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Tensão na Raposa aumenta à espera da decisão do STF
Para governador de Roraima, haverá conflito seja qual for resultado de julgamento
Líder arrozeiro ameaça atirar
contra índios em caso de
invasão; para Funai, decisão
sobre Raposa/Serra do Sol
vai afetar outras reservas
Sergio Lima/Folha Imagem
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Indígenas participam de ato de apoio à demarcação da reserva Raposa/ Serra do Sol (RR), ontem, no Ministério da Justiça
LUCAS FERRAZ
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA
Contrários à demarcação
contínua da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima,
o governador do Estado, José
de Anchieta Júnior (PSDB), e o
líder arrozeiro e prefeito de Pacaraima (RR), Paulo César
Quartiero (DEM), afirmaram
ontem que haverá conflito na
reserva, seja qual for a decisão
do Supremo Tribunal Federal.
O governador disse, em Brasília, que está de prontidão para
mobilizar médicos, ambulâncias e helicóptero, após o julgamento amanhã. Quartiero, que
também viajou ontem para
Brasília, afirmou ter orientado
funcionários a atirar em índios,
se houver invasão de fazendas.
"A realidade do Estado hoje é
um clima tenso. Acredito que,
seja qual for o resultado [no
STF], deve ter conflito. O nível
de acirramento está muito
grande", disse Anchieta Júnior,
que prevê conflito entre os próprios índios, porque muitos deles seriam contra a demarcação
contínua. Ele distribuiu um
DVD à imprensa com depoimentos de pessoas contrárias à
demarcação da maneira proposta pelo governo federal.
Três índios falam na gravação, incluindo o macuxi Sílvio
da Silva, que em maio chegou a
mobilizar um grupo de indígenas contra outros índios favoráveis à demarcação contínua.
Silva é presidente da Sodiurr
(Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), grupo que representa esses índios. Apesar de manter,
oficialmente, o discurso da não
violência, ele não descarta confrontos. "Se eles [o CIR] mexerem com a gente, vamos armar
um campo de briga e marcar
um encontro", disse. O CIR
(Conselho Indigenista de Roraima) reúne índios a favor da
reserva em área contínua.
Quartiero, proprietário das
fazendas Depósito e Providência, dentro da terra indígena,
conta ter orientado seus funcionários sobre o que fazer em
uma eventual invasão dos índios em suas propriedades.
"Se entrarem, serão recebidos à bala ou qualquer outra
coisa que tiver. Vamos reagir e
proteger o nosso patrimônio."
No sábado, ele foi à PF denunciar ameaças de invasão,
por parte de um grupo de 300
índios, contra uma de suas propriedades, "independentemente do resultado do julgamento".
O CIR disse que, de fato,
mantém cerca de 300 índios
próximo à fazenda, mas negou
que haja um plano para invadir
a fazenda. Afirmou que os índios estão lá para acompanhar
o julgamento e "fazer uma manifestação na Vila Surumu".
Polêmica
A demarcação da reserva é
um dos temas mais polêmicos a
ser analisado na história do
STF. A área, homologada pelo
presidente Lula em 2005, corresponde a 11 cidades de São
Paulo e está encravada no extremo norte de Roraima. Para o
governador, a terra indígena na
fronteira com Venezuela e
Guiana ameaça a soberania nacional. Ele defende o convívio
entre índios e fazendeiros.
Na região vivem mais de 18
mil índios de cinco etnias, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), com predominância dos macuxi. O imbróglio
sobre a demarcação, se em ilhas
(com a possibilidade de brancos viveram no local) ou contínua (somente com os indígenas), se arrasta há dez anos.
A Funai vê com preocupação
a tendência, conforme reportagem da Folha de ontem, de o
STF buscar um meio termo na
decisão: flexibilizaria a demarcação contínua atendendo à
demanda do Estado e dos arrozeiros, que permaneceriam na
região. "Qualquer mudança [na
demarcação] fere o preceito
constitucional. Se houver brecha, cria-se um precedente
muito perigoso que poderá
ameaçar outras terras indígenas já homologadas", diz presidente do órgão, Márcio Meira.
Apesar da tensão, há apenas
180 policiais no local.
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