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BRASIL PROFUNDO
Irmã de Paulo César Farias é proprietária; funcionários dizem que ex-deputado Augusto Farias é o administrador
Fazenda da família de PC mantinha escravos
MAURO ALBANO
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Fiscais do Ministério do Trabalho e agentes da Polícia Federal localizaram no fim de semana 34
trabalhadores em situação análoga à escravidão durante uma blitz
em fazenda da família de Paulo
César Farias, o PC, em Santana do
Araguaia (1.032 km de Belém, no
sul do Pará).
Além deles, outros 83 empregados da fazenda estavam submetidos a regime semelhante, mas foram retirados do local na semana
passada e enviados a pensões de
Redenção, a cerca de 300 quilômetros da fazenda. Segundo os
trabalhadores, a intenção da direção da fazenda era justamente
"driblar" a fiscalização.
A fazenda, chamada Santa Ana
Agropecuária Industrial, é uma
sociedade anônima que tem como presidente Eleusa Maria Cavalcante Farias Leôncio, irmã de
PC (morto em 1996) e do ex-deputado federal Augusto Farias
(PPB-AL).
Os trabalhadores da Santa Ana
disseram ainda que a fazenda seria administrada por Augusto Farias, que a visitava frequentemente, e que ele teria abandonado a
região na véspera da blitz. Fiscais
federais, que chegaram ao local na
sexta-feira à noite, não puderam
confirmar a informação.
A equipe do grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho vai exigir o pagamento dos direitos trabalhistas do grupo de 117
peões. A maioria deles não tinha
carteira de trabalho assinada.
Três deles estavam escondidos
em uma área de desmatamento
que não teria sido autorizada pelo
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), segundo o
ministério. Foram apreendidas 25
motosserras. O advogado da fazenda afirmou que a derrubada
das árvores estava autorizada (leia
texto nesta página).
De acordo com os fiscais, os trabalhadores da fazenda se encontravam na situação chamada "escravidão por dívidas": eram obrigados a se endividar com os capatazes para pagar por artigos que o
próprio fazendeiro deveria fornecer. Na Santa Ana, os peões precisavam pagar o aluguel das redes
que usavam para dormir.
Como eles estavam devendo
sempre mais do que deveriam receber, seu serviço não era pago
-ou era pago apenas parcialmente. A maior parte dos peões
trabalhava lá desde outubro do
ano passado. Eles disseram ter sido contratados para derrubar
parte da mata da fazenda a R$ 140
por alqueire.
Os trabalhadores também não
tinham como abandonar a fazenda: a estrada de asfalto mais próxima está a 160 quilômetros de
distância. A condição em que os
peões se encontravam foi descrita
como "subumana" pelos fiscais e
pelos agentes. Eles não tinham
água potável e sua comida estava
acondicionada em latões.
A blitz na Santa Ana foi a sexta
ação de combate ao trabalho escravo do governo Luiz Inácio Lula
da Silva. Nas cinco fiscalizações
anteriores -realizadas a partir de
janeiro no Pará, Mato Grosso e
Maranhão-, 387 trabalhadores
foram libertados.
Na última sexta, o ministro Jaques Wagner (Trabalho) declarou
que o governo vai lutar pelo aprovação de uma emenda constitucional que prevê o confisco de terras cujos proprietários tenham
utilizado mão-de-obra escrava.
O secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda,
calcula que existam 25 mil brasileiros submetidos ao trabalho
análogo à escravidão. O sul do Pará e o norte do Mato Grosso são as
regiões onde esse tipo de exploração é mais frequente.
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