São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2000


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AUTO-IMAGEM
Moradores das regiões de Vila Maria, reduto do janismo, e Campo Limpo dizem posicionar-se mais à direita
Direita predomina nos extremos de SP

Jorge Araújo - 12.jun.00/Folha Imagem
Os candidatos Paulo Maluf (PPB) e Romeu Tuma (PFL), que têm eleitores entre os paulistanos que se declaram mais à direita, conversam na TV Bandeirantes


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

As regiões localizadas nos extremos norte e sul da cidade de São Paulo têm eleitorado com perfil de direita.
Na Vila Maria, reduto histórico do janismo, 35% se colocam mais à direita, contra 17% que se dizem de esquerda -excluídas as pessoas que não souberam responder ou deram outras respostas.
Localizada no extremo norte da cidade, a área da Vila Maria compreende ainda os bairros de Tremembé, Mandaqui, Tucuruvi, Jaçanã, Vila Medeiros e Vila Guilherme, de acordo com critério adotado pelo Datafolha.
"O pessoal mais velho do bairro ainda se lembra de quando a Vila Maria era chamada de Mato Grosso, em homenagem ao Jânio (Quadros)", diz o metalúrgico aposentado Carlos Pacheco, 63, em referência ao Estado de origem do antigo prefeito.
Jânio é lembrado a todo o instante no bairro. Por ter construído a ponte sobre o rio Tietê e, assim, reduzido o isolamento do bairro; por ter trazido o bonde elétrico; por ter pavimentado ruas e construído postos de saúde.
Mas não apenas as obras são o legado do político, que também foi governador e presidente. "Autoridade", palavra de ordem do janismo, ainda hoje integra o vocabulário de grande parte do eleitorado da Vila Maria.
"Gosto da autoridade, das coisas corretas, como o Jânio fazia. Não gosto de agitação. Se fosse por mim, não haveria sindicatos, eles só atrapalham", diz o taxista Antônio Carlos de Oliveira, 41.
Com base nesse raciocínio, o taxista diz que agora vota em Paulo Maluf (PPB). "Eu era janista, o Jânio morreu, virei malufista."
Apesar do perfil direitista, a Vila Maria é um bairro que se considera "progressista", como se define 43% do eleitorado.
Na Vila Maria, Marta Suplicy (PT) alcançava, nos dias 11 e 12 de julho, 29% das intenções de voto (tinha, na época, 31% no total). Já Maluf alcançava 20% (17% no total). Erundina ficava com 13%, contra 16% na média geral.
Em 1998, o bairro apoiou fortemente Fernando Henrique Cardoso. Do total de entrevistados, 59% declararam ter votado em FHC (teve 52% na média geral).

Campo Limpo
Do outro lado da cidade, no extremo sul, vive um eleitorado que igualmente diz simpatizar bastante com a direita.
Na área do Campo Limpo -que inclui também Capão Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Cidade Dutra, Grajaú, Parelheiros e Marsilac-, 38% dos moradores dizem colocar-se mais à direita. Apenas 19% se posicionam à esquerda. Os dados já descontam os eleitores que não souberam se definir.
Região com maior área em São Paulo pelo critério do Datafolha, essa área é também uma das mais pobres. De seus moradores, 82% têm renda familiar mensal de até dez salários mínimos (na média da cidade, o percentual é de 73%).
Só 5% dos habitantes do Campo Limpo possuem curso superior, contra 13% do total da cidade.
No Campo Limpo, 46% dos entrevistados dizem ser conservadores (43% na média).
Mas é nesse bairro "direitista" e "conservador" que Luiza Erundina (PSB) tem um de seus maiores índices de apoio. Com 16% das intenções de voto na época, ela atingia 20% nessa região.
Possível explicação para o fenômeno: o desconhecimento das noções de direita e esquerda na política entre os moradores, muitos de baixa escolaridade, que leva a uma confusão entre "ser de direita" e "ser uma pessoa direita".
"Sou uma pessoa direita, gosto de político direito. Voto na Erundina porque ela é esse tipo de gente", diz Cosme Andrade, 39, proprietário de um pequeno bar no bairro há oito anos.
Já Aparecida Diniz, funcionária de uma escola e também moradora do Campo Limpo, tem uma definição mais direta do tipo de político que apóia.
"Não sei se gosto da esquerda ou da direita, gosto de quem vai para a briga. A Erundina é assim e tem meu voto", declara.


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