São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LIGAÇÕES CRUZADAS

Instituição portuguesa diz que publicitário conseguiu agendar reunião deles com ex-ministro, que nega mediação do empresário

Banco diz que Valério foi "elo" com Dirceu

DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Espírito Santo (BES) atribui ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza o mérito de ter conseguido agendar uma audiência entre o presidente da instituição no Brasil, Ricardo Espírito Santo, e o então ministro da Casa Civil, José Dirceu.
A reunião ocorreu na sala de Dirceu no Planalto em 11 de janeiro de 2005. Participaram Marcos Valério, o então ministro e Espírito Santo, segundo a assessoria do banco português no Brasil.
O encontro era uma intenção do BES desde 2003, quando foram feitos, sem sucesso, os primeiros contatos para marcá-lo: "Marcos Valério procurou o BES e se ofereceu a apresentar o grupo ao ex-ministro da Casa Civil, já que o banco teria tentado promover essa reunião durante todo o ano de 2003, em vão", diz a assessoria.
Segundo o banco, Marcos Valério disse que faria intermediação com a Casa Civil porque tinha relacionamento próximo com pessoas do gabinete. Não teria se apresentado como representante do governo nem citado diretamente o então ministro.
Dirceu nega que a audiência tenha sido concedida por influência de Valério. "Se o senhor Valério, de repente, "vendeu" alguma facilidade, demonstrou ter alguma facilidade, o senhor Ricardo Espírito Santo foi enganado", informou a assessoria do deputado.
Questionada se Valério participou do encontro do presidente do BES no Brasil e Dirceu, a assessoria disse que o ex-ministro não se recordava. "O ex-ministro não lembra se Valério estava, quem estava com o presidente do banco, quem o senhor Ricardo Espírito Santo trouxe para audiência."
Banco e assessoria de Dirceu concordam em um ponto: o tema da reunião. Falou-se, afirmam, dos investimentos do grupo português no Brasil. Financiamento de campanha política ou transações do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) não foram tratados na audiência.
O BES foi citado no escândalo do "mensalão" pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele afirmou que o PT e o PTB receberiam dinheiro do grupo em negociação intermediada por Marcos Valério a pedido de Dirceu.
Cerca de US$ 40 milhões destinados aos partidos viriam como comissão pela transferência de US$ 600 milhões de reservas internacionais do IRB de um banco inglês para o BES. O IRB era controlado pelo PTB.
O Banco Espírito Santo é acionista da Portugal Telecom, que no Brasil controla a operadora de celular Vivo. Antes de procurar o banco no Brasil, Marcos Valério teve encontro em Portugal com o presidente do BES. Segundo Valério e o próprio banco, o tema do encontro foram os serviços de publicidade oferecidos pelo publicitário a telefônicas no Brasil.
As agências de Valério atendem a Telemig Celular, operadora controlada pelo Grupo Oportunity e que seria cobiçada pela Portugal Telecom. (FLÁVIA MARREIRO)


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