|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REGIME MILITAR
"Você já viu réu não recorrer?", diz ministro da Defesa sobre críticas a recurso da União no caso do Araguaia
Governo se diz "empenhado" em achar corpos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Defesa, José Viegas, disse que o governo "está empenhado" em procurar os corpos
dos guerrilheiros mortos no Araguaia e que os militares irão colaborar: "Não tenho nenhuma dúvida da boa vontade das Forças
Armadas no sentido de facilitar as
providências".
Segundo Viegas, os militares
darão assistência para as averiguações in loco determinadas por
uma comissão do Executivo a ser
anunciada nos próximos dias pelo governo para coordenar a operação de busca de ossadas, a partir
de indícios ou de depoimentos.
A comissão terá cinco integrantes. Serão representantes dos ministérios da Defesa e da Justiça, da
Casa Civil, da AGU (Advocacia
Geral da União) e da Secretaria de
Direitos Humanos.
Viegas disse à Folha, na sexta-feira, que os militares, o governo e
a própria sociedade estão sendo
"forçados a revisitar o passado",
mas o país e as Forças Armadas
"adquiriram um alto grau de maturidade política e encaram tudo
isso com naturalidade".
Quanto ao "recurso parcial"
apresentado pela União contra a
sentença da juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal do Distrito
Federal, o ministro, que é diplomata, disse que não entende por
que houve tantas reações contrárias e críticas, principalmente da
esquerda: "Você já viu réu não recorrer?", argumentou.
A sentença determinava basicamente duas providências ao governo: devolver às famílias os corpos dos 61 desaparecidos e abrir
todos os documentos existentes
sobre a guerrilha do Araguaia,
movimento armado contra o regime militar conduzido nos anos
70 pelo PC do B (hoje aliado do
governo Lula) na região do Bico
do Papagaio, entre Tocantins, Pará e Maranhão. A juíza instituía
multa de R$ 10 mil por dia de não-cumprimento da decisão.
A AGU recorreu contra a multa
e contra a entrega de todos os documentos. Alegou, no primeiro
caso, que a União não pode admitir pagar uma multa por um processo de resultado incerto. E, no
segundo, que a sentença extrapolara o pedido original das famílias
de desaparecidos, que haviam se
referido a um único documento.
Isso, segundo Viegas e o advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro da Costa, não significa que o
governo não esteja disposto a tentar obter informações e finalmente descobrir onde estão enterrados os corpos dos guerrilheiros.
Como, porém, o Exército insiste
que os documentos nunca existiram ou foram destruídos, a alternativa é resgatar ou buscar novos
depoimentos dos guerrilheiros
sobreviventes, dos soldados que
participaram da ação e dos moradores da região. Trinta anos depois, pode não ser promissor em
termos de resultados.
Até por isso a presença do secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, é considerada
importante e estratégica para que
a comissão ganhe maior credibilidade. O secretário é do PT, tem
longa militância na área de direitos humanos e é respeitado pela
esquerda.
(ELIANE CANTANHÊDE E IGOR GIELOW)
Texto Anterior: Índios: Reféns são libertados em MT e no PA Próximo Texto: Gosto amargo: Alunos sofrerão processo por jogar torta em Maggi Índice
|