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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LIGAÇÕES CRUZADAS
Instituição portuguesa diz que publicitário conseguiu agendar reunião deles com ex-ministro, que nega mediação do empresário
Banco diz que Valério foi "elo" com Dirceu
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Espírito Santo (BES)
atribui ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza o mérito
de ter conseguido agendar uma
audiência entre o presidente da
instituição no Brasil, Ricardo Espírito Santo, e o então ministro da
Casa Civil, José Dirceu.
A reunião ocorreu na sala de
Dirceu no Planalto em 11 de janeiro de 2005. Participaram Marcos
Valério, o então ministro e Espírito Santo, segundo a assessoria do
banco português no Brasil.
O encontro era uma intenção
do BES desde 2003, quando foram
feitos, sem sucesso, os primeiros
contatos para marcá-lo: "Marcos
Valério procurou o BES e se ofereceu a apresentar o grupo ao ex-ministro da Casa Civil, já que o
banco teria tentado promover essa reunião durante todo o ano de
2003, em vão", diz a assessoria.
Segundo o banco, Marcos Valério disse que faria intermediação
com a Casa Civil porque tinha relacionamento próximo com pessoas do gabinete. Não teria se
apresentado como representante
do governo nem citado diretamente o então ministro.
Dirceu nega que a audiência tenha sido concedida por influência
de Valério. "Se o senhor Valério,
de repente, "vendeu" alguma facilidade, demonstrou ter alguma facilidade, o senhor Ricardo Espírito Santo foi enganado", informou
a assessoria do deputado.
Questionada se Valério participou do encontro do presidente do
BES no Brasil e Dirceu, a assessoria disse que o ex-ministro não se
recordava. "O ex-ministro não
lembra se Valério estava, quem
estava com o presidente do banco, quem o senhor Ricardo Espírito Santo trouxe para audiência."
Banco e assessoria de Dirceu
concordam em um ponto: o tema
da reunião. Falou-se, afirmam,
dos investimentos do grupo português no Brasil. Financiamento
de campanha política ou transações do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) não foram tratados na audiência.
O BES foi citado no escândalo
do "mensalão" pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele afirmou que o PT e o PTB receberiam
dinheiro do grupo em negociação
intermediada por Marcos Valério
a pedido de Dirceu.
Cerca de US$ 40 milhões destinados aos partidos viriam como
comissão pela transferência de
US$ 600 milhões de reservas internacionais do IRB de um banco
inglês para o BES. O IRB era controlado pelo PTB.
O Banco Espírito Santo é acionista da Portugal Telecom, que no
Brasil controla a operadora de celular Vivo. Antes de procurar o
banco no Brasil, Marcos Valério
teve encontro em Portugal com o
presidente do BES. Segundo Valério e o próprio banco, o tema do
encontro foram os serviços de publicidade oferecidos pelo publicitário a telefônicas no Brasil.
As agências de Valério atendem
a Telemig Celular, operadora controlada pelo Grupo Oportunity e
que seria cobiçada pela Portugal
Telecom.
(FLÁVIA MARREIRO)
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