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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO À VISTA
Presidente da Câmara só abre processo contra quatro dos nove deputados acusados
Severino retém processos contra Dirceu e líder do PL
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu
ontem abrir processo de cassação
apenas contra quatro dos nove
deputados que até agora foram
acusados formalmente de quebra
do decoro parlamentar. Entre os
processos que ele reteve, estão os
contra o ex-ministro José Dirceu
(PT-SP) e o líder da bancada do
PL, Sandro Mabel (GO).
A decisão de Severino abriu
uma crise entre ele e o presidente
do Conselho de Ética da Câmara,
Ricardo Izar (PTB-SP). O argumento de Severino, também criticado pela oposição, é o de que o
conselho, composto por 15 deputados, não suportaria avaliar vários casos simultaneamente. O órgão já analisa há 62 dias o processo de cassação do mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Severino negou estar engavetando investigações -"quero ver
apurados todos os fatos e os culpados punidos"- e acusou o
presidente do conselho, deputado
Ricardo Izar, de ser o responsável
pelo fato de os processos contra
Dirceu e Mabel, apontados por
Jefferson como integrantes do esquema do "mensalão", não terem
início imediato.
"Se os processos contra os deputados José Dirceu e Sandro Mabel não podem ser instaurados de
imediato, isso se deve à ação procrastinadora do presidente do
Conselho de Ética, que (...) demorou dois dias para enviar as representações à Mesa", disse Severino.
Renúncia
A abertura de processo no Conselho de Ética é importante porque, antes disso, o acusado pode
renunciar e ficar livre para se candidatar nas próximas eleições.
Após a abertura do processo, a renúncia não livra o deputado da
suspensão dos direitos políticos,
caso ocorra a cassação. Ou seja,
Dirceu e Mabel terão mais tempo
para decidir se renunciam ou enfrentam o processo de cassação.
A irritação de Severino com o
presidente do conselho se deu devido às declarações de Izar cobrando o recebimento das representações contra os deputados.
Severino argumentou que Izar
demorou dois dias para enviar os
documentos à Mesa. Ele os recebeu na terça e só os enviou na
quinta. Na quarta, entraram pedidos de cassação contra seis petebistas, protocolados pelo PL. Com
isso, ficaram na frente daqueles
contra contra Dirceu e Mabel.
Os quatro deputados petebistas
são Sandro Matos (RJ), Neuton
Lima (SP), Joaquim Francisco
(PE) e Alex Canziani (PR). O PL
os acusa de receber caixa dois nas
eleições de 2004, quando foram
candidatos a prefeito. Izar, que é
do PTB, já manifestou intenção
de arquivar esses processos porque a acusação do PL baseia-se na
suposição de que os quatro, quando candidatos, foram beneficiados por recursos do caixa dois.
Antes das representações contra Dirceu e Mabel, há ainda as
que pedem a cassação de Francisco Gonçalves (PTB-MG), que afirmou ter visto uma "mala de dinheiro" no plenário da Câmara, e
Romeu Queiroz (PTB-MG), beneficiário de R$ 350 mil das contas de Marcos Valério de Souza.
"Tão logo entre em julgamento
[o atual processo], eu mandarei
os próximos", disse Severino. Cada processo tem até 90 dias para
funcionar. A oposição cobrou que
Severino amplie a estrutura do
conselho. "Ele não pode colocar
na gaveta esses processos, até porque a Câmara não vai funcionar
se não fizermos uma limpeza
aqui", afirmou Alberto Goldman
(SP), líder do PSDB, para quem
pode haver interesses inconfessos. "Se for necessário, aumentamos o Conselho de Ética", disse
Rodrigo Maia (RJ), líder do PFL.
Izar divulgou nota afirmando
considerar "estranha" e "injusta"
as críticas de Severino: "Se o presidente da Câmara quiser enviar a
representação contra José Dirceu
e Sandro Mabel, pode enviar ao
Conselho de Ética. Estamos
aguardando, temos inclusive estrutura para isso, e eu já poderei
escolher os dois relatores para os
processos. O Conselho de Ética
tem condições de trabalhar e analisar quatro processos simultaneamente", declarou Izar.
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