São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chinaglia e Gabeira apóiam veto a exposição

Foto do travesti Rogéria motivou cancelamento de mostra; presidente da Casa diz que já lutou por liberdade de expressão

Luiz Garrido
Imagem do deputado Fernando Gabeira que integrava a mostra


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu ontem a decisão de cancelar uma exposição fotográfica num dos salões da Casa, em razão de uma foto do travesti Rogéria seminu. "Da minha parte, sou favorável e lutei para que haja liberdade de expressão. Mas não vou determinar que se descumpram regras. Acho que [a decisão] está no exato tamanho que tem que estar."
Chinaglia declarou que não teve participação direta na decisão, que ficou a cargo dos funcionários da Câmara. "Eu estava cuidando de outra coisa."
Segundo os organizadores da exposição, o evento foi discutido com Silvia Mergulhão, do Cerimonial da Casa.
A foto de Rogéria era parte da exposição fotográfica "Heróis", de Luiz Garrido. Ele retratou diversas personalidades brasileiras, como o arquiteto Oscar Niemeyer, o sociólogo Betinho, o ex-presidente Fernando Collor e o presidente Lula.
A foto de Rogéria foi vetada pela Câmara com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz que a criança tem o direito à "inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral" e que "é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor". A Câmara argumentou que as imagens deveriam ter sido submetidas previamente à sua apreciação. A exposição foi desmontada anteontem.
Uma das personalidades retratadas por Garrido, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), disse que concorda que a Câmara deveria ter tido o direito de saber com antecedência do conteúdo das fotos.
"O processo foi errado desde o começo. A Câmara dos Deputados é um espaço onde convivem forças políticas contraditórias, e por isso não pode ter a mesma latitude de um museu para fazer exposições."
Para o deputado Carlos Willian (PTC-MG), da bancada evangélica, "o nu, mesmo que seja artístico, e ainda mais de um travesti, não pode ser exposto num lugar público como é a Câmara dos Deputados".
O fotógrafo responsável diz que a decisão da Câmara é um "ranço autoritário". "As fotos já foram expostas em vários prédios, inclusive públicos."
Em nota divulgada ontem, Karla Osório, diretora da Foto Arte, organizadora do evento, afirmou que soube do cancelamento da exposição por meio da imprensa e que "nunca foi exigida da organização do evento a submissão de todas as fotografias ou de material ilustrativo específico da mostra".
Karla nega que não tenha negociado com a Câmara, como foi dito pela Casa, em nota divulgada anteontem, a qual explica que o evento foi cancelado "após esgotar todas as possibilidades de negociação com a diretora do evento".
"Apesar de discordarmos do argumento, a ele nos submetemos e aceitamos a exigência da Câmara de isolar a fotografia. Assim, ao contrário do afirmado na nota, a diretora do evento submeteu-se juntamente com o artista à exigência imposta pela Câmara (...), tendo criado uma "cabine" para acolher a fotografia de Rogéria, considerada "inadequada" pela Casa."
Ela pede ainda que a mostra seja reconstituída. (FÁBIO ZANINI)


Texto Anterior: Outro lado: Deputado diz que "fatos serão esclarecidos"
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.