São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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Carta de FHC é golpe contra Alckmin, avaliam tucanos

Nos bastidores, grupo ligado ao candidato acha que ex-presidente já pensa no pós-2006

Ex-governador disse apenas que considerou a carta "correta" nas críticas ao PT; Serra, por sua vez, afirmou não ter lido o texto de FHC


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O comando da campanha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, enxergou na carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso um gesto que aponta para o cenário político pós-2006 e, nas entrelinhas, rifa o tucano da disputa presidencial em curso, dando como praticamente certa a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno.
Apesar de FHC ter dedicado elogios a Alckmin e atacado duramente a gestão Lula, a "Carta aos Eleitores do PSDB" abriu nova crise na campanha do presidenciável tucano, 24 pontos atrás do petista, segundo pesquisa Datafolha desta semana.
Reservadamente, o candidato e seu grupo político avaliaram que o ex-presidente agiu deliberadamente para manter o espaço privilegiado na cúpula do partido e não teve grandes pretensões de influir no resultado da disputa ainda em curso.
De imediato, na opinião de Alckmin e de seu grupo, FHC, com o texto, estaria deixando claro que não pretende abrir mão da posição de principal voz entre os tucanos, conquistada com as duas vitórias em 1994 e 1998 à Presidência, e não aceitará, pelo menos não sem colocar empecilhos, uma negociação com Lula e o PT em torno de uma coalizão.
No entanto, caso Alckmin cresça nas pesquisas e chegue ao segundo turno, o ex-presidente poderá dizer que seus ataques a Lula o ajudaram.
À noite, em Fortaleza, Alckmin se limitou a dizer que achou a "carta correta" no que diz respeito às críticas ao PT. "O Brasil no governo do PT vive uma crise moral grave."

2010 no horizonte
A posição do ex-presidente enfraquece o governador de Minas, Aécio Neves, entusiasta de um diálogo entre PSDB e PT. Como José Serra, candidato em São Paulo, e o mineiro podem ser eleitos já no primeiro turno, o grupo mais próximo a FHC teme que os dois polarizem as discussões e o debate com Lula.
Outro aspecto que desagradou o grupo de Alckmin foram as críticas de FHC à política de segurança pública do governo paulista, um dos pontos mais vulneráveis de sua campanha.

"Não li"
Serra se recusou a comentar a carta. Mas disse: "O ex-presidente Fernando Henrique é um homem de peso no partido, meu amigo. Todas as opiniões dele têm muita importância. Mas só comento o que eu li".
O candidato a vice na chapa de Alckmin, José Jorge (PFL), que era ministro de Minas e Energia na época do apagão, chamou de "detalhe" a constatação, feita pelo ex-presidente, de que seu governo fracassou no setor elétrico. "O que importa é o ponto central da carta. O chamamento à sociedade."
José Jorge também refutou a análise de que o texto de FHC praticamente dá como certa a reeleição de Lula. "É uma reação no momento certo."


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