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FHC faz defesa do resgate do liberalismo
Em palestra, ex-presidente diz que discussão no Brasil é se haverá "capitalismo burocrático-corporativo" ou "de competição"
Numa sociedade em que o Estado "é enorme e vai continuar sendo", é preciso valorizar as liberdades individuais, afirma tucano
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que a "verdadeira discussão" no Brasil hoje é se teremos
um capitalismo "burocrático,
corporativo", em que o Estado
"manda e resolve", ou um "capitalismo de competição", de
clara orientação liberal.
Apresentado como "eterno
professor", FHC falou a 70 pessoas, que pagaram R$ 100 para
ouvi-lo, na Casa do Saber, no
Rio. Indagado por que "direita"
e "liberal" eram consideradas
palavras "feias", brincou: "Liberal e de direita, eu acho feio".
Ele defendeu o resgate do
conceito original de liberalismo, de defesa das liberdades do
indivíduo e da autonomia da
sociedade, num país que "acha
que Estado é igual à nação" e no
qual o direito individual "vem
depois da ideia do coletivo".
"No marxismo, o Estado é
visto como expressão da classe
dominante. Aqui ele é o libertador da nação, o que inverte as
coisas. Já faz tempo que se sabe
que competição não significa
sufocar liberdade", disse.
Depois, lembrou que o liberalismo e o conservadorismo
foram "desmoralizados" ainda
no Império, por viverem "montados na escravidão". Mas o "liberal típico não é de direita",
ressaltou: nos EUA a palavra
quer dizer "progressista".
"É preciso um pouco mais de
liberalismo no bom sentido,
não contraditório com a ação
social do Estado", explicou-se.
O ex-presidente introduziu o
tema ao ironizar o PT por romper a defesa que fazia, na Assembleia Constituinte (1987-1988), da pluralidade sindical.
Disse que o governo Lula "impôs a unicidade" e cooptou as
centrais, ao legalizá-las e estabelecer "ligação direta entre
cofre público e cofre sindical".
"Dá a impressão de que essas
formas corporativas se comunicam mais facilmente com o
sistema decisório político do
que a multiplicidade de opiniões, o debate aberto."
A palestra tratou do fosso entre a "opinião pública" e o poder. FHC lembrou que por décadas os partidos foram o elo
principal entre as classes e sua
representação política.
Hoje, disse, "mesmo que ainda haja distinção entre possuir
e não possuir", a sociedade "é
muito mais fragmentada em
seus interesses". "Achávamos
que o florescimento da sociedade seria retransmitido aos partidos e ao poder, mas isso não
parece acontecer."
Para ele, embora as informações circulem mais rápido, a
ideia de "deliberação consciente" do eleitor deu lugar a uma
identificação de sentimentos
que, embora brote também de
interesses concretos, surge no
calor das campanhas.
"Ao invés de você ter um papel menor do indivíduo, ele é
maior. [Barack] Obama ganhou
porque simbolizou algo, o Lula
se elegeu assim também."
À plateia desejosa de medir
chances de mudança num sistema político que "olha com
desdém" FHC disse que é preciso "lideranças morais, aceitas
como virtuosas", para acelerar
fatores de "ignição" das transformações. Disse que isso é
mais difícil quando a situação
econômica é boa.
À Folha o ex-presidente disse que na atual campanha o
"ponto de interrogação" é sobre quem "terá capacidade de
sintonizar com a sociedade".
"Você sabe que eu tenho candidato. O que tem que ser feito no
Brasil ele vai ter que dizer."
Hesitando entre o político e
o sociólogo, FHC rebateu um
ouvinte que criticou o Legislativo. Disse que "o baixo clero
dominou de tal maneira que
hoje não tem mais alto clero",
mas viu um ponto positivo. "A
camada que começa a mandar
é nova. O próprio sindicalismo,
sociologicamente é uma nova
gente. Sem a erudição dos antigos, expressam o novo Brasil."
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