São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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Advogado de Dantas diz ter papéis contra PT

Nélio Machado critica a PF e ameaça divulgar documentos sobre suposta pressão que o banqueiro teria sofrido do governo

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, ameaçou divulgar supostos documentos contra o PT que estariam na Justiça norte-americana e atribuiu a prisão do banqueiro à guerra societária havida entre o Opportunity, fundos de pensão ligados a estatais e a Telecom Itália pelo controle da empresa de telefonia Brasil Telecom.
""Não medirei esforços em trazer à baila tudo o que eu reputar relevante para preservar direitos básicos do meu cliente", afirmou ele.
Segundo sua defesa, Dantas entregou vários documentos à Justiça de Nova York, sobre suposta pressão que teria sofrido do governo e de pessoas do PT, como parte de sua defesa em ação judicial movida contra ele pelo Citigroup, nos EUA.
A ação foi extinta em abril, quando Citi e Opportunity fizeram acordo judicial para viabilizar a compra da Brasil Telecom pela Oi. Com o fim da ação, segundo Machado, o acesso aos documentos está proibido. Aventou recorrer à diplomacia para obter os papéis, que têm cláusulas de confidencialidade.
Ele também disse que vai pedir que a Justiça solicite cópias de depoimentos, na Itália, prestados por ex-seguranças da Telecom Itália sobre suposto pagamento de corrupção pela multinacional no Brasil.
Embora vincule a prisão de Dantas à briga das teles, o advogado do banqueiro afirmou que a venda da Brasil Telecom para a Oi não será afetada ""pelo espasmo acusatório desmedido".
A ameaça de divulgação de documentos contra o PT foi recebida com ceticismo por executivos ligados à Brasil Telecom. A documentação que Dantas entregou à Justiça norte-americana, segundo eles, conteria acusações, sem provas, de tentativa de extorsão, e recortes de textos de jornais.

Ditadura
Dizendo-se surpreso com a operação, Machado qualificou as prisões de ilegais e fez críticas à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Disse que o "Estado policial tem prevalecido sobre o Estado de Direito", e que o governo atual dá tratamento pior ao direito de defesa do que o concedido no tempo do AI-5 (Ato Institucional nº 5, de 1968, que suspendeu o Estado de Direito).
A PF, segundo o advogado, prendeu acionistas, dirigentes e funcionários do banco Opportunity sem que tivessem sido chamados previamente a prestar esclarecimentos.
Questionou o fato de dirigentes do PT nunca serem presos nas diligências da Polícia Federal e citou o envolvimento do irmão mais velho do presidente Lula, Genivaldo Inácio da Silva, na Operação Xeque-Mate, de combate ao contrabando de peças de máquinas caça-níqueis, em junho do ano passado.
Segundo o advogado, enquanto empresários, que dão empregos, são presos, ""Vavá foi chamado de ingênuo por Lula, e não passou disso".
Machado afirmou que não tivera acesso às acusações contra seus clientes e afirmou desconhecer a acusação de corrupção de um delegado da Polícia Federal contra Daniel Dantas.
Ele acusou a Polícia Federal de restringir a ação dos advogados de defesa, ao permitir o acesso de apenas um advogado por cliente. "A Constituição, no que diz respeito ao direito de ampla defesa, é uma falácia. Tenho saudade do tempo de exceção. Como advogado, nunca senti dificuldade para o exercício da advocacia como agora. A advocacia passou a ser atividade de risco", afirmou.
Conselheiro federal da OAB, Machado queixou-se de que os advogados têm seus telefones grampeados, quando a Justiça quebra o sigilo de seus clientes.


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