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Chinaglia e Gabeira apóiam veto a exposição
Foto do travesti Rogéria motivou cancelamento de mostra; presidente da Casa diz que já lutou por liberdade de expressão
Luiz Garrido
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Imagem do deputado Fernando Gabeira que integrava a mostra |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu ontem a decisão de cancelar uma exposição fotográfica
num dos salões da Casa, em razão de uma foto do travesti Rogéria seminu. "Da minha parte,
sou favorável e lutei para que
haja liberdade de expressão.
Mas não vou determinar que se
descumpram regras. Acho que
[a decisão] está no exato tamanho que tem que estar."
Chinaglia declarou que não
teve participação direta na decisão, que ficou a cargo dos funcionários da Câmara. "Eu estava cuidando de outra coisa."
Segundo os organizadores da
exposição, o evento foi discutido com Silvia Mergulhão, do
Cerimonial da Casa.
A foto de Rogéria era parte da
exposição fotográfica "Heróis",
de Luiz Garrido. Ele retratou
diversas personalidades brasileiras, como o arquiteto Oscar
Niemeyer, o sociólogo Betinho,
o ex-presidente Fernando Collor e o presidente Lula.
A foto de Rogéria foi vetada
pela Câmara com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz que a criança
tem o direito à "inviolabilidade
da integridade física, psíquica e
moral" e que "é dever de todos
velar pela dignidade da criança
e do adolescente, pondo-os a
salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor". A Câmara argumentou
que as imagens deveriam ter sido submetidas previamente à
sua apreciação. A exposição foi
desmontada anteontem.
Uma das personalidades retratadas por Garrido, o deputado federal Fernando Gabeira
(PV-RJ), disse que concorda
que a Câmara deveria ter tido o
direito de saber com antecedência do conteúdo das fotos.
"O processo foi errado desde
o começo. A Câmara dos Deputados é um espaço onde convivem forças políticas contraditórias, e por isso não pode ter a
mesma latitude de um museu
para fazer exposições."
Para o deputado Carlos Willian (PTC-MG), da bancada
evangélica, "o nu, mesmo que
seja artístico, e ainda mais de
um travesti, não pode ser exposto num lugar público como
é a Câmara dos Deputados".
O fotógrafo responsável diz
que a decisão da Câmara é um
"ranço autoritário". "As fotos já
foram expostas em vários prédios, inclusive públicos."
Em nota divulgada ontem,
Karla Osório, diretora da Foto
Arte, organizadora do evento,
afirmou que soube do cancelamento da exposição por meio
da imprensa e que "nunca foi
exigida da organização do evento a submissão de todas as fotografias ou de material ilustrativo específico da mostra".
Karla nega que não tenha negociado com a Câmara, como
foi dito pela Casa, em nota divulgada anteontem, a qual explica que o evento foi cancelado
"após esgotar todas as possibilidades de negociação com a diretora do evento".
"Apesar de discordarmos do
argumento, a ele nos submetemos e aceitamos a exigência da
Câmara de isolar a fotografia.
Assim, ao contrário do afirmado na nota, a diretora do evento
submeteu-se juntamente com
o artista à exigência imposta
pela Câmara (...), tendo criado
uma "cabine" para acolher a fotografia de Rogéria, considerada "inadequada" pela Casa."
Ela pede ainda que a mostra
seja reconstituída.
(FÁBIO ZANINI)
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