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Diferença é que PT pune desvios, diz candidato ao governo gaúcho
Para Olívio Dutra, ausência de Lula no debate contribuiu para eleição não acabar no 1º turno
Ex-ministro diz que, caso reeleito, presidente vai governar em condições menos adversas porque país ganhou consciência cívica
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A ausência do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva no último debate do primeiro turno,
na TV Globo, foi um dos motivos para a definição da eleição
presidencial ter sido adiada para o segundo turno. A opinião é
do candidato petista ao governo gaúcho, Olívio Dutra.
De acordo com Olívio, em entrevista concedida para a Folha
entre um encontro com o ministro Waldir Pires (Defesa) e
gravações do programa eleitoral, conspiraram contra Lula a
ausência no debate, os escândalos envolvendo o PT e o desgaste natural de ser governo.
Olivio foi o segundo colocado
no primeiro turno (27,39% dos
votos). Tem agora 32% dos votos válidos, contra 68% de Yeda
Crusius, segundo pesquisa Ibope feita na última semana.
O petista diz que os problemas éticos enfrentados pelo
partido oferecem uma oportunidade de o partido enfrentá-los -o que, diz ele, não ocorre com as outras siglas.
O Estado reproduz a disputa
nacional entre PT e PSDB, mas
neste caso, Olívio, 65, enfrenta
o favoritismo de Yeda Crusius
e o antipetismo que deu a Lula
no Rio Grande do Sul uma de
suas piores derrotas no primeiro turno -teve 33,07% dos votos válidos contra 55,76% de Geraldo Alckmin-, como resistência a seu projeto de voltar
a governar o Estado que comandou entre 1995 e 1998.
Olívio disse que é necessária
uma participação maior da população nas decisões do governo, citando o orçamento participativo como instrumento para isso. "O Estado, em todas as
suas instâncias, deve estar sob
controle público", diz. Leia os
principais trechos da entrevista do ex-ministro das Cidades.
FOLHA - Como o sr. avalia os escândalos envolvendo o PT, em especial
a compra do dossiê, e o que deve ser
feito a respeito pelo partido?
OLÍVIO DUTRA - Infelizmente, temos no PT atitudes desrespeitadoras da cidadania e do patrimônio ético do próprio PT. Isso
existe em todos os partidos. A
diferença é que punimos. As
bases já decidiram, no ano passado, trocar a direção. Isso
ocorreu. Não queremos que o
PT seja o sal da terra, mas que
também não entre no toma-lá-dá-cá. O importante é que o Estado brasileiro tem de estar sob
maior controle público, para
que, nos Três Poderes, haja a visão republicana do controle
público. Com o orçamento participativo [consulta direta à população que Olívio adotou em
sua administração e pretende
implementar novamente no
Rio Grande do Sul], isso ocorre.
A população tem protagonismo. O Estado, em todas as suas
instâncias, deve estar sob controle público. E isso implica,
também, em mais controle do
público sobre o governo.
FOLHA - Como seria esse controle
público, na prática?
OLÍVIO - Com o orçamento participativo, podemos eliminar
algumas práticas pouco republicanas e democráticas no
nascedouro. Luto para que o
presidente Lula seja reeleito, e
isso ocorrerá em condições menos adversas, para ele implementar medidas que nos levem
a mudanças. Mesmo assim, a
Polícia Federal nunca trabalhou tão bem, e o Ministério
Público Federal nunca teve
tanto espaço como tem no
atual governo.
FOLHA - Como são essas condições
menos adversas? Uma base parlamentar maior, com novos partidos e
novos compromissos? O governo
Lula vai adotar o orçamento participativo defendido pelo sr.?
OLÍVIO - Tenho convicção de
que a situação será menos adversa porque há uma consciência cívica e cidadã maior país
afora. Não é só nas instituições.
Nada substitui o ato de votar,
mas a democracia tem de ser no
dia-a-dia, tem de ser radicalizada. Com o orçamento participativo, propiciamos isso. Vamos, aqui no Estado, dar protagonismo para a cidadania. Temos, também, em todo o país,
de nos comprometer com a reforma política, para melhorarmos e aperfeiçoarmos as instituições. Muitas coisas podem
ainda ser feitas para radicalizarmos a democracia. O Estado
não pode estar a serviço do privado, mas cada vez mais a serviço do público.
FOLHA - O que fez o presidente Lula
ter uma votação tão fraca no Rio
Grande do Sul? O mensalão, a compra do dossiê, o desgaste de ser governo ou tudo junto?
OLÍVIO - Tudo junto, evidentemente. Há o ônus de governar,
o que é sempre natural. Mas é
claro que contaminou também
o caso do dossiê, o fato de [Lula]
não ter ido ao último debate... A
eleição verdadeira é agora. Teremos a oportunidade de fortalecer o debate de idéias.
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