São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2000


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FINANCIAMENTO
Ex-ministro Bresser diz que Andrade Vieira não participou do fechamento das contas da campanha de 94
Para Bresser, sobra de R$ 130 mi é delírio

SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração) disse ontem que o ex-ministro José Eduardo Andrade Vieira "está delirando" ao afirmar que as sobras da campanha eleitoral de 1994 do presidente Fernando Henrique Cardoso foram de R$ 130 milhões.
Em entrevista à Folha, Andrade Vieira afirmou que as sobras estimadas da campanha de 94 foram de R$ 130 milhões. Segundo ele, R$ 30 milhões ficaram no caixa oficial da campanha e R$ 100 milhões no caixa extra-oficial.
"É um delírio. A campanha toda custou muito menos que isso", disse Bresser, que presidiu o Comitê Financeiro da campanha de FHC em 1994.
Segundo a prestação de contas das eleições de 1994 de FHC registrada e aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sobrou apenas R$ 1,86 milhão. No TSE, consta que foram arrecadados R$ 33,62 milhões para o caixa de campanha presidencial de FHC.
Desse total, segundo o TSE, foram gastos R$ 31,71 milhões. O PSDB divulgou ontem nota oficial sobre as prestações de contas das duas campanhas presidenciais de FHC.
Na nota, o PSDB informou um valor das sobras do caixa de 1994 -R$ 1,68 milhão- menor do que está registrado no TSE. A diferença é de R$ 180,8 mil em relação ao número do TSE. A explicação do partido para a diferença é que, depois da prestação de contas, houve pagamento de outras despesas.
Bresser Pereira disse que Andrade Vieira não participou do fechamento das contas da campanha de 94. "No começo da campanha, ele deu uma mãozinha no Paraná. Usou a sua influência no Paraná para conseguir uma das primeiras contribuições para a campanha", afirmou Bresser. "Mas foi pouca coisa", disse o ex-ministro da Administração, referindo-se à doação de campanha arrecadada por Andrade Vieira.
"Ele (Andrade Vieira) estava a 500 quilômetros de distância de quem estava fechando a campanha, que éramos eu, o Serjão (Sérgio Motta, ex-ministro das Comunicações, morto em 1998) e o Egydio Bianchi (ex-vice-presidente do Comitê Financeiro da campanha)", disse Bresser.
Egydio Bianchi afirmou desconhecer as cifras de sobras de campanha citadas por Andrade Vieira. "Tudo o que sobrou ficou registrado no TSE", disse Bianchi.

Eduardo Jorge
Bresser Pereira criticou a imprensa e "setores do Ministério Público" pelas denúncias que vêm sendo publicadas nas últimas semanas contra o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira. "A imprensa e alguns promotores, a partir de alguns indícios, julgam, condenam e fazem um escândalo. Só falta pôr na cadeia. Como diz lá o irmão do Eduardo Jorge, quem é que devolve a honra?".
Segundo Bresser, nada foi descoberto contra EJ. "E, no entanto, está se fazendo um escândalo em cima disso. Não se acrescenta nada e tem manchete todo dia. É uma coisa absurda. Isso numa democracia em que as pessoas têm respeito umas pelas outras, em que o debate público é uma coisa séria. Não pode acontecer uma coisa dessa. Isso é a imprensa associada a setores do Ministério Público enlouquecido".
Bresser Pereira atacou, sem identificar nominalmente, os procuradores que são alvo de suas críticas. "Esses (procuradores) que verificam algumas coisas que não lhes parecem boas e vão para a imprensa antes de verificar todo o resto, antes de ter prova. Isso é uma violência inaceitável contra o cidadão", disse.

Lobby
Bresser Pereira disse que EJ não cometeu nenhum crime se fez lobby depois que deixou o governo. "Se ele fez algum tipo de lobby, isso não é crime. E há lobbies e lobbies. Há lobbies bons e lobbies maus."
Segundo o ex-ministro, "é preciso estabelecer regras claras para para quem sai do governo". Bresser disse que tentou fazer isso quando era ministro da Administração.
"No Conselho da Reforma do Estado, nós chegamos a propor regras para isso, como a exigência da quarentena e até o pagamento de salário em alguns casos." Ele não soube explicar por que essa proposta não foi implementada pelo governo FHC.


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