São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

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Bush manifesta preocupação com Chávez

Afirmação foi feita em conversa reservada com Lula; publicamente, o presidente dos EUA não quis falar sobre o tema

Norte-americano exalta liderança do brasileiro na AL; "respeitamos as opções políticas e econômicas de cada país", diz o petista


ELIANE CANTANHÊDE
EDUARDO SCOLESE EM SÃO PAULO

Embora não tenha se manifestado publicamente sobre Hugo Chávez, o presidente George W. Bush seguiu o script e falou a Lula da sua preocupação com a ascendência do presidente da Venezuela sobre outros países da América do Sul. Segundo a Folha apurou, Bush concluiu que disso depende a estabilidade do continente.
Lula, também de acordo com o script, não alimentou a discussão sobre Chávez. Ele mais ouviu do que falou e, quando falou, foi para defender os países da América do Sul.
Ele disse a Bush que há desigualdades sociais graves e históricas e citou como exemplo de reivindicações justas o presidente boliviano Evo Morales, que é um dos principais aliados de Chávez, mas também tem se aproximado muito do Brasil.
Lula disse que a Bolívia é um país muito pobre e que precisa de ajuda dos países ricos para se desenvolver.

"Nações independentes"
Apesar de Bush ter evitado publicamente o tema Chávez, Lula saiu em defesa do venezuelano em declaração conjunta à imprensa. O brasileiro não citou Chávez nominalmente, mas disse que "todos" os governantes sul-americanos foram eleitos de forma democrática e sabem respeitar as "opções" políticas e econômicas dos demais países do continente.
Logo no início do trecho lido de seu discurso, olhando para o colega americano, o petista disse que já acabou o tempo das "ditaduras" na América do Sul e que, atualmente, "todos" os governos do continente são "resultados de eleições livres".
Os EUA foram, seguidas vezes, acusados de apoiar, inclusive financeiramente, opositores a Chávez na Venezuela.
"As ditaduras que infelicitaram a região por duas décadas são uma dolorosa recordação do passado. Todos os governos sul-americanos são resultados de eleições livres, com ampla participação popular. Todos estão empenhados em projetos de crescimento, com distribuição de renda, capazes de pôr fim à terrível desigualdade social que herdamos, agravada por aventuras macroeconômicas passadas", disse Lula.
"Nossa integração se dá entre nações independentes, onde a diversidade e a tolerância também são uma força. Respeitamos as opções políticas e econômicas de cada país e isso nos tem permitido avanços notáveis", completou.
Em sua fala, como forma de contraponto a Chávez, Bush escalou Lula como o principal líder da América do Sul. Disse que, ao redor do mundo, costuma ouvir elogios ao brasileiro e que, no final do ano passado, ficou feliz com a reeleição do "amigo". Em outro recado ao venezuelano, disse que a democracia brasileira é um exemplo.
"É bom dizer que meu bom amigo [Lula] ganhou as eleições, porque isso mostra que a democracia está viva e bem no Brasil. O Brasil serve de exemplo para outras democracias."
Houve insistência da imprensa para que Bush falasse sobre o venezuelano, mas ele desconversou.
"Trago aqui a boa vontade dos Estados Unidos para a América Latina (...) Essa viagem serve para que eu explique da melhor maneira possível que os Estados Unidos são generosos e têm compaixão."
Na entrevista, Lula disse a Bush que os países em desenvolvimento não esperam ajuda financeira, mas projetos para investimentos. Bush respondeu ao petista: "Eu reconheço que dinheiro apenas não é prova de compaixão e de carinho para as pessoas", citando a seguir ajuda financeira para programas de educação e saúde.


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