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GOVERNO
O Bolsa-Renda Alimentação substitui cestas básicas que eram distribuídas a 1,7 milhão de famílias de cidades pobres
Programa social exclui 960 mil famílias
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O governo federal deixou 960
mil famílias carentes de fora do
programa criado, em caráter provisório, para substituir a distribuição de cestas básicas, que era feita
a 1,7 milhão de famílias de municípios pobres do país e que acabou em agosto.
O programa provisório que
substituiu as cestas básicas foi denominado Bolsa-Renda Alimentação, com previsão de funcionamento somente em novembro e
dezembro deste ano. Em vez da
cesta básica, o novo programa dá
à família R$ 15, que podem ser sacados por meio de um cartão
magnético. Para esse programa,
apenas 740 mil famílias das 1,7
milhão que estavam cadastradas
no extinto Prodea (Programa de
Distribuição de Alimentos) foram
inscritas.
Os excluídos do novo programa
e a situação precária pela qual o
Prodea passou nos últimos meses
de existência contrariam declarações feitas no final de 2000 pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso e por membros do governo, segundo as quais nenhuma
das famílias deixaria de receber as
cestas até que um programa substituto fosse implantado.
O próprio governo federal admite que 960 mil famílias carentes
não foram inscritas no Bolsa Renda-Alimentação. Para o governo,
parte destas famílias pode estar
recebendo algum outro benefício.
"Se os municípios forem ágeis,
até o final de dezembro todas as
famílias vão ser enquadradas em
algum tipo de programa e, assim,
poderemos consertar os desvios",
disse Wanda Engel, coordenadora do Projeto Alvorada, que envolve ações de nove ministérios.
A distribuição de alimentos parou em agosto e, durante o período de três meses entre a extinção
do Prodea e o início da Bolsa-Renda Alimentação, o 1,7 milhão
de famílias também ficou sem receber nem um nem outro benefício. O fim da distribuição das cestas foi definido pelo governo no
ano passado por ele considerá-la
assistencial. Neste ano, porém, resolveu-se pela criação do Bolsa-Renda Alimentação até que todo
o 1,7 milhão de famílias fosse incluído, de acordo com o perfil de
cada uma, nos outros programas
sociais do Projeto Alvorada.
O problema é que as 960 mil famílias excluídas do programa
substituto à distribuição de cestas
básicas não têm garantia alguma
de que vão se inserir em algum
novo programa federal, já que a
idéia do governo é promover um
recadastramento geral das famílias carentes. As exigências para
fazer parte de outro programa
também são diferentes das exigências do Prodea.
Outro problema: existem famílias que, mesmo inseridas no Bolsa-Renda Alimentação, até hoje
não receberam os R$ 15.
"A gente come o que tem. Dá
primeiro para as crianças e o que
sobrar divide para os grandes",
disse Noêmia Maria da Silva Santos, 39, de Bezerros, no agreste de
Pernambuco, que no dia 15 de
agosto recebeu sua última cesta
básica do governo.
Ela está inscrita para receber as
duas parcelas de R$ 15 referentes a
novembro e dezembro. Mas o dinheiro de novembro, que já deveria ter vindo, ainda não foi entregue (leia texto nesta página).
Na prática, a transição do Prodea para outro benefício vem se
mostrando confusa: em Minas
Gerais, por exemplo, dos 225 municípios que recebiam as cestas
básicas, apenas 165 foram cadastrados no Bolsa-Renda Alimentação (queda de 26,7%). Das
224.974 famílias cadastradas no
Prodea, sobraram 149.400 (queda
de 36,6%). "Tem prefeito que
nem sabe que esse projeto [Prodea" foi extinto", disse o major
Itamar Pacheco, coordenador em
Minas do programa.
Segundo ele, a orientação do
Ministério da Integração Nacional, que é responsável pelo projeto, foi de corte linear de 25% no
número de famílias beneficiadas,
durante a transição Prodea-Bolsa,
sob o argumento de "falta de recursos orçamentários".
A Agência Folha ligou aleatoriamente para prefeituras de dez
municípios de Minas Gerais que
tinham famílias cadastradas no
Prodea, mas que foram excluídas
do programa substituto: Cantagalo, Paulistas, Coluna, Água Boa,
Peçanha, Ervália, Descoberto, Pedra do Anta, Pedra Dourada e
Serra Azul de Minas.
Quando o Prodea existia, famílias carentes dessas cidades recebiam do governo federal um total
de 11.107 benefícios mensais, entre cestas básicas e Renda Mínima
(antecessor do Bolsa-Escola)
-8.108 famílias estavam cadastradas no Prodea e 2.998 no Renda Mínima. Hoje, apenas 4.112 famílias recebem benefícios, todos
da Bolsa-Escola.
Cinco dos dez municípios ouvidos afirmaram que receberam
nos últimos dias -mais de três
meses depois do fim total da distribuição de cestas- ofícios do
governo informando que o Prodea foi extinto e que as prefeituras
deveriam fazer recadastramentos.
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