São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No almoço, Bush e Lula discutem futebol

Presidentes dos EUA e do Brasil preferiram imprimir um ambiente mais informal durante a refeição e trocar elogios

Mandatário dos EUA diz que reconheceu governador José Serra dos tempos em que ele era ministro da Saúde e combatia patentes


ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

O presidente George W. Bush criou um contraste: sério e atento durante a reunião de trabalho, fez questão de ser informal e brincalhão no almoço entre as duas equipes. Falou de futebol, elogiou a carne brasileira e encerrou com uma frase de efeito: "Este é um país espetacular".
O grande assunto foi biocombustível, inclusive com o governador José Serra mostrando que São Paulo produz cerca de 75% dos 3,5 bilhões de litros exportados anualmente pelo Brasil e defendendo investimentos pesados dos EUA em pesquisa nessa área.
Serra foi reconhecido pelo presidente Bush da época em que era ministro da Saúde do governo FHC e combateu as patentes da indústria farmacêutica americana dos remédios contra a Aids. Ele também perguntou para o governador como era dirigir uma cidade como São Paulo.
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) reclamou da taxação do produto nos EUA, e Serra aproveitou o embalo para criticar a medida, tentando explicar o complexo sistema tributário brasileiro.
Bush e Lula, porém, preferiram imprimir um ambiente mais informal e trocar elogios. O adjetivo "estratégica" para definir as relações entre os dois países foi ouvida várias vezes.
Em certo momento, Bush perguntou sobre os times de futebol de São Paulo. Serra foi o primeiro a responder: "O melhor de todos é o Palmeiras, mas tem também o Corinthians, do presidente [Lula]". O chanceler Celso Amorim emendou: "E o Santos".
Quem arrematou a conversa foi o gaúcho Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência: "E quem é o campeão do mundo? O Internacional".
Lula não perdeu a chance de falar sobre o seu assunto predileto e disse que os craques brasileiros ganham fortunas na Europa. Contou, inclusive, de um menino que já tem um pré-contrato para ganhar R$ 15 mil quando atingir a idade mínima para jogar.
Lula elogiou o filé mignon com molho de pimenta, acompanhado de ratatouille de legumes, e perguntou se o ponto era mais cru ou mais bem passado do que nos EUA. Condoleezza Rice encerrou diplomaticamente o debate que se seguiu: na sua terra, Alabama, é "exatamente como o de hoje, aqui".
Bush também comeu a entrada, camarão com trouxinhas de legumes, mas dispensou os doces -dacquoise de coco e mousse de maracujá- preferindo comer frutas de sobremesa: melancia, mamão e melão. Também não quis vinho branco nem tinto. Só tomou Coca-Cola diet e, piscando o olho, "roubou" o pãozinho de Condoleezza, que sentava ao seu lado.
Surpreso com o tom das conversas e com a descontração, o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) cochichou com o embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota, que acaba de assumir o cargo: "Que belo momento para ser embaixador nos EUA..."
Lula preferiu falar mais da América Latina, lamentando as décadas de espoliação da região, destacando os processos democráticos e defendendo, particularmente, Evo Morales Bolívia), um dos principais aliados do venezuelano Hugo Chávez -inimigo número um de Bush na América do Sul.


Texto Anterior: Americanas
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.