|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Fechado ao diálogo
É compreensível que o
exaustivo discurso de Fernando Henrique tenha produzido
decepção: veio atrasado. Foi
um eleito fazendo o discurso
que ficou devendo como candidato.
Não foi um discurso do
atual nem do futuro governante. As medidas anticrise
que o presidente em pleno
mandato está devendo, também, ficaram numa vaguidão
que só aumentou sua dívida.
As linhas que diriam o que
será o segundo mandato não
chegaram nem ao vazio das
entrelinhas.
Talvez pela falta de algo
melhorzinho, ou porque o senador Antonio Carlos Magalhães se antecipou no tema e o
presidente deve segui-lo, a
disposição de diálogo com
oposicionistas tornou-se o trecho promovido pelos governistas. "Reafirmo que estou
aberto ao diálogo (...) o diálogo hoje é um imperativo nacional".
Se for assim um dever nacional, é mais um que deixará de
ser cumprido. Subentendido
no discurso que o diálogo entre oposição e governo é exigido pela crise, o governo já o
trava e só o trava no estrangeiro, com outros governos,
com banqueiros americanos e,
acima de tudo, com o FMI. O
que seria objeto do diálogo
que é "imperativo nacional"
está sendo definido no exterior e chegará pronto.
De traições
O segundo turno no Rio,
embora a necessidade de mais
campanhas e outra ida às urnas, não deixa de ter graça.
Só o candidato a senador
Moreira Franco, que fez uma
das campanhas mais ricas do
país e sofreu uma derrota
achatante, foi mais agressivo
do que Cesar Maia nas peças
de propaganda e nas falas
pessoais. O nível de insultos a
que Cesar Maia chegou pode
ser medido pelo tratamento
dado aos filhos de Marcello
Alencar: Irmãos Metralha, em
alusão aos personagens de
quadrinhos que, de tão bandidos, jamais tiram a máscara do rosto e já estão sempre
com a camisa numerada da
penitenciária.
A doçura com que Cesar
Maia se refere agora a tudo o
que diga respeito a Marcello
Alencar é a doçura de um
enamorado. Tão doce que
chega a revirar o estômago do
ouvinte. E ainda diz que a
união deles é necessária porque "a população não
aguenta mais conchavo de
políticos".
Esse Cesar Maia giratório é
que está deixando aturdidos
os outros adversários de Anthony Garotinho. O PFL
abandonou seu candidato, no
primeiro turno, pela convicção de que, se eleito, será um
livre-atirador fazendo o impossível para sair candidato à
Presidência em 2002, à revelia
do partido. Fernando Henrique, Serra e outros peessedebistas perceberam que o mesmo motivo os aconselhava a
promover o boicote empresarial a Maia, antes candidato
do empresariado fluminense.
No primeiro turno, com vários candidatos, não foi difícil
disfarçar a recusa de apoio
consequente. Mas, só com
dois candidatos, o PFL e o
PSDB estão em situação única entre os vários segundos
turnos: ou apoiam o Cesar
Maia de quem receiam traições ou o rejeitam e passam
eles à acusação de traidores.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|