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Vannuchi ameça sair se plano for alterado
Ministro diz que pedirá demissão a Lula se modificação em programa de direitos humanos incluir punição a torturado
"Meu pedido de demissão
não abala o Brasil", afirma
Vannucchi, para quem
"é diferente investigar
torturador e torturado"
Alan Marques - 21.dez.09/Folha Imagem
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Ministro Paulo Vannuchi, na cerimônia de lançamento do Programa Nacional e Direitos Humanos
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse ontem à Folha que é
"um fusível removível" no governo e pedirá demissão caso o
terceiro Programa Nacional de
Direitos Humanos seja alterado para permitir a investigação
de militantes da esquerda armada durante a ditadura militar (1964-1985), como exigem o
ministro da Defesa, Nelson Jobim, e as Forças Armadas.
"A minha demissão não é
problema para o Brasil nem para a República, o que não posso
admitir é transformarem o plano num monstrengo político
único no planeta, sem respaldo
da ONU nem da OEA", disse.
Ele condena a tentativa de
colocarem no mesmo nível torturadores e torturados. Uns
agiram ilegalmente, com respaldo do Estado, os outros já foram julgados, presos, desaparecidos e mortos, comparou o secretário, citando o próprio presidente Lula, que foi julgado e
condenado a três anos (pena
depois revista) por liderar greves no ABC.
Lula volta ao trabalho amanhã espremido entre o amigo e
assessor de mais de 30 anos e
ministros como Jobim e Reinhold Stephanes (Agricultura),
que têm sido críticos ácidos do
plano de direitos humanos, ao
lado de outros setores, como a
Igreja e a imprensa.
Vannuchi aposta que Lula
tentará uma opção intermediária: "O presidente Lula é construtor de caminhos de meio
termo. Mas, se não for possível,
não posso ficar. Vou optar pelo
caminho da Dona Lindu [mãe
de Lula]: sempre de cabeça erguida", disse.
Não é a primeira ameaça de
demissão no governo por causa
do plano. A primeira crise surgiu em dezembro quando os comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Aeronáutica, brigadeiro Juniti
Saito, fizeram a mesma ameaça
só que por motivos opostos.
A pressão era para que Lula
revogasse trechos do plano que,
entre outras coisas, cria uma
"comissão da verdade" para
apurar torturas. Os militares
classificaram o documento como "excessivamente insultuoso, agressivo e revanchista" às
Forças Armadas.
Ficando ou saindo, Vannuchi
diz que o saldo do plano já é amplamente positivo, "porque
provocou um intenso debate
interno sobre Direitos Humanos, abarcando as posições dos
mais diferentes setores. Que
sejam necessários ajustes, não
me oponho, mas há limites".
Segundo ele, "as críticas são
desproporcionais e baseadas
em interpretações equivocadas". Na sua opinião, o plano
"não é uma peça da esquerda
radical, é uma construção que,
eventualmente, contém imperfeições e até erros, mas fundamentada em elementos essenciais da democracia".
Um dos equívocos que aponta foi cometido, segundo ele,
por Stephanes e pela senadora
Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura. Para Vannuchi, "não é possível ser contra o agronegócio, como eles dizem, mas é preciso garantir que
não oprima, não viole, não asfixie a agricultura familiar e o
médio produtor".
Nos itens sobre a descriminalização do aborto, ele admite
mudanças para deixar o texto
mais aberto, menos específico.
Esse é um ponto nevrálgico,
porque produziu uma reação
firme da Igreja, aliada da causa
dos Direitos Humanos.
O centro da discussão, porém, está na questão militar.
Vannuchi e Jobim concordam
num ponto: o plano não propõe
o fim da Lei da Anistia, tanto
que o item dois do capítulo 6 cita a lei, reconhecendo, portanto, sua legitimidade. "Pena que
cita o número e a data da lei, e
as pessoas não reconheceram
ali a Lei da Anistia", disse Vannuchi.
Ele passou ontem pelo menos duas horas, lendo tanto as
críticas que se avolumam nos
jornais quanto o próprio texto,
para fazer uma autocrítica: "Estou revendo ponto por ponto,
com reflexão, com humildade,
mas a decisão é do presidente
Lula".
De férias numa praia, Vannuchi aguarda a convocação do
presidente a qualquer momento para debate o plano. É possível que isso ocorra simultaneamente ou logo depois da reunião de Lula com Jobim para o
debate do plano. A tensão é nítida dos dois lados.
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