Anúncio foi feito por Gilberto Gil, que minimizou suspeitas de irregularidades envolvendo escolas cariocas

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Dois dias após o presidente da escola de samba Mangueira, Percival Pires, renunciar por ter sido flagrado participando de comemoração do casamento do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou ontem no Rio que, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras e as petroquímicas Braskem e Unipar doarão R$ 12 milhões para as 12 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca de 2008.
A doação será encaminhada à Liesa (Liga das Escolas de Samba), que distribuirá R$ 1 milhão para cada escola. O anúncio foi feito pelo ministro e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, no Hotel Glória, em evento com Lula.
Estavam presentes à cerimônia Luizinho Drummond (da Imperatriz Leopoldinense), já condenado e preso por ligação com o jogo do bicho, e o prefeito de Nilópolis, Farid Abrão David -irmão de Aniz Abrahão David, o Anízio, presidente da Beija-Flor e preso na Operação Furacão, da Polícia Federal.
Segundo o ministro Gil, o presidente Lula interveio e solicitou o apoio pessoalmente às empresas após ouvir reiterado pedido de ajuda do presidente da Portela, Nilo Figueiredo. "O presidente resolveu fazer esse gesto a partir de apelo do presidente da Portela, que nos últimos encontros pediu socorro três vezes. "Socorro, presidente!" E o presidente: "Vamos ver o que está acontecendo'", explicou o ministro.
O presidente Lula afirmou: "É preciso que as escolas busquem autonomia e, mais que isso, autosuficiência". Cabral disse estar "emocionado" com a iniciativa. Na opinião dele, os recursos vão servir para dar autonomia às escolas.
"Acho muito importante [o apoio], porque as escolas de samba precisam ter autonomia para que as más influências não prejudiquem um patrimônio popular tão querido do povo brasileiro. O apoio generalizado [a todas as escolas] afasta a influência política", afirmou o governador.

Prisões
Em abril, a Polícia Federal prendeu por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho e lavagem de dinheiro o então presidente da Liesa, Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e Aniz Abrahão David, o Anísio, presidente da escola Beija-Flor.
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, minimizou as suspeitas de irregularidades que rodeiam os promotores do samba no Rio e a Liesa. "A Liesa faz contratos com governos, TV e meios radiodifusores há mais de 20 anos. Todo aporte de recursos à comunidade e ações sociais e culturais são fatores inibidores do risco de ilegalidade e convívio com a criminalidade", afirmou ele, para quem a Liesa tem mecanismos de controle da aplicação correta do dinheiro.
O anúncio foi feito antes da cerimônia de formatura de guardas-marinha da Escola Naval, que contou também com a presença do ministro da Defesa, Nelson Jobim.