programa.
Numa apresentação preliminar, reuniu 15 pessoas. Doze
são paulistas, nativos ou adotados.
Texto Anterior: Eleições 2006/Presidência: Governo não quer discutir fim da CPMF na campanha Próximo Texto: Eleições 2006/Estados: Irmão de Ciro vai usar sócio de Duda na campanha Índice
|