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FÉRIAS TUCANAS
"Tenho hábitos simples"
Em Paris, FHC lê e faz compras no mercado
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de férias em Paris,
tem-se dedicado mais a exposições de arte, leituras e compras de
supermercado do que à política.
"A última vez que estive num
supermercado foi na campanha
eleitoral", diz FHC à Folha, por
telefone. Durante as compras, ele
não cuida apenas da seleção de vinhos e queijos franceses. "Ajudo a
pegar de tudo. Sou uma pessoa de
hábitos muito simples, apesar do
que dizem no Brasil, e me adapto
imediatamente a situações novas.
Não fico olhando para trás."
Em Paris, onde fica ao menos
dois meses, FHC tem saído às
ruas como um cidadão comum,
sem o séquito de assessores, policiais e jornalistas que costumava
acompanhá-lo. "É muito agradável andar sem gente em volta e
sem guarda-costas. Talvez seja esse o maior prazer, apesar do frio",
afirma. A temperatura em Paris
chegou ontem a 0C.
Às vezes, o ex-presidente e sua
mulher, Ruth Cardoso, são parados por turistas brasileiros. "Eles
vêm e falam conosco, mas sempre
muito naturalmente."
Outras vezes, FHC é reconhecido por franceses, como aconteceu
no último domingo, quando foi
cumprimentado pela atriz Catherine Deneuve num restaurante.
"Ela se aproximou e falou conosco, muito simpaticamente, dizendo que aproveitássemos nossas
merecidas férias."
Na terça, em almoço oferecido
pelo embaixador Marcos de
Azambuja, FHC encontrou-se
com o apresentador de TV Jô Soares e o bibliófilo e editor Pedro
Corrêa do Lago. "Não falamos de
política, só nos divertimos."
O ex-presidente chegou à França no último sábado, acompanhado de Ruth Cardoso e familiares.
Embarcou diretamente para o interior da França, onde passou o
fim-de-semana num hotel-castelo na região de Chartres. Desde
domingo, está instalado num
apartamento da elegante avenida
Foch, emprestado pelo seu amigo
e sócio Jovelino Mineiro.
Em menos de uma semana,
FHC visitou duas exposições: do
francês Francis Picabia e do italiano Amadeo Modigliani. Lê os jornais "Le Figaro", "Le Monde" e
"International Herald Tribune",
além de um clipping de notícias
brasileiras enviado pela embaixada. "Mas não estou com ansiedade de ficar lendo sobre o Brasil. É
preciso dar tempo ao tempo. Não
quero ficar me preocupando e me
envolvendo com as coisas brasileiras neste momento."
O ex-presidente tem se dedicado também aos livros. Acabou de
ler uma obra que recomenda:
"Galileu" ("Galilée", ed. Plon), do
físico Claude Allègre, ex-ministro
da Educação, da Pesquisa e da
Tecnologia. FHC pretende voltar
à leitura dos clássicos políticos,
para um livro que está escrevendo, no qual vai relacionar as idéias
de pensadores como Maquiavel a
acontecimentos brasileiros e experiências que viveu.
Nos últimos dias, FHC recebeu
um ministro espanhol para discutir um relatório propondo a reorganização da Cúpula Ibero-Americana. Ele deverá ir à Espanha se
encontrar com o primeiro-ministro José Maria Aznar e à Inglaterra e Itália para conferências. "Mas
por enquanto não estou marcando nada, para ao menos nas primeiras semanas não ficar com
muita preocupação."
Hoje, janta com Alain Touraine,
sociólogo, e Julio Maria Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai.
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