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QUESTÃO INDÍGENA
Ministério da Justiça reafirma que reserva será homologada, mas vai discutir retirada dos não-índios
Fazendeiros liberam rodovias em Roraima
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de quatro dias de bloqueio, as rodovias de Roraima foram liberadas ontem pelos fazendeiros que protestam contra a homologação da reserva indígena
Raposa/Serra do Sol após a negociação com um "gabinete de crises" criado pelo governador.
A liberação ocorreu por volta
das 12h (hora local, 14h em Brasília), horas antes de o governador
Flamarion Portela (que se afastou
do PT) se reunir em Brasília com
o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Ele está incentivando as manifestações, junto aos fazendeiros",
disse Jacir José da Silva, coordenador do CIR (Conselho Indígena
de Roraima), que defende a homologação da reserva. O secretário de Segurança Pública, Francisco Sá Cavalcanti, disse que houve
apenas um trabalho de convencimento junto aos manifestantes.
"Mostramos a eles que o objetivo
maior, chamar a atenção do Brasil
para a situação de Roraima, já tinha sido atingido, tanto que o governador ia lá conversar com o
presidente em Brasília", disse.
O Ministério da Justiça, porém,
não cedeu aos apelos do governador e da bancada federal do Estado na reunião e manteve a homologação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol, mas criou um
comitê de transição para discutir
a retirada dos não-índios da área.
"Houve uma posição autocrática do governo federal no sentido
da homologação contínua, já que
a bancada veio apenas para ser informada. Não houve consideração aos pleitos que a bancada
apresentou", resumiu o deputado
Alceste Almeida (PMDB).
Márcio Thomaz Bastos interrompeu a reunião com a bancada
a chamado do Planalto. A Folha
apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de dizer a Flamarion que é uma decisão de governo homologar a reserva de forma contínua. Em entrevista no Planalto, Bastos declarou: "Temos o referencial de janeiro para a homologação, mas
pode ser que não saia".
Como medida compensatória
pela homologação, Flamarion e
os parlamentares pediram a cessão de 5 milhões de hectares de
terras federais para o Estado. Essa
área serviria para assentar os produtores de arroz que estão no interior da reserva e receberia, também, empresas rizicultoras.
A reserva ocupa uma área de
1,75 milhão de hectares, dos quais
15 mil são utilizados por não-índios. Com a homologação, os
não-índios precisam deixar a
área. O impasse hoje é justamente
para onde eles irão. Os 5 milhões
pedidos pela bancada pertencem
ao Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária),
que exige do governador a elaboração de um plano de uso para a
terra. A Folha apurou que o governo federal resiste à idéia de
transferir terras para Roraima.
Protestos
Desde terça-feira, agricultores e
índios contrários à homologação
da área promovem uma série de
protestos em Roraima, com a
ocupação de prédios públicos e o
bloqueio de estradas. O estopim
foi a declaração do ministro Márcio Thomaz Bastos, dada em 22 de
dezembro, de que a homologação
ocorrerá ainda neste mês.
Na quarta-feira, o governador
criou o Gabinete Provisório de
Gerenciamento de Crises para
tentar debelar a crise. O secretário
de Segurança, na condição de presidente do gabinete provisório,
comandou as conversas com os
manifestantes, que resultaram na
suspensão dos bloqueios.
Ontem à noite, o Movimento
Pró-Roraima, que reúne os manifestantes contrários à criação da
reserva em área contínua, anunciou na noite de ontem que irá pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a nulidade do processo de
homologação da reserva.
"Achávamos que seria mais fácil
resolver a questão pela via política. Como não deu certo, vamos
tentar a via jurídica", disse Dirceu
Vinhal, presidente da cooperativa
Grão-Norte e um dos líderes do
movimento. Segundo o advogado
dos manifestantes, Luiz Travassos, houve uma série de "vícios"
no processo de homologação que
podem levar à sua nulidade. Ele
afirma que o processo não levou
em conta a existência de dois municípios na área da Raposa/Serra
do Sol -Pacaraima e Uiramutã.
O movimento ainda não havia
decidido, até o fechamento desta
edição, se voltaria a bloquear as
rodovias do Estado em protesto
contra a decisão do ministro sobre a homologação da reserva.
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