São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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FÉRIAS TUCANAS

"Tenho hábitos simples"

Em Paris, FHC lê e faz compras no mercado

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de férias em Paris, tem-se dedicado mais a exposições de arte, leituras e compras de supermercado do que à política.
"A última vez que estive num supermercado foi na campanha eleitoral", diz FHC à Folha, por telefone. Durante as compras, ele não cuida apenas da seleção de vinhos e queijos franceses. "Ajudo a pegar de tudo. Sou uma pessoa de hábitos muito simples, apesar do que dizem no Brasil, e me adapto imediatamente a situações novas. Não fico olhando para trás."
Em Paris, onde fica ao menos dois meses, FHC tem saído às ruas como um cidadão comum, sem o séquito de assessores, policiais e jornalistas que costumava acompanhá-lo. "É muito agradável andar sem gente em volta e sem guarda-costas. Talvez seja esse o maior prazer, apesar do frio", afirma. A temperatura em Paris chegou ontem a 0C.
Às vezes, o ex-presidente e sua mulher, Ruth Cardoso, são parados por turistas brasileiros. "Eles vêm e falam conosco, mas sempre muito naturalmente."
Outras vezes, FHC é reconhecido por franceses, como aconteceu no último domingo, quando foi cumprimentado pela atriz Catherine Deneuve num restaurante. "Ela se aproximou e falou conosco, muito simpaticamente, dizendo que aproveitássemos nossas merecidas férias."
Na terça, em almoço oferecido pelo embaixador Marcos de Azambuja, FHC encontrou-se com o apresentador de TV Jô Soares e o bibliófilo e editor Pedro Corrêa do Lago. "Não falamos de política, só nos divertimos."
O ex-presidente chegou à França no último sábado, acompanhado de Ruth Cardoso e familiares. Embarcou diretamente para o interior da França, onde passou o fim-de-semana num hotel-castelo na região de Chartres. Desde domingo, está instalado num apartamento da elegante avenida Foch, emprestado pelo seu amigo e sócio Jovelino Mineiro.
Em menos de uma semana, FHC visitou duas exposições: do francês Francis Picabia e do italiano Amadeo Modigliani. Lê os jornais "Le Figaro", "Le Monde" e "International Herald Tribune", além de um clipping de notícias brasileiras enviado pela embaixada. "Mas não estou com ansiedade de ficar lendo sobre o Brasil. É preciso dar tempo ao tempo. Não quero ficar me preocupando e me envolvendo com as coisas brasileiras neste momento."
O ex-presidente tem se dedicado também aos livros. Acabou de ler uma obra que recomenda: "Galileu" ("Galilée", ed. Plon), do físico Claude Allègre, ex-ministro da Educação, da Pesquisa e da Tecnologia. FHC pretende voltar à leitura dos clássicos políticos, para um livro que está escrevendo, no qual vai relacionar as idéias de pensadores como Maquiavel a acontecimentos brasileiros e experiências que viveu.
Nos últimos dias, FHC recebeu um ministro espanhol para discutir um relatório propondo a reorganização da Cúpula Ibero-Americana. Ele deverá ir à Espanha se encontrar com o primeiro-ministro José Maria Aznar e à Inglaterra e Itália para conferências. "Mas por enquanto não estou marcando nada, para ao menos nas primeiras semanas não ficar com muita preocupação."
Hoje, janta com Alain Touraine, sociólogo, e Julio Maria Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai.


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