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ELEIÇÕES 2006 / ENTREVISTA
Brasil pode virar Venezuela, diz Ciro
Ex-ministro diz que teme pelo que pode ocorrer caso Lula perca eleição devido a acusações de corrupção
Para ele, se a eleição for
restrita a acusações mútuas,
o processo eleitoral ficará
pouco crível e o vencedor
assumirá sem credibilidade
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deputado federal proporcionalmente mais votado do país,
o ex-ministro da Integração
Nacional no governo Lula Ciro
Gomes (PSB-CE), 48, considera que uma radicalização no
processo eleitoral com acusações no campo moral pode acabar numa "venezuelização" do
Brasil, em referência à instabilidade política do país comandado por Hugo Chávez.
Se o debate eleitoral se restringir a um candidato acusar o
outro de corrupto, avalia, "o
processo político-eleitoral passa a ser pouco crível". "O que
ganha acaba sendo eleito sem
legitimidade. O país mergulha
numa situação venezuelana".
FOLHA - Como será decidido o segundo turno?
CIRO GOMES- Haverá o assunto
do dossiê. Tudo bem. Tem de
ser tratado no contexto certo.
Mas há uma tentativa, resumida num slogan completamente
contraditório do Alckmin, que
é "a ética vai vencer a corrupção". Que conversa é essa?
FOLHA - Qual é o problema com esse slogan ou idéia?
CIRO - O que pega é catapora.
Se alguém de terceiro ou quarto
escalão faz algo errado ou inescrupuloso isso desqualifica do
ponto de vista moral a respeitabilidade de outro cidadão? Se
for assim, o Alckmin também
seria responsável pelo caso
Fonte-Cindam, pela "privataria" na área de telecomunicações e pelas cerca de 60 suspeitas sem esclarecimentos pela
não-instalação de CPIs sobre o
governo de São Paulo. Aonde
vamos chegar?
FOLHA - Aonde?
CIRO - Eu não tenho problema
em reconhecer a respeitabilidade do dr. Alckmin. Agora, se a
ética é manipulada por conveniência, ele se abraça com o casal Garotinho e com Ivo Cassol.
E o presidente Lula não é ético
porque um maluco qualquer
fez uma atitude inescrupulosa
numa campanha local?
Tudo posto, o Alckmin é uma
pessoa respeitável. Mas, pela
mesma boa-fé, eles têm de reconhecer a respeitabilidade do
Lula. Isso é o que importa para
a nossa democracia.
A metade do país acredita em
um e a outra metade acredita
no outro. O que ganha acaba
sendo eleito sem legitimidade.
O país mergulha numa situação
venezuelana. Isso não tem cabimento. Porque ética para o
Alckmin é uma conveniência,
não é um comportamento.
FOLHA - Como assim?
CIRO - Se fosse mesmo o anjo,
ele não daria conta de sustentar
esse discurso -pelos escândalos dos quais ele infelizmente é
o portador por ser o representante da coalizão PSDB-PFL.
Se um ficar acusando o outro,
metade do país acredita em um,
e metade, no outro. E trazemos
a Venezuela aqui para dentro.
FOLHA - Que movimentos estão
sendo feitos para evitar isso?
CIRO - Há dois movimentos.
Um de diplomacia e outro de
infantaria. Estou conversando
com as pessoas e ponderando.
Conversei com o governador
Aécio Neves. Há um esforço.
Não estamos querendo fazer
acordo. Eu compreendo que o
dever do Aécio Neves é lutar
pelo candidato dele. E ele compreende que o meu dever é lutar pelo meu lado.
FOLHA - Mas se não é um acordo, o
que se busca então?
CIRO - Estamos defendendo
um projeto nacional contra
uma ameaça. Na minha opinião, o país corre o risco Alckmin. A redução dos gastos correntes fará explodir a questão
social. Se não atualizar os valores do Bolsa Família, essa conquista do povo miserável do
país vai custar a ele muito politicamente. Se estivermos na
eminência de uma reforma
neoliberal na Previdência, teremos outra onda de greves.
FOLHA - Mas o sr. não disse ainda
que tipo de resultados podem ter as
conversas entre as duas campanhas.
CIRO - O objetivo é que os dois
candidatos se respeitem. Porque se ficar num jogo de desqualificação vil, uma premissa
básica do sistema de democracia representativa ficará ferida.
FOLHA - Mas o que acontece?
CIRO - Quem se eleger chega
negado na sua credibilidade. O
processo político-eleitoral passa a ser pouco crível para essas
tensões sociais. Aí nós vamos
conhecer o fenômeno que é visualizável na Venezuela e em
quase toda a América do Sul.
FOLHA - Os grupos de pressão no
país reagiriam de maneira violenta?
CIRO - Eu não sou futurólogo.
Eu temo.
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