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Planalto pressiona Renan a sair do cargo se for absolvido
Governo avalia que crise na Casa continuará após eventual manutenção do mandato
Caso peemedebista escape da cassação, cuja votação será na quarta, ele ainda enfrentará 3 processos por quebra de decoro no Senado
KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto tem
pressionado o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), a se licenciar do
cargo caso seja absolvido em
plenário na quarta-feira. Nessa
data, a Casa julgará, em votação
e sessão secretas, o pedido de
cassação de seu mandato aprovado pelo Conselho de Ética.
A articulação pretende encerrar a crise que domina o Senado desde o fim de maio. Uma
eventual absolvição de Renan
não deve ser suficiente, já que
ele ainda enfrentará mais três
processos por quebra de decoro. Essa também é uma preocupação predominante na Casa,
já que o desgaste da instituição
afeta todos os seus integrantes.
Discretamente, o ministro
Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) tem trabalhado com articuladores políticos do governo no Senado para
salvar Renan. Walfrido avalia
que o senador será absolvido
por margem apertada.
Nos bastidores, o ministro
peemedebista Nelson Jobim
(Defesa) tem sido um dos principais conselheiros do presidente do Senado, de quem é
amigo. O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) também tem atuado em favor de Renan. As ações de Jobim, Sarney e Walfrido visam
preservar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Oficialmente, a posição do
governo é de neutralidade. Lula
diz que não se intrometerá nos
assuntos do Senado. Walfrido e
o colega Tarso Genro (Justiça)
negaram que o governo esteja
atuando em favor de Renan. No
entanto, há um trabalho de bastidor para ajudar o peemedebista a obter 8 votos entre os 12
senadores petistas e a conseguir apoio de oposicionistas do
DEM e do PSDB. Para cassar
Renan, são necessários 41 votos
-há 81 senadores.
Eleição e CPMF
O temor do Planalto é que a
cassação de Renan abra espaço
para a eleição de um oposicionista ou de um governista independente demais para a presidência do Senado. Outra preocupação é que a guerra política
prejudique a aprovação, na virada de outubro para novembro, da prorrogação da CPMF,
o chamado imposto do cheque.
Uma vez garantida a vitória
de Renan na quarta-feira, o governo avalia que ele poderia,
em um gesto para apaziguar
ânimos, pedir licença da presidência até o final das investigações no Conselho de Ética. Essa
manobra deixaria o comando
da Casa com o primeiro vice-presidente, o petista Tião Viana
(AC). Assim, o Senado ficaria
nas mãos de alguém da confiança do governo. A próxima
eleição para o comando da Casa
acontece em 2009.
A solução não agrada a todos.
"Esse é o pior cenário para a
instituição. Se isso acontecer o
Senado vai ficar com todo o
desgaste da absolvição, vai ficar
como conivente, e o Renan sairá por cima, fazendo um gesto
grandioso", afirmou o senador
Cristovam Buarque (PDT-DF).
Renan tem resistido às pressões para se licenciar da presidência em troca de não ser cassado. Entretanto, peemedebistas que conversaram com o senador nos últimos dias disseram à Folha que Renan já admite pensar na licença após a
votação de quarta.
Ele não aceitou um acordo
proposto pela oposição para
deixar o cargo antes da votação,
em troca da garantia de ser absolvido, porque isso, na sua
avaliação, soaria como um
atestado de culpa. Ele também
afirmou a aliados que perderia
o controle do processo se deixasse a presidência antes do
julgamento. Ele só aceitará essa proposta se considerar que é
grande a chance de ser cassado.
"Não vi em momento nenhum o presidente Renan colocar o Senado em primeiro lugar. Quando a Casa está exposta todos os senadores estão expostos", afirmou o senador César Borges (DEM-BA), que é
um dos integrantes da Mesa.
O presidente do Senado já
ouviu que o governo tem interesse no final da crise na Casa e
que a continuação de um clima
de guerra acabaria por levá-lo
ao isolamento. Agora, o governo espera que Renan faça um
aceno para a oposição. Um discurso conciliador na sessão secreta de quarta pode trazer tal
aceno, dizem integrantes do
governo e da cúpula do PMDB.
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