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Petrobras é que "abriu o verbo", diz Lina
Ex-secretária da Receita Federal afirma que foi o presidente da estatal quem revelou a senadores a manobra contábil da empresa
Em nota, Sergio Gabrielli nega ter se manifestado sobre a mudança do regime contábil da Petrobras antes da divulgação na imprensa
Lula Marques - 31.jul.08/Folha Imagem
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O ministro Guido Mantega na posse de Lina Maria Vieira como secretária da Receita Federal
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Responsabilizada no governo por não ter conduzido corretamente a polêmica sobre a
manobra contábil adotada pela
Petrobras para pagar menos
impostos, a ex-secretária da
Receita Lina Maria Vieira alega
que foi a própria estatal que
trouxe a público o assunto.
Segundo Lina, nem ela nem o
fisco deram informações sobre
o artifício, que permitiu à Petrobras deixar de pagar R$ 2,14
bilhões em impostos neste ano
e que serviu de estopim para a
criação de uma CPI no Senado.
Em entrevista à Folha, Lina
disse que foi repreendida pelo
líder do PT no Senado, Aloizio
Mercadante (SP), que a acusou
de ter "cometido um crime" e
municiado a oposição com dados sobre a compensação de
tributos.
A responsabilidade, segundo
ela, foi do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
"Em momento algum, da minha boca saiu essa palavra [Petrobras]. Estávamos na comissão de acompanhamento da
crise no Senado, e me limitei a
mostrar a arrecadação e por
que ela tinha caído, pela utilização da compensação. Agora,
quem abriu o verbo foi o presidente da Petrobras, quem veio
[ao Senado] e falou da mudança do regime foi ele."
A ex-secretária contou que o
ministro Guido Mantega (Fazenda) demitiu-a, no dia 9 de
julho, dizendo que o episódio
da estatal pesou na decisão do
Palácio do Planalto.
Mercadante confirmou que
conversou com Lina sobre a
Petrobras, mas negou que a tenha culpado pela CPI. "Eu disse a ela, e publicamente, que
achava um absurdo a discussão
pública entre a Receita e a Petrobras porque equivaleria a
quebrar o sigilo fiscal da Petrobras em uma matéria que envolvia milhares de empresas
que fizeram a mesma opção
-utilizar a MP 2.158 de 2001
para amortecer o impacto da
desvalorização cambial sobre
os seus balanços", afirmou.
A primeira vez que Gabrielli
falou com os senadores sobre a
mudança do regime contábil
foi em 24 de março, em audiência conjunta das Comissões de
Assuntos Econômicos e Infraestrutura. Em 29 de abril,
mais de um mês depois, a então
secretária participou de um encontro com senadores da comissão de acompanhamento
da crise econômica, que ocorreu no gabinete do senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Durante a reunião, cujo tema
foi a queda na arrecadação e a
redução no repasse de receitas
da União para os Estados, Tasso perguntou por que as transferências da Cide (tributo sobre a venda de combustíveis)
estavam baixas. Segundo Lina,
um de seus assessores explicou
que isso se devia à compensação de tributos feita por empresas do setor. "O senador
perguntou: "Foi a Petrobras?"
Dissemos que não poderíamos
falar em nome de contribuinte", contou ela.
Também estavam presentes
o presidente da comissão,
Francisco Dornelles (PP-RJ),
Marco Maciel (DEM-PE) e
Mercadante, que saiu antes do
final.
Dias depois, disse Lina, Gabrielli voltou ao Senado e mais
uma vez falou aos congressistas sobre a mudança do regime
fiscal adotado pela empresa.
Ele de fato teve uma conversa
informal, no dia 14 de maio, organizada por Mercadante em
seu gabinete. Participaram do
encontro também os tucanos
Tasso Jereissati, Arthur Virgílio (AM) e Sérgio Guerra (CE).
Por meio da assessoria de
imprensa, Gabrielli diz que não
se manifestou sobre a mudança
do regime contábil da Petrobras antes da divulgação da
questão na imprensa. A fala do
dia 24, segundo a assessoria,
"se refere à mudança no sistema contábil das empresas brasileiras" e não sobre a mudança
contábil da estatal. Mas ao falar
do assunto, ele afirmou que a
mudança "não foi só com a Petrobras".
A estatal informou ainda que
as empresas brasileiras de capital aberto introduziram mudanças em suas contabilidades
já no último trimestre de 2008
para adequá-las às normas que
entraram em vigor no dia 1º de
janeiro de 2009. Foi sobre essas mudanças a que se referiu
Gabrielli no dia 24 de março,
diz a nota da assessoria.
(ANDREZA MATAIS E LEONARDO SOUZA)
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