São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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ELIO GASPARI

No ano que vem Nosso Guia vira milionário


Por que Paulo Okamotto quitou dívida de R$ 29.436 de Lula, se ele tinha R$ 150 mil no banco, rendendo juros?

A APOTEOSE PATRIMONIAL de Lula, cujo ervanário passou de R$ 423 mil em 2002 para R$ 839 mil (um crescimento de 98%), é um monumento ao privilégio, à gulodice e à soberba. Reeleito, Lula se transformará num declarado milionário lá pelo segundo semestre do ano que vem. Nosso Guia enriqueceu em 2003, quando decidiu acumular a pensão de R$ 3.862 do Bolsa-Ditadura que recebe desde 1996, com o salário de presidente da República (R$ 6.830 líquidos).
Lula tinha 51 anos quando aliviou seu orçamento com o Bolsa-Ditadura, por conta da perda de um mandato sindical e de 51 dias de cadeia, sofridos em maio de 1980. Para colocar a ditadura no seu devido lugar, vale lembrar que nessa época o AI-5 já fora ao lixo e o presidente João Figueiredo sancionara a Lei da Anistia. Leonel Brizola e Luiz Carlos Prestes (PCB) já haviam voltado ao Brasil. Lula fundara o PT em fevereiro. Nosso Guia achou que tinha direito a um conforto e a lei lhe deu razão.
No dia 1º de janeiro de 2003 o bolsista tornou-se presidente da República, com salário, casa, comida roupa lavada, carro na porta e avião na pista. Tinha um patrimônio formado por três apartamentos, um terreno, um carro e R$ 117 mil rendendo juros. Cabia-lhe decidir se acompanhava a tradição, tomando à bolsa da Viúva tudo a que tinha direito. (Os generais acumulavam proventos resultantes de pelo menos 30 anos de serviço. Num cálculo grosseiro, recebiam cerca de R$ 20 mil mensais. FFHH, somava uma Bolsa-USP, perfazendo uns R$ 12 mil.)
Neste mês, como parte dos festejos do veto que seus ministros ameaçam impor ao acesso das empregadas domésticas ao FGTS (benefício que sempre recebeu), Nosso Guia ganhou um aumento de 5% na pensão. Sua aposentadoria especial passou para R$ 4.508 mensais.
Estimando-se que a vida lhe custe apenas R$ 3.000 por mês, e que poupe R$ 8.000, Lula conseguirá seu primeiro milhão de reais no segundo semestre do ano que vem. (Essa conta inclui o dízimo petista, despesas de condomínio, limpeza, luz e telefone em São Bernardo. Fica à vontade do freguês uma estimativa com as despesas de vestuário.)
O sindicalista que até 2002 aplicou seu dinheiro em tijolos, como fazem quase todos os trabalhadores brasileiros, mudou de turma. A parte de seu patrimônio diretamente relacionada com a produção e o emprego (três apartamentos e um carro) equivalia a 62% do ervanário.
Suas aplicações na taxa de juros somavam R$ 117,5 mil (28%). Passados quatro anos, inverteu sua relação com a economia nacional. Assim como os barões do café do final do século 19 e os marqueses da estagnação do 21, aninhou-se em negócios baseados nos juros da dívida pública. É lá que estão R$ 474,6 mil, 56% do patrimônio-companheiro. Com uma diferença: agora quem faz a dívida é seu governo. A cada mês ganha mais como bolsista-rentista do que como presidente. Não se diga que Lula é incapaz de investir na produção de uma empresa, pois pingou R$ 1.800 em ações da Petrobrás.
A apoteose patrimonial de Lula sugere uma pergunta: Por que aceitou que Paulo Okamotto, tesoureiro de suas campanhas em 1994 e 1998, pagasse com dinheiro próprio uma dívida de R$ 29.436 cobrada pelo PT, no cumprimento da Lei Eleitoral? O doador universal não estava tão abonado assim. Dividiu a fatura em quatro prestações, entre dezembro de 2003 e março de 2004. Nessa época Lula tinha uns R$ 150 mil na banca.
Recordar é viver. Em 1960 a Força Aérea criou a patente de marechal-do-ar. O brigadeiro Eduardo Gomes, duas vezes candidato à Presidência (1945 e 1949), opunha-se à medida. Achava-a errada, e não queria deixar de ser "o brigadeiro".
Suportou o marechalato sem dizer uma palavra. Em 85 anos de vida, Eduardo Gomes falou menos que Lula numa semana. Depois de sua morte, em 1981, soube-se que a cada mês, ao receber o salário de marechal, calculava quanto ganharia se continuasse a ser brigadeiro. Fazia um cheque com a diferença e remetia-o a alguma instituição religiosa. No Rio, ajudava um orfanato.

Bomba V-2
Tem gente muito boa em Brasília suspeitando de que no meio da campanha eleitoral surgirá alguma novidade terrível relacionada com o caso do assassínio do prefeito Celso Daniel, ocorrido em 2002.

Furo na caixa
De um conselheiro de Lula:
"A candidatura tem dois buracos: Não fala para a classe média e não tem um discurso para a questão ética".

PPP amazônica
O resultado da licitação de duas hidrelétricas no rio Madeira, em Rondônia, pode acabar em mau olhado de parte dos conhecedores do mercado barrageiro. É coisa de dezenas de bilhões de dólares e teme-se que o preço da energia a ser gerada saia muito, mas muito mais caro do que se paga pelo mundo afora.
O negócio poderá resultar na primeira grande PPP (Parceria Público Privada, podem me chamar de Pleito dos Privatas Paleolíticos). Como sempre, a conta só fecha se o velho e bom BNDES entrar com seu dinheiro. Obra desse tamanho, quando contratada em campanha eleitoral, acaba em encrenca.

Vassoura de ladrão
Geraldo Alckmin diz que pretende "varrer a corrupção de Brasília".
Podia ter economizado a mistificação demagógica. O último político que se valeu da vassoura como símbolo de campanha foi Jânio Quadros. Foi também o único presidente a ter fortuna secreta na Suíça disputada na Justiça. Sua filha, que revelou o número da conta, foi ao STJ buscar o direito de procurar o dinheiro que Jânio escondera em outro banco.

Çabedoria
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, nunca trabalhou sem a proteção do FGTS, mas argumenta que os empregados domésticos não podem receber esse benefício porque os patrões reagirão demitindo os trabalhadores que têm carteira assinada. Portanto, a providência piorará a vida do andar de baixo. Marinho talvez não saiba, mas sua parolagem é velha.
Em 1865, no debate da lei que libertaria os escravos com mais de 60 anos, o deputado Dias Carneiro disse o seguinte:
"Que gênero de felicidade proporciona-se a um sexagenário que passou a vida no cativeiro, onde formou hábitos, adquiriu necessidades, atou relações, oferecendo-lhe a liberdade quando mais precisa da proteção de seus senhores?"
Para que não se pense que o Brasil foi governado por néscios, fala Nabuco de Araújo, um dos maiores homens do seu século: "O pouco serve hoje, o muito amanhã não basta".
(Marinete e Maria, irmãs de Lula, foram empregadas domésticas. Marisa, sua mulher, foi babá dos 9 aos 14 anos.)

Voto aberto
De uma trabalhadora, com 30 anos de batalha nas costas:
"Vou votar naquela maluca".

Paulistério
Houve um tempo em que os articuladores da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República sustentavam que ele era a pessoa certa para dissolver o paulistério do PSDB.
Alckmin montou a equipe que escreverá seu programa. Numa apresentação preliminar, reuniu 15 pessoas. Doze são paulistas, nativos ou adotados.


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