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ENTREVISTA / ANTONIO PALOCCI FILHO
Terei oportunidade de demonstrar que nunca quebrei o sigilo de ninguém
Ex-ministro rebate acusação da Procuradoria Geral da República de ter violado sigilo bancário do caseiro Francenildo e diz ter sempre agido com respeito à lei
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro da Fazenda e deputado federal Antonio Palocci Filho (PT-SP) rebateu o
principal argumento do Ministério Público para sustentar
que seria "indubitável" sua participação na quebra do sigilo
bancário do caseiro Francenildo Costa -episódio que o tirou
do governo Lula em 2006.
Em denúncia ao STF, oferecida em 22 de fevereiro passado, a Procuradoria Geral da República disse que houve trocas
de telefonemas no dia da violação entre Palocci e auxiliares,
apontando proximidade dos
horários das ligações com a
quebra do sigilo. "Seria estranho se eu não tivesse telefonemas com meus assessores",
afirmou o ex-ministro.
Segundo Palocci, ele terá "só
agora" a "oportunidade" de se
defender devido ao "ordenamento do processo" no STF.
"Vou demonstrar que não quebrei sigilo de ninguém." O ex-ministro disse que não se estenderia nos comentários porque prejudicaria sua defesa.
Para o principal auxiliar econômico de Lula no primeiro
mandato, a queda do dólar "vai
assustar", mas não afetará o ritmo de crescimento do Brasil.
FOLHA - Quais serão os efeitos da
crise mundial que nasce de uma fragilidade na economia dos EUA?
ANTONIO PALOCCI FILHO - Se a crise
se aprofundar, o mundo pode
se tornar mais protecionista, o
que será um retrocesso. A crise
é grave, mas o ciclo de crescimento mundial não parece que
será interrompido, pois há incorporação de produtividade
enorme nos emergentes e
avanços em pesquisa e desenvolvimento nos países ricos. A
abertura comercial aumentou
muito a transferência de tecnologia, o que leva a ganhos de
produtividade generalizada.
Por isso o ciclo é tão longo. Mas
ainda é cedo para fazer previsões definitivas. Os mercados
de crédito e os mercados de
ações estão muito afetados.
FOLHA - O Brasil se descolou da crise mundial?
PALOCCI - O Brasil engatou uma
fase de crescimento econômico
que pode durar dez anos. O
Brasil vingou porque eliminou
os três fatores de risco que geraram as nossas últimas dez
crises: a inflação, o resultado
fiscal e a dívida em moeda estrangeira. Hoje, há equilíbrio
fiscal. Na prática, acabou a dívida em moeda estrangeira. E
controlamos a inflação. No fiscal, o governo está entregando
as metas ano a ano. A dívida pública está em trajetória descendente. Nas últimas décadas,
nunca tivemos uma combinação de fatores tão favorável.
FOLHA - A inflação, que ameaçou
subir, pode ser um problema?
PALOCCI - A inflação sempre terá que ser vigiada de perto. Ela
tem sido um problema para
muitos países, pelo preço dos
alimentos e de outras commodities. No Brasil, ela terá que
ser acompanhada, mas o Banco
Central já mostrou que sabe
agir quando é preciso.
FOLHA - Há quem veja risco de faltar energia para sustentar esse ciclo
de crescimento.
PALOCCI - Não acho que faltará
energia, desde que tenhamos
maciços investimentos nos
próximos meses e anos, na medida em que faz muito tempo
que não temos um ciclo tão longo de crescimento.
FOLHA - A queda do dólar comprometerá o crescimento da economia?
PALOCCI - Não creio. Esse novo
momento de queda vai assustar, mas há muitos setores
transformando o fato em oportunidade, adquirindo equipamentos e insumos que trarão
grandes ganhos de produtividade. A modernização das empresas brasileiras veio para ficar e inclui aumento de produtividade, acesso ao crédito e ao
mercado de capitais, melhora
de governança, esforço exportador e investimento dentro e
fora do Brasil.
FOLHA - O BC não deveria voltar a
baixar os juros?
PALOCCI - Seria muito bom que
um dia pudesse fazê-lo. Mas
não me parece que este dia esteja num curto horizonte.
FOLHA - Qual será a fotografia histórica do governo Lula?
PALOCCI - Oito anos de Lula farão muito bem ao Brasil. Racionalidade econômica e forte
preocupação social resultarão
numa bela arrumada em nossa
distribuição de renda. O povo
trabalhador está tendo ganhos
importantíssimos. Não só os
trabalhadores. As empresas
brasileiras nunca estiveram tão
bem. O Brasil também melhorou em outros governos. Não
há dúvida de que este período
marcará a história do Brasil,
mas ainda há muito o que fazer.
FOLHA - No poder, PT e PSDB aplicaram receitas semelhantes. Não
deveriam fazer uma aliança em vez
de se matar no dia-a-dia?
PALOCCI - Fazer ou não uma
aliança é uma questão que depende de muitos fatores. Mas
não tenho dúvidas de que o
Brasil se beneficiaria se entre
governo e oposição houvesse
um clima mais construtivo. As
disputas eleitorais fazem parte
da democracia. Mas isso não
deveria impedir um esforço comum em torno dos grandes temas para realizar as reformas
pendentes. Elaborar algumas
regras de política fiscal de longo prazo seria muito bom também. Grandes temas, que dizem respeito a questões estratégicas e institucionais, deveriam receber um tratamento
suprapartidário. Infelizmente
o clima de diálogo para construção de políticas anda muito
restrito.
FOLHA - A polícia e a oposição suspeitam de acordo do sr. com Rogério
Buratti para que ele retirasse as acusações sobre sua gestão como prefeito em Ribeirão Preto.
PALOCCI - Não falo com ele desde antes da primeira denúncia.
O que o levou a fazer isso agora
só pode ser esclarecido por ele.
FOLHA - Na denúncia ao STF, a Procuradoria Geral da República disse
ser "indubitável" sua participação
na violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa.
PALOCCI - Só agora terei oportunidade de me defender, pelo
ordenamento do processo. Vou
demonstrar que não quebrei sigilo de ninguém. Aliás todos sabem que meu trabalho no Ministério da Fazenda foi de rigidez na política econômica e de
absoluto respeito à lei. Mesmo
porque não seria possível fazer
uma coisa sem a outra.
FOLHA - A denúncia aponta cruzamento de telefonemas entre o sr.,
seu assessor e o presidente da Caixa,
Jorge Mattoso, no dia da quebra do
sigilo bancário do caseiro.
PALOCCI - Seria estranho se eu
não tivesse telefonemas com
assessores e autoridades vinculadas ao Ministério da Fazenda.
Não vou falar mais deste assunto. Pode atrapalhar minha defesa. Procure meu advogado.
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