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JANIO DE FREITAS
Cavalos de Tróia
Embora não tenha merecido o
interesse da imprensa brasileira,
a notícia espetacular dada pelo
"Washington Post" e pelo "Boston
Globe", na semana passada, contém uma advertência que aos brasileiros conviria muito levá-la em
conta.
Os dois jornais revelaram que o
governo americano infiltrara, de
fato, espiões na comissão da ONU
incumbida de investigar a existência, ou não, de armas bacteriológicas ou venenosas em qualquer
lugar do Iraque.
Por duas vezes os iraquianos
acusaram a comissão e forçaram
sua saída. Os governos de Bill
Clinton e do inglês Tony Blair negaram veracidade à acusação e a
atribuíram ao propósito de impedir a procura das armas. Por duas
vezes, em represália, o povo iraquiano foi atacado, e morreram
milhares deles, inclusive crianças,
havendo ainda mais milhares de
feridos e inválidos.
Saddam, o ditador, dizia a verdade, porém. Mas a ferocidade
dos ataques, ordenados pelos próprios infiltradores dos espiões,
chegou ao ponto de aviões americanos e ingleses destruírem, na semana do Natal, dia 21, até os depósitos de alimentos da ONU. Para impedir, como parte adicional
da represália, o programa de auxílio às populações mais depauperadas pelo bloqueio econômico,
exercido por americanos e ingleses.
Do ponto de vista da moralidade pessoal, as ações dos EUA e da
Inglaterra seriam uma violação
da ética, que, no entanto, não
existe entre nações. De uma nação para outra, só existem interesses. E os meios de buscá-los são
apenas dois: a força e as táticas da
hipocrisia. Muitas vezes combinados.
O Brasil tem aceitado sem questionamento, sem nenhum tipo de
exame, as novas teorias que lhe
são dirigidas, para sua abertura
incondicional aos capitais estrangeiros, mesmo que meramente especulativos, em detrimento do capital brasileiro. Para despojar-se
de concepções estratégicas, orientadoras de tudo nos países fortes,
e desfazer-se de todo o seu patrimônio, inclusive as perecíveis riquezas naturais. E o mais que temos visto ocorrer ou nos ser proposto.
O cavalo de Tróia pode ser de
madeira, ou ser uma comissão
criada com as melhores finalidades, ou ser uma teoria de política
econômica e de geopolítica como
a teoria da globalização, ou outra
de tantas modalidades já experimentadas. Sobre as quais a história é farta, e, nos nossos tempos,
de vez em quando o jornalismo ou
um livro ("Inside the CIA", por
exemplo) acrescenta capítulos
que chegam a parecer ficção.
Cavalos de Tróia, quaisquer que
sejam, não constroem nações. Seu
propósito é estender a zona de influência, controle e utilização
econômica. Dominação. Um processo que tem se acelerado muito.
E no qual o Brasil não pensa, seja
no que é hoje, seja no que resultará a prazo longo.
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