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Editor Fernando Gasparian morre em SP
Ex-deputado e fundador do jornal "Opinião" e da revista "Argumento", críticos da ditadura militar, foi cremado ontem
Empresário nacionalista chegou a empregar 5.000 funcionários em empresa têxtil e tentou fixar limite aos juros na Constituinte
Marco Ankosqui/Diário de SP
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Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), à dir., no velório do editor Fernando Gasparian, ontem, na Assembléia Legislativa de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
O corpo do editor e ex-deputado federal constituinte Fernando Gasparian, 76, foi cremado ontem no crematório da
Vila Alpina, em São Paulo, após
o velório na Assembléia Legislativa paulista.
Empresário e político de
convicções nacionalistas, Gasparian fundou nos anos 70 o
jornal semanário "Opinião" e a
revista "Argumento", considerados focos de resistência à ditadura militar, presidiu a Editora Paz e Terra e criou a livraria Argumento, no Rio.
Gasparian estava internado
desde a última quinta-feira no
hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, para tratamento de
problemas renais que levaram
a uma infecção generalizada seguida de parada cardíaca. Ele
morreu na manhã do último sábado.
Estiveram ontem no velório
o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, o
prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab, a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, o ex-ministro
da Justiça José Gregori, entre
outros políticos e autoridades.
"Meu pai tinha duas paixões
na vida, minha mãe [Dalva] e o
Brasil", disse ontem um dos filhos do editor, Eduardo.
Para Ruth Cardoso, o editor
foi peça fundamental na "resistência cultural" à ditadura.
"Nós perdemos um grande
amigo de mais ou menos cinco
décadas, desde a adolescência.
E o Brasil perdeu um empresário que lutou muito por suas
idéias. "Opinião" e "Argumento"
foram a base da luta contra a ditadura", disse Ruth.
"Concordando ou discordando de idéias, nunca deixamos
de ser amigos", declarou.
Nacionalista
No início dos anos 60, Gasparian era um dos principais empresários da indústria têxtil no
país, dono da América Fabril,
sediada no Rio, que chegou a
ter mais de 5.000 funcionários.
Após o golpe militar de 64,
passou a ser perseguido pela ditadura. "Meu pai teve de parar
com a indústria porque o governo cortou o crédito do Banco do Brasil, que era o principal
financiador", disse o filho
Eduardo.
Em 1970, ao saber que poderia ser preso por motivos políticos, Gasparian foi para o exílio
na Inglaterra. Retornou ao Brasil logo depois, quando fundou
o jornal "Opinião".
Foi editor do jornal entre
1971 e 1975. Durante sete anos,
o jornal firmou-se como veículo alternativo de críticas ao regime militar, abrigando autores
como Celso Furtado, Fernando
Henrique Cardoso, Dias Gomes, Alceu Amoroso Lima e
Érico Verissimo.
Editora
Em 1973, o grupo do "Opinião" liderado por Gasparian
assumiu a editora "Paz e Terra", fundada em 1965 pelo seu
amigo e editor Ênio Silveira,
também fundador da Civilização Brasileira.
A Paz e Terra deu espaço a
autores que eram adversários
do regime, como o educador
Paulo Freire (1921-1997), autor
de "Pedagogia do Oprimido".
A editora deu prioridade às
áreas de filosofia, sociologia e
ciência política, tornando-se
referência no meio acadêmico.
A revista Argumento tratava
com inventividade temas da
política, da economia, dos esportes e das artes. O então diretor-responsável, Barbosa Lima
Sobrinho (1897-2000), chegou
a suspender a circulação da revista após o quarto número, em
resposta a uma tentativa de tutela da linha editorial pelos
censores do governo.
Em 1977, Gasparian criou a
Livraria Argumento em São
Paulo. No ano seguinte, transferiu-a para o Rio de Janeiro.
Hoje, a livraria conta com três
lojas na capital fluminense: no
Leblon, na Barra da Tijuca e em
Copacabana.
Parlamentar
O editor retornou a São Paulo em 1984. Dois anos depois, se
elegeu deputado federal pelo
PMDB. Na Constituinte, sua
contribuição mais citada foi a
criação do teto dos juros reais
em 12% ao ano, que não chegou
a ser regulamentada pelo Congresso Nacional.
Gasparian também tentou,
como deputado, impor uma
quarentena (não poderiam
ocupar cargos na iniciativa privada) aos ex-dirigentes do Banco Central.
Durante o governo de seu
amigo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002), opôs-se
à privatização da companhia
mineradora Vale do Rio Doce e
defendeu a adoção do limite de
12% aos juros reais -assim como dizia a Constituinte-, nunca colocada em prática.
Gasparian deixou viúva, Dalva, e quatro filhos, a diplomata
Helena e os três livreiros, Laura, Eduardo e Marcus, que dirigem as livrarias Argumento.
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